[Olhando para Os Comedores de Batatas,
de Van Gogh]
Poema de Luiz Martins da Silva. Fotos: Kim-Ir-Sem
Todos os dias eu penso nessa gente
De casinholas e carrancas franciscanas,
Cenhos de boi zebu.
Os dedos encardidos dos ofícios
Das minhas e goiases ( * );
As unhas pretas dos artífices;
O martelo do sapateiro;
A botina do lavrador;
O ar de respeito;
A roupa de algodão cru;
A informação prestativa;
O orgulho, sim senhor.
Todos os dias eu penso nessa gente,
Em sua longa oração de roçados.
Penso em suas plantações de sonhos;
A música alegre para os ouvidos,
Dos grãos no beneficiamento;
Da produção enchendo tonéis,
Do acúmulo que vai para o estômago
E o dedilhar de tudo isso nos moldes de viola.
Todos os dias eu penso nessa gente
E em suas manias de assentar tijolos;
De atirar telhas para o alto
E de noite contemplar réstias de lua
A se intrometerem entre as pencas
De colheitas e de filhos.
Todos os dias eu penso nessa gente
Meus irmãos de abóbora, cabaça e umbigo,
Que até parecem que desejam estar comigo,
Mas em cheiros estão mais para congênitos,
Primos primeiros do feijão e do milho
* O termo Goiás vem dos guayases, índios da região ao tempo dos bandeirantes.