Com capacidade para 72 mil espectadores, Mané Garrincha vai realizar o jogo de abertura para a torcida brasiliense. Apenas 420 estrangeiros e 13.090 brasileiros provenientes de outros estados deverão prestigiar a abertura da Copa das Confederações. Foto Uol


Por Chico Sant’Anna

Em termos de atração de turistas, a abertura da Copa das Confederações vai ser um fiasco para Brasília. Apesar da construção do maior e mais caro estádio de todas as doze sedes do Mundial de Futebol, a Capital Federal terá uma platéia essencialmente candanga para o jogo Brasil e Japão: de cada 10 torcedores que estarão no Mané Garrincha, mais de oito são residentes no Distrito Federal, segundo informou a FIFA.

A Fifa divulgou na quinta-feira, 6/6, que apenas 0,6% dos ingressos vendidos para a abertura da Copa das Confederações foram comprados por estrangeiros. Isso significa que a Capital Federal, que investiu R$ 1,5 bilhão apenas no estádio, vai receber um grupo de 420 turistas estrangeiros, provavelmente japoneses.

 

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Brasília é a cidade com a menor demanda estrangeira de ingressos, com apenas 0,6% das aquisições por cidadãos de outros países. Fortaleza foi o município mais procurado por torcedores de outras nacionalidades, que compraram 4,7% das entradas para as partidas disputadas na capital cearense.

Cidade Locais Nacionais Estrangeiros
Brasília

80,7%

18,7%

0,6%

Salvador

74,2%

24,3%

1,5%

Recife

84,5%

13,4%

2,1%

Belo Horizonte

80,3%

16,6%

3,1%

Rio de Janeiro

65,3%

31,1%

3,6%

Fortaleza

69,3%

26,1%

4,7%

Brasil (média)

73,6%

23,5%

2,9%

De maneira geral, a Copa das Confederações se revelou um evento para brasileiros e de baixa atração de turistas internacionais. No total, apenas 2,9% dos ingressos de todo o torneio foram vendidos para estrangeiros. Provavelmente, a expectativa de atrair até 2014 8 milhões de turistas estrangeiros por ano deve ser revista pelo governo.

Mas a performance de Brasília chama ainda mais a atenção por apresentar uma média cinco vezes menor do que o comportamento nacional, logo ela que vai sediar a abertura, que normalmente chama mais turistas por conta da beleza do espetáculo da cerimônia inaugural.

Atrações turísticas

Pelos cálculos da FIFA, além dos 420 estrangeiros, a cidade receberá 13.090 turistas brasileiros provenientes de outros estados. Esta baixa atração de turistas estrangeiros e mesmo de brasileiros deve acender a luz amarela dentro do GDF.

Ela demonstra que não basta eventos pontuais para tornar a Capital Federal um pólo de atração turística. Em primeiro lugar, em se tratando de viagens internacionais, os governos local e federal precisam estabelecer novas freqüências aéreas chegando do exterior direto a Brasília. Por questão de tempo e custo, os turistas evitam cidades que demandam conexões e priorizam conhecer locais onde seus vôos têm chegada direta.

Além disso, a cidade precisa investir em outras atrações que na relação custo x benefício convença o turista a destinar o seu tempo e sua poupança por aqui. Investir em Cultura pode ser uma das soluções.

Brasília possui um dos maiores e mais completos acervos de Portinari e de outros internacionalmente famosos artistas brasileiros. Mas estas obras estão trancafiadas a sete chaves nos porões do Banco Central, que as recebeu como parte de dívidas de bancos falidos e que sofreram intervenção. A presidência da República também possui um acervo de peças doadas por outras nações que atrairiam em muito o interesse de turistas

Já passou da hora do governo federal construir um grande museu na Capital Federal que abrigue estas obras de forma permanente. Há até quem sugira o uso das instalações do antigo Clube do Servidor Público que, recentemente, abrigou empreendimentos do tipo Casa Cor.

A cidade também poderia transformar em realidade o sonho de Darcy Ribeiro e edificar o Museu do Homem Brasileiro. Um verdadeiro museu da história natural de nosso país, focado na cultura que o cadinho multicultural forjou em nosso Brasil. Há mais tempo, se falou em um grande aquário que abrigasse a diversidade da fauna aquática da Amazônia e do Centro-Oeste. Ainda no governo Figueiredo, o ministério das Minas e Energia anunciou a criação do Museu da Terra. Um grande buraco foi feito e abandonado em frente ao Teatro Nacional.

Cidades como Paris, Lisboa, Madri, Barcelona, Washington, dentre muitas outras, já identificaram nos museus, parques e aquários uma forma de segurar o turista e de construir um indutor da economia local, sem gerar poluição.

Mas Brasília tem que investir em segurança pública e em transporte público de qualidade. O turista quer ter certeza que pode circular com tranqüilidade e a um custo razoável. Turista em Brasília só consegue se locomover de taxi e a um preço altíssimo e de conforto e segurança duvidosos. As linhas de ônibus não são confiáveis, não são integradas e são confusas de compreensão para quem é de fora.

Faltam também hotéis para um perfil mediano de viajante. Diárias de R$ 300,00, R$ 400,00 ou mais afugentam os turistas, principalmente os jovens.

Economia do Circo

Na forma como estão as coisas, eventos como a Copa das Confederações servirão apenas para descapitalizar a cidade. Um fenômeno que alguns economistas chamam de “economia do circo”.

Neste modelo “economia do circo”, o poder público local oferece tudo de graça para o dono do circo: no nosso caso a FIFA. Ele investe milhões – aqui foram bilhões -, paga todas as despesas de organização, dá isenções e estímulos fiscais, não cobra impostos, e não se beneficia dos dividendos diretos do evento: receita desde a venda de pipoca e das bilheterias até as obtidas com os direitos de transmissão e royalties. A receita fica sempre com o dono do circo.

Como não consegue atrair pessoas de fora em quantidade suficiente para cobrir os gastos e elisões fiscais, a economia brasiliense constata, após o baixar as lonas e a partida do circo, que ficou mais pobre do que antes da realização do evento

Em outras palavras, as finanças locais ficam descapitalizadas; Além, é claro, do adiamento da execução de projetos sociais importantes. Na prática, o evento, não deixa na cidade qualquer superavit por ele gerado. Vai o circo, fica a dívida.

Em cidades pequenas, esse processo pode quebrar a municipalidade. Em grandes, talvez só arranhe, mas especialistas gostam sempre de lembrar que a cidade estadunidense de Salt Lake City, sede das olimpíadas de invernos de 2002 a um custo de cerca de US$ 2 bilhões, até hoje paga suas contas. Também a Grécia, que realizou as Olimpíadas de 20 ficou com um rombo de US$ 14 a 15 bilhões.