Balão do Aeroporto terá que ser novamente reformado para receber as linhas de ônibus. Obra custará R$ 125 milhões.
Por Chico Sant’Anna
Falta de planejamento em mobilidade urbana parece ser uma marca registrada dos governantes que passaram pelo Buriti nos últimos tempos. Por sinal, o defeito parece ser nacional, como já detectou o Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, em 2015. Depois de trocarem a linha 2 do metrô (Gama-Plano Piloto) por uma linha de BRT que está longe de atender às necessidades dos moradores, o GDF decide dar adeus em definitivo a linha do VLT que ligaria o Aeroporto ao Plano Piloto, tendo continuidade pelas Avenidas W.3 Sul e Norte. A ligação Aeroporto-Plano Piloto agora dar-se-á por ônibus do tipo BRT. A medida implica em um anova reforma do túnel que passa pelo Balão do Aeroporto, que foi detonado no governo passado para as obras da Copa do Mundo.
A decisão foi anunciada recentemente pelo próprio governador Rodrigo Rollemberg, quando ele divulgou o Programa Estruturante de Mobilidade Urbana de Brasília – e a mídia local nem se ateve a essa medida -, e detalhado aqui para o blog pelo sub-secretário de Mobilidade do GDF, Fábio Damasceno.
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Pelo projeto original (marcado em verde, no mapa ao lado), uma linha do VLT, que são os modernos bondes elétricos (tramway), sairia do Aeroporto e iria até a Estação Asa Sul do Metrô, no Setor Policial Sul. Um trajeto de 6,4 quilômetros de extensão, segundo os dados oficiais. Lá haveria conexões com linhas de ônibus e do próprio metrô. Esta etapa, segundo o Instituto Ethos, estava orçada em R$ 276,9 milhões, sendo R$ 263 milhões financiados pela Caixa Econômica Federal e R$ 13,9 milhões pelo governo do Distrito Federal. As despesas incluíam as reformas de adaptação do Balão do Aeroporto. Toda a obra deveria ter sido feita para a Copa do Mundo.
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Diante da inoperância dos governos do DF entre 2009 e 2014, em agosto de 2012, o governo Federal decidiu que a interligação do Aeroporto Internacional de Brasília ao início da Asa Sul passaria a ser feita por um corredor de ônibus e não mais por uma linha de VLT, como anteriormente previsto. Para tanto, o então vice-governador Tadeu Filippelli assinou um convênio com o ministério das Cidades, no valor de R$ 100 milhões provenientes do governo federal.
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Com o abandono da obra do VLT, o GDF perdeu naquela época a oportunidade de receber os R$ 263 milhões alocados pelo governo federal para o VLT do Aeroporto, e os brasilienses perderam oportunidades de novos empregos, tanto na execução da obra quanto depois, na gestão do VLT. Pior, ficaram desprovidos de um transporte de primeira qualidade. Essa conta deve ser hipotecada preferencialmente aos governadores José Roberto Arruda, Rogério Rosso e Agnelo Queiroz. E, de certa forma, também ao governador Rodrigo Rollemberg, pois já se passaram quase dois anos de sua eleição e pouco se fez no sentido de reparar o prejuízo.

Mais R$ 130 milhões em remendos
Quando foi elaborado, o BRT-Sul – ou Expresso DF, como foi apelidado no governo Agnelo, umas das grandes críticas era que o ônibus não atenderia aos usuários e trabalhadores do Aeroporto e quanto à inexistência de estações de embarque entre a Floricultura do Núcleo Bandeirante e as primeiras quadras do Plano Piloto. Não foi previsto uma única parada para um trajeto de mais de dez quilômetros. Os usuários defendiam que ao longo da quadra 14 do Park Way deveria haver uma parada e que alinha deveria atender também o aeroporto de Brasília. Na ocasião, o GDF fez ouvido de surdo. Agora, o contribuinte vai ser obrigado a custear o que deveria existir desde o início: a interligação do Aeroporto ao sistema BRT.

A surdez do poder público tem preço. O preço desse remendão está orçado agora pelo GDF em R$ 130 milhões. