Por Chico Sant’Anna
Olhe a foto acima, de Orlando Brito, e responda rápido: que cidade é essa?
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte?
Quem se deixou influenciar-se com os arranha-céus, pensando que a foto é de alguma metrópole tradicional do Brasil, errou.
A foto é da cidade projetada por Lúcio Costa, considerada revolução nos padrões do urbanismo e da arquitetura mundial, patrimônio da humanidade, mas que vem sendo vilipendiada todos os dias pela cobiça da especulação imobiliária.

A imagem é de duas cidades do Distrito Federal: Guará, em primeiro plano, e Águas Claras,em segundo. A primeira foi concebida para ter edifícios de, no máximo, seis andares e, a segunda, oito andares. Hoje, no Guará, há prédios de dez andares e de até de 30 andares, em Águas Claras.
Mesmo fenômeno de hiper-verticalização estão vivenciando cidades-satélites como o Gama, Samambaia, Ceilândia e Sobradinho. Espigões cortam os céus, sem que haja uma preocupação como que está na terra: redes de águas pluviais, abastecimento de água potável, captação de esgoto, coleta seletiva de lixo, estacionamentos, dimensões de ruas e avenidas, falta de transporte coletivo, escolas, centros de saúde, delegacias.
Estreitas ruas que atendiam a meia dúzia de casas, são agora obrigadas a receber o trânsito pesado de centenas, quem sabe milhares de carros. As cidades vão se imobilizando. Nem a pé se consegue andar, pois em muitas delas não sobrou espaço para o pedestre. Os muros dos condomínios vão até à linha limítrofe do meio-fio. Faltam calçadas, dispositivos de acessibilidade.
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A substituição de casas por prédios de apartamentos é recomendada por muitos especialistas como uma forma de potencializar o uso da infra-estrutura já instalada e evitar que seja necessário transformar áreas verdes rurais em novas áreas urbanas, como é o caso da área de pesquisa da Embrapa Cerrados -no caminho de Planaltina – onde o GDF quer fazer um bairro residencial. Hoje, o Distrito Federal já ocupa, praticamente, a metade de seu território como área urbana.

Mas é excessiva a verticalização que está se fazendo. O volume de novas moradias e estabelecimentos comerciais irá extrapolar a capacidade física da infra-estrutura instalada, demandando mais investimento público. Olhando para o horizonte, percebemos uma massa de espigões que, como se fossem tropas medievais, parecem marchar sobre Brasília. Aos poucos o verde vai dando lugar ao cinza do concreto.

Aos poucos, o Plano Piloto vai ficando entrincheirado. Não bastasse a hiper-verticalização que se verifica nas cidades já existentes, a garra da especulação imobiliária, aliada à falta de ação – ou, quem sabe, conivência – do poder público, se lança sobre enormes áreas rurais. É o caso da chamada Oklândia, projeto do ex-senador cassado e preso Luiz Estevão que recebeu sinal verde do GDF de Agnelo Queiroz e que prevê o surgimento de uma cidade para quase um milhão de habitantes na faixa de terras rurais que vão de São Sebastião a Santa Maria. Local hoje destinado essencialmente à produção de hortigranjeiros que abastecem o Distrito Federal e nascentes d’água, tais como o Tororó e a cachoeira da Saia Velha.
O projeto inicial prevê edifícios de 15 andares, mas se Águas Claras começou com oito e chegou a 30 pavimentos, qual será o limite da Oklândia de Luiz Estevão?
Outras regiões, como o Taquari, na saída Norte de Brasília, e o Núcleo Rural Vargem da Benção – também rico em nascente que abastecem o Lago Paranoá -, próximo ao Recanto das Emas, estão na mira da mesma sanha avassaladora.
Na Vargem da Benção há produtores rurais assentados ainda por Juscelino Kubitschek e que estão ameaçados a dar lugar a um setor habitacional para 50 mil moradores num local que é classificado como Área de Proteção Ambiental – APA.
Veja aqui como é a Vargem da Benção
Arniqueiras – localizada entre o Park Way e Águas Claras-, que nem teve sua situação fundiária resolvida ainda, também está na mira das empreiteiras para receber prédios semelhantes aos de Águas Claras.

