
Texto de Chico Sant’Anna, com base na WikiAves, a Enciclopédia das aves do Brasil.
Fotos de Fernando Carvalho, João Rios, Leninha Caldas e Rita Marciano.
O sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) está na cultura nacional mesmo antes dos portugueses aqui chegarem. Seu nome deriva do Tupi haabi’á e conta com uma infinidade de denominações populares, entre elas sabiá-cavalo, sabiá-ponga, piranga, ponga, sabiá-coca, sabiá-de-barriga-vermelha, sabiá-gongá, sabiá-laranja, sabiá-piranga, sabiá-poca, sabiá-amarelo, sabiá-vermelho ou sabiá-de-peito-roxo.

Por ser uma das aves mais populares do Brasil, é considerado informalmente Ave Nacional do Brasil. Tem presença na literatura, na música, no folclore e mesmo na cultura erudita. Em 2.002, por ocasião das comemorações do Dia da Ave, foi designado por decreto presidencial como sendo “símbolo representativo da fauna ornitológica brasileira.”
Desde 1966, é símbolo do estado de São Paulo e também esteve presente no emblema oficial da Copa das Confederações de 2013, realizada no Brasil.

O sabiá-laranjeira é uma ave comum na América do Sul. Além do Brasil, é nativo da Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai.
Em espanhol é conhecido como tordo de vientre rufo, zorzal colorado, zorzal común.
Se faz presente em uma ampla área do continente, desde o Nordeste do Brasil até o sul da Bolívia e norte-leste da Argentina. Entretanto, não ocorre na Bacia Amazônica.

O sabiá habitava originalmente as florestas abertas e beiras de campos. Com o avanço da urbanização e das lavouras sobre as áreas de vegetação nativa, ele se mostrou uma espécie bastante adaptável e penetrou com sucesso nas áreas agrícolas e nas cidades, exigindo porém a proximidade de água.
Em Brasília é fácil visualizá-lo pelos gramados das áreas verdes urbanas e até nos pilotis dos blocos das superquadras. É visto com frequência percorrendo o solo, mas nunca longe das árvores.
O sabiá é uma ave territorial, mas relativamente tímida, comum nas zonas rurais povoadas e nas cidades, e por isso é sentido como uma ave familiar por grande parte da população. Não há na literatura especializada muitos registros de inimigos naturais do sabiá-laranjeira, mas já foi observado que o tucano Ramphastos dicolorus preda jovens e até exemplares adultos.

Sua população é considerada estável mas não foi quantificada, e é descrito como uma ave comum.
Em meio urbano o gato doméstico é um importante predador. Em algumas regiões está ameaçado pela destruição do habitat e pelo tráfico de animais silvestres.
Embora no Brasil seja crime a manutenção e/ou criação de animais silvestres em cativeiro sem a devida licença do Ibama, devido a cantoria muito apreciada, o sabiá tornou-se uma ave de estimação sendo avo para a criação em cativeiro com sucesso. A criação em cativeiro pode trazer danos severos ao animal. Além de exigir gaiolas grandes ele não tolera as mudanças em suas instalações, podendo apresentar distúrbios de comportamento e desenvolver pânico, que podem levá-lo à morte. Mesmo assim, a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais o classificou como espécie em condição pouco preocupante.
Estado de conservação


O sabiá tem,em média, 25 centímetros. As fêmeas tendem a ser maiores que os machos.
Ele pertence à ordem Passeriformes e à família Turdidae, que migrou da Europa para a América há cerca de 20 milhões de anos. A denominação científica da espécie é Turdus rufiventris, tendo sido descrito pela primeira vez por Louis Jean Pierre Vieillot em 1818. Foram descritas duas subespécies: Turdus rufiventris rufiventris e Turdus rufiventris juensis.
Penugem
O laranjeira é o mais conhecido de todos os sabiás, identificado pela cor de ferrugem do ventre, mas existem variações.
Normalmente, tem o bico reto de cor amarelo-oliva, as patas cinza, o olho negro circundado finamente de amarelo e a penugem do dorso de um tom uniforme marrom-acinzentado. A garganta é esbranquiçada rajada de marrom, o peito é cinza-pardo, que vai mudando para um alaranjado opaco no ventre. As fêmeas tendem a ser um pouco mais claras no ventre. Pode, inclusive, ocorrer o leucismo, que é a perda parcial ou total de melanina, as vezes denominado erroneamente de albinismo.

A existência de colorações aberrantes, incluindo albinismo, não é rara, mas a causa disso não é bem esclarecida. Pode estar ligada a alterações no seu meio-ambiente ou mutações genéticas.
O ninho é feito entre setembro e janeiro em arbustos, árvores de folhagem densa e cachos de banana, empregando fibras e gravetos ligadas por um pouco de lama, num formato de tigela funda. Por dentro são revestidos de materiais mais macios como hastes de flores e capim. Põe de três a quatro ovos verde-azulados pintados de sépia, que medem 28 x 21 mm.

Os filhotes nascem após treze dias de choco, recebendo atenção de ambos os pais. Em três semanas podem deixar o ninho. Cada fêmea choca três vezes por ano e pode gerar até 6 filhotes por temporada. O sabiá-laranjeira pode viver até dez anos na natureza.
Hábitos e alimentação
Sua nutrição se compõe basicamente de artrópodes, larvas, minhocas e frutas maduras.
Pode se tornar um predador importante de sapos e rãs logo que deixam a fase de girino. É um importante dispersor de sementes das espécies frutíferas que consome, pois ou regurgita as sementes em outros locais ou elas saem em suas fezes fertilizantes e com isso se tornam mais aptas à germinação.

Como outras espécies de sua família, pode se reunir em bandos mistos que empregam diferentes estratégias para melhorar suas chances de boa alimentação, o que lhe confere uma vantagem adaptativa para ocupação de áreas degradadas e urbanas.
Canto
De acordo com o ornitólogo Johan Dalgas Frisch, não existem dois sabiás que cantem da mesma maneira. É um canto melodioso, aflautado e frequentemente logo denuncia sua presença. O canto do sabiá é longo e pode ser ouvido a mais de 1 km de distância. Pode durar até dois minutos sem interrupção. A frase principal tem de 10 a 15 notas, mas ele é capaz de imitar as vocalizações de outras aves como o curiango e o joão-de-barro e assimilar trechos em seu próprio canto, em inúmeras variações. Canta principalmente no período reprodutivo, antes do amanhecer e ao anoitecer, para atrair a fêmea e demarcar seu território.
“os sons maravilhosos do sabiá desabrocham nos jovens corações veios poéticos, tão puros e belos como se um cego abrisse seus olhos ao ver a luz e as cores das flores na terra…. uma lenda indígena assegura que quando uma criança ouve, durante a madrugada, no início da Primavera, o canto do sabiá, será abençoada com muita paz, amor e felicidade” – relata Johan Dalgas Frisch.
Ouça o canto do sabiá-laranjeira no vídeo da Pássaro Brasil

Importância cultural
É citado por diversos poetas como o pássaro que canta o amor e a primavera.
Na literatura é frequentemente citado como o pássaro que canta o amor e a primavera, as origens, a terra natal, a infância, as coisas boas da vida, sendo imortalizado por Gonçalves Dias na abertura de seu célebre poema Canção do Exílio. Escrito em julho de 1843, em Coimbra, Portugal, o poema, por conta de sua alusão à pátria distante, tema tão próximo do ideário do Romantismo, tornou-se emblemático na cultura brasileira.
Confira no vídeo abaixo, produzido pela Poemate, a declamação do poema de Gonçalves Dias, na interpretação de Rodrigues Vanzuita.
Outros autores famosos também deram ao sabiá-laranjeira notoriedade artística, como Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado. Luiz Gonzaga, Milton Nascimento e Patativa do Assaré.

Chico Buarque e Tom Jobim também homenagearam o pássaro. Compuseram em 1968 em conjunto com a canção Sabiá, que como o próprio título demonstra, traz a ave em destaque, embora ali a ave apareça com o gênero feminino, o que, segundo o autor, deriva dos usos dos caçadores.
Gostou da leitura sobre o sabiá-laranjeira? Tem mais:
Abaixo, 48 outras aves comuns à Capital Federal.
Clique no enlace e confira.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Alma-de-Gato.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Andorinha-Serradora
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Anu-Branco
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Arara-Canindé
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Ariramba-de-cauda-ruiva
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Balança-rabo-de-máscara
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Beija-flor-tesoura
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Bem-te-vi-rajado
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Bico-chato-de-orelha-preta
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Canário-da-Terra
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Carcará
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Caboclinho.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Cardeal-do-Nordeste.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Choca-Barrada
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Corruíra do Campo
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Coruja-Buraqueira
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Curiaca
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Curutié
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Ferreirinho-relógio
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Filipe.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Freirinha.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Gavião-de-rabo-branco
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Gavião-Pedrês
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Gavião-pega-macaco
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Gente-de-Fora-aí-Vem.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Gralha-do-Campo
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Graveteiro
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Jaçanã.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o João-de-pau
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Juruva.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Papagaio-galego
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Periquito-Rei
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Pica-pau-anão-escamado
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Pica-pau-branco
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Pica-pau-do-campo
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Pica-pau-de-Topete-Vermelho
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Pica-pau-verde-barrado
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Piolhinho
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Príncipe.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Quiriquiri
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui a Rolinha-roxa
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Saí-azul
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Tapaculo de Brasilia.
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Tiziu
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Tucano-toco
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Uiraçu
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Urubu-de-cabeça-preta
- Você conhece as aves de Brasília? Conheça aqui o Urubu-de-Cabeça-Vermelha
Muito bom saber tudo isso sobre os sabiás. Sempre me intriga o fato de que eles chegam em setembro e vão embora em janeiro. Para onde? É como se fosse sempre o mesmo sabiá que chega. Ele vem cantar no pé de manga, no pé de laranja do quintal, na sibipiruna da calçada da rua, e eu canto com ele, ele puxa, dá uma parada, eu entro buscando acertar o mesmo canto, mas dificelmente consigo. Ele vem várias vezes por dia, é encantador, mas daí ele vai embora, e é como se estivesse indo embora um grande amor. Eu sei que ele voltará. A Primavera virá, trazendo-o com as primeiras flores, com os verdes começando a vicejar.
Ainda bem que há árvores nos viizinhos e o som do seu canto se demora mais.
Muito bom ler tudo isto. Muito agradecida.
CurtirCurtir