
Por Chico Sant’Anna
Quem não tiver dinheiro para comprar o equipamento adequado para assistir a TV Digital não terá acesso à interatividade que o sistema proporcionará.
A transição da TV analógica para a digital no Brasil está se encaminhando para uma espécie de apartheid digital com a existência de uma televisão de rico e outra de pobres.
Quando o Brasil bateu o pé e insisitiu em desenvolver sua própia tecnologia, a partir do modelo japonês,, tinha como objetivo abrir uma porta para o mundo digital para as camadas mais pobres. Os aparelhos de televisão e os conversores (setop box) permitiriam um acesso a interatividade que a TV digital propicia. Agora, os conversores para as camadas mais pobres da população vão permitir apenas a mudança de canal e de volume. Quem tiver dinheiro, poderá comprar os aparelhos que garantam o acesso à interatividade social.
O governo, via Ministério das Comunicações, vai distribuir gratuitamente os kits (antena e conversor) aos moradores inscritos no Bolsa Família residentes no Distrito Federal e no Entorno. A migração do analaógico para o digital está prevista para outubro de 2016. Só que esse conversor virá sem o Ginga – o programa que garante a interatividade ao espectador. O aparelho a ser distribuído manterá o caráter unidirecional, tal qual o modelo analógico hoje existente.
Quando idealizado o sistema da TV Digital no Brasil, imaginou-se um modelo pelo qual o espectador poderia inteagir não só com a emissora de TV que estava transmitindo, mas com outros prestadores de serviço também: Por exemplo, acessa a conta bancária, ter mais informações sobre um fato divulgado no telejornal, comprar um produto exibido numa telenovela, encomendar um prato a ser entregue em casa. Mais ou menos como funciona nos aplicativos de telefones celulares.
Agora, os kits a serem distribuídos servirão apenas para permitir que as televisões mais antigas, como as de tubo, possam receber o sinal digital, que traz mais qualidade de som e imagem, e não correm o risco de ficar sem serviço quando houver o desligamento analógico.
Para André Barbosa Filho, representante das emissoras públicas, educativas e culturais no Gired – órgão que está regulando a transição do analaógico ao digital -, esta postura oficial, além de não propiciar a prometida inclusão digital de grandes camadas da sociedade brasileira, irá, ao contrário, criar uma tv de rico e outra de pobre.
Sobre isso, ele falou ao programa Cidadania da TV Senado.
Assista à entrevista
As estimativas apontam que são 165 mil famílias no DF e do Entorno, inscritas no Bolsa Família serão beneficiadas com o fornecimento do kit oficial. Essas poderão agendar a retirada de kitpor telefone, pelo número 147 ou pela internet, na página www.vocenatvdigital.com.br. Mas elas e as demais famílias que desejarem um sistema com interatividade, terão que ir ao mercado comprar uma televisão nova ou um conversor mais sofisticado.
Leia também:
- TV analógica deixa de operar no DF em outubro. Depois, só digital
- TV Digital: adiada a transição da TV analógica para o novo sistema de TV
- Torre de TV digital em Brasília favorece emissoras privadas
- TV Digital: Término da transmissão em sistema analógico deixa milhões de lares sem sinal de TV nos EUA
- TV Digital: Apenas 48 países completaram a migração para sistema digital.

Nesse primeiro momento, serão atendidos os moradores das cidades goianas de Cristalina, Luziânia, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso de Goiás, Cidade Ocidental, Novo Gama, Formosa, Águas Lindas de Goiás e Planaltina. No local de retirada dos conversores, também é ministrado um curso rápido sobre como instalar os itens no televisor.
Até a quinta-feira (28/1), já tinham sido feitos 22 mil agendamentos na região. É recomendado que as famílias não deixem a retirada dos equipamentos para a última hora.
Distrito Federal
No Distrito Federal, a entrega dos conversores vai ser iniciada em julho e o agendamento ainda não está disponível. São 94 mil inscritos no Bolsa Família na capital federal. A entrega dos kits faz parte do processo de desligamento do sinal analógico de televisão, que acontece progressivamente em todo o país até 2018. Um dos requisitos para que as cidades sejam desligadas é que 93% dos domicílios tenham acesso ao sinal digital.
Na segunda-feira (25), o Ministério das Comunicações publicou o novo cronograma do switch off. Em outubro, devem ser desligados Rio Verde (GO), que é o projeto-piloto, Brasília e mais 9 cidades da região do entorno. Outras capitais e regiões metropolitanas passarão pela mudança em 2017 e 2018;
Calendário
Estas são as datas de início da distribuição dos conversores nas cidades que serão desligadas em outubro:
Em andamento- Cristalina/GO; 28/01/2016 – Luziânia/GO, Santo Antônio do Descoberto/GO, Valparaíso de Goiás/GO e Cidade Ocidental/GO; Novo Gama/GO e Formosa/GO;
03/02/2016 – Águas Lindas de Goiás/GO e Planaltina/GO;
Junho/2016 – Brasília/DF.