Quem poderá dar um basta a tudo isso e fazer com que o crescimento de Brasília seja ordenado e planejado segundo os interesses de sua população? Ela mesma. São os moradores do Distrito Federal, pelo menos os que são maiores de 16 anos, que poderão, no próximo 5 de outubro dizer que Brasília desejam: se uma pauliceia poluída, engarrafada e sem qualidade de vida, ou a Brasília, cidade parque, idealizada por Lúcio Costa.
Tanto na eleição ao GDF, quanto à Câmara Distrital existem candidatos que defendem claramente esses dois pontos de vista. Existe a bancada da especulação imobiliária e a bancada do crescimento sustentável.
A escolha é sua, senhor e senhora eleitores.
Excelente artigo! Que abra os olhos dos governantes do DF…
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Caro Chico, acho pertinente a discussão com relação da alteração do gabarito dos prédios de Brasília para atender aos interesses de construtoras. Mas como falei em uma mensagem anterior, a chamada “oklandia” é de terras particulares, ali no futuro terá de qualquer jeito vários empreendimentos, então o governo precisa de um projeto. A densidade proposta é até 50hab/ha a mesma do Park Way. Claro que teremos muitos embates, e isso poderá com o tempo ser desvirtuado, mas quanto tempo levará?
Você citou a Vargem da Benção, o que posso dizer é que alguns serão prejudicados, no entanto serão 25mil pessoas que poderão comprar um imóvel dos programas sociais, fugindo assim do aluguel e da especulação imobiliária de Brasília. Existe sim sensibilidade ambiental, no entanto não é algo que não possa ser mitigado. Parte daquela área já era previsto expansão do Recanto das Emas, assim como o Setor Habitacional Ponte de Terra no Gama.
Outra questão, estar em APA não é impedimento para empreendimentos, elas devem ter um zoneamento e dizer o que pode e o que não pode. DF é praticamente todo coberto por APAs, mesmo zonas urbanas já consolidadas.
Eu defendo que o governo tenha políticas habitacionais e como você citou, deve dar prioridade as áreas já consolidadas. O que não podemos é ignorar os problemas habitacionais e deixar a desordem da ilegalidade, com condomínios e loteamentos totalmente ilegais, sem qualquer preocupação urbanística e ambiental.
Não se pode também continuar empurrando a população para o Entorno, os excluíndo ainda mais desta cidade, e devemos aceitar o crescimento desta metrópole.
O crescimento desta cidade não será eterno, Brasil está estabilizando no seu crescimento populacional e precisa resolver o problema de moradia.
Não podemos ter o eterno discurso que tudo é feito para beneficiar o mercado imobiliário, mas sim que isso também beneficia parte da população.
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Chico, você esqueceu de dizer que o Governo Agnelo/Magela teve a coragem de transformar o espaço planejado para o Metrô que ligaria Samambaia/Recanto/Caub ao Gama e Santa Maria em Condomínios do Morar Bem transformando o transito num caos e prejudicando toda esta população. Tudo isto entregue a empreiteiras do grupo Mendes Junior (Gontijo).
Até onde vai a ganância imobiliária nesta cidade???
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A sociedade organizada deve ficar atenta na escolha dos seus representantes para o legislativo. Torna-se crucial votarmos em pessoas preocupadas em propor leis que refreiem o crescimento desorganizado das cidades no DF, leis que coíbam o crescimento desordenado – horizontal e vertical – tendo em vista a preservação de cidades menos caóticas num futuro próximo, e que consigam manter o padrão habitacional condizente com o traçado inicial proposto pelos planejadores da Capital do Futuro.
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Os artigos , são unânimes em denunciar o abandono do Plano Piloto da Capital, objeto de um concurso lançado em 1956 pela NOVACAP no qual saiu vencedor o Projeto de Lucio Costa, o único a entender como deveria ser a Capital do Brasil, uma “civitas”, erguida no meio do nada, onde nasceria uma “nova forma de viver”! Era então prevista uma população de cerca de 500 000 habitantes, o suficiente para garantir a sua” função administrativa”. Deveria ter sua estrutura pronta para iniciar seu funcionamento até o fim do mandato presidencial de Juscelino, quando então seria inaugurada. Assim foi feito e, ao contrário do que imaginavam seus opositores, ela começou a sua caminhada a partir daí.O Plano proposto por Lucio foi de uma cidade-parque, constituída de Um Eixo Residencial composto de Super Quadras, abrigando de 11 a 15 edifícios de 6 pavimentos sobre pilotis, todas envolvidas por um “cinturão” de árvores de porte.Um conjunto de 4 S.Quadras formando uma Unidade de Vizinhança. O conjunto das U. de Vizinhança dispostas ao longo de um Eixo Rodoviário Tronco, com acessos autônomos, onde os carros atingiriam os prédios em baixa velocidade (“domados”) através de trevos ao longo do Eixo. Nas Quadras eram previstos um creche e um local especial para congregação dos moradores idosos.Todo o mais para o livre recreio das crianças. Nas Entre Quadras o Comércio Local, uma Escola, uma Igreja, um Mercado e Algum Equipamento Urbano (correio, banco,e outros).Em síntese esta a foi a sua ideia básica. Cada Eixo medindo seis quilômetros até atingirem o Centro da Cidade ondes e localiza a Plataforma Central. (Algumas (poucas) áreas para Habitações Individuais, originalmente somente de um lado do Lago Paranoá e que, com a descida dos Eixos da cidade para mais perto do Lago, foram transferidas para o lado oposto; os demais Equipamentos da Capital ficaram dispostos ao longo de um Eixo Monumental ( assim chamado por concentrar os principais edifícios públicos e perpendicular ao Eixo Residencial, formando assim o traçado de uma cruz. Dispenso-me de detalhar o restante do Plano. Tudo foi resolvido e pensado em detalhe, conforme declara o Autor do Projeto Vencedor.
Cabe DESTACAR que a cidade foi erguida no meio do NADA!Ela não seria resultante de um PLANO ANTERIOR. Ela seria a CAUSA para o ESTABELECIMENTO de UM PLANO REGIONAL para a OCUPAÇÃO do DISTRITO FEDERAL.
Desde a saída do seu criador, NENHUM GOVERNO tratou de implementá-lo! A cidade cresceu ao “Deus Dará”. É hoje refém do descaso e tudo é feito ou não feito por culpa da leniência dos “Órgãos Responsáveis” pelo acompanhamento do Plano. O mais incrível é que ele foi Tombado pelo IPHAN e considerado Monumento da Humanidade pela UNESCO!!!Nem assim os Governos olharam para o Plano e deixaram”rolar”a especulação e o desrespeito às LEIS! UMA VERGONHA!!!!!
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