Por Mônica Pinto, do AmbienteBrasil

O Instituto Nacional do Câncer – INCA, órgão do ministério da Saúde, através de sua Coordenação de Prevenção e Vigilância do Câncer, emitiu uma nota técnica sobre a dioxina, em que confirma não só a toxicidade da substância, mas também admite seu potencial carcinogênico.

A nota do Inca reforça informações que já circulavam nas redes sociais, advertindo que o aquecimento de comida no forno de microondas, feito em recipientes de plástico, libera a dioxina, substância que pode causar câncer. O risco é real e concreto.

Explica a nota que “a dioxina é um composto orgânico incolor e inodoro. É um subproduto espontâneo resultante de fenômenos e desastres naturais como a atividade vulcânica e os incêndios florestais, assim como da atividade do homem (indústria de plásticos, incineração, branqueador de papel e escapamento de gases de automóvel).

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Uma das diversas formas de ingerir as dioxinas é justamente pelo aquecimento de plásticos contendo alimentos, o que ocorre rotineiramente no uso do micro-ondas. AmbienteBrasil conversou com a toxicologista Silvana Turci, chefe da Área de Vigilância do Câncer relacionado ao Meio Ambiente e ao Ambiente de Trabalho do Inca.

Ela explica que a dioxina é um subproduto gerado no processo de fabricação do plástico e que, a princípio, nem a indústria teria como aferir a qualidade da matéria-prima quanto a essa contaminação. Isso porque, no Brasil, apenas um laboratório, da Petrobras, tem aparato técnico nesse sentido.

Assim, qualquer plástico pode conter dioxina, desde brinquedos a garrafas PET. Porém, em condições normais de temperatura, o composto não é liberado. Visto que não há como ter segurança quanto à presença ou não da dioxina num plástico específico, vale o princípio da precaução. Ou seja, o recomendável é que nunca se aqueça alimentos no microondas em recipientes desse material.

Numeração dos plásticos

Pare evitar danos à saúde, é aconselhável conferir no fundo do recipiente o número de reciclagem que vem marcado dentro de um triângulo. Se estiver marcado com os números 1, 2, 4 ou 5 significa que o pote plástico não contêm BPA, mas não está livre de outros produtos químicos. Se estiver marcado o número 7, é melhor desfazer desses potes, pois significa que provavelmente contém BPA.

Além de conferir o número marcado, é importante ver se o pote possui o símbolo de copo e garfo no fundo, que significa que o material é apto a ter contato com alimentos.

  • Os plásticos que marcam “1” na etiqueta de reciclagem não devem ser reutilizados.
  • Os plásticos teoricamente mais seguros para a saúde são rotulados com “2”, “4” ou “5”.
  • Os plásticos marcados com o número “3” pode liberar BPA e ftalatos. Os Ftalatos são produtos químicos utilizados como aditivos para plásticos a fim de torná-los mais maleáveis. Sua presença em altos níveis no organismo de adultos altera o nível de hormônios da tiroide na corrente sanguínea.
  • Os plásticos marcados com o número “6” são fabricados com poliestireno (PS) e recomenda-se precaução porque o estireno é um produto químico potencialmente tóxico.
  • Os plásticos marcados com o número “7” emitem Bisfenol A (BPA) contaminando o conteúdo do recipiente, por isso você deve evitá-lo completamente.

Vasilhas de vidro

O melhor é transferir a comida para vasilhas de vidro que suporte o calor (temperado). Essa cautela se aplica também para as bandejas de espuma em que são acondicionadas lasanhas e outras massas, por exemplo. Tal cuidado é simples e pode evitar danos sérios à saúde.

Segundo a nota técnica do Inca, a dioxina se acumula no tecido gorduroso de animais e todos os estudos realizados com eles têm revelado o potencial cancerígeno do composto, mesmo em baixas doses.

“É uma substância com efeito cumulativo e residual a longo prazo. O tempo de meia vida é de, em média, 7 anos”, diz o alerta, informando ainda que alguns estudos têm relacionado a exposição a dioxinas com problemas reprodutivos e deficiências do sistema imunológico.

Filme plástico: outra advertência

Quanto ao filme plástico, tão utilizado para embalar alimentos? Silvana Turci explicou a AmbienteBrasil que esse uso também implica em riscos, embora a via de contaminação seja diferente.

O problema, segundo ela, é que os compostos tóxicos presentes no plástico – principalmente os clorados – são solúveis em gorduras e isso faz com que sejam atraídos por elas.

Na prática, um sanduíche com manteiga ou requeijão, por exemplo, pode ser contaminado por esses compostos e, de novo, o melhor é aplicar o princípio da precaução. A mãe que envia o lanche do filho para a escola pode lançar mão do papel alumínio, que não apresenta esse problema.

Mas, para Silvana Turci, o ideal mesmo seria a retomada de hábitos antigos, como acondicionar o sanduíche ou a fruta em um pano de prato, num saquinho de papel ou – para os mais adeptos da modernidade – num pedaço de papel toalha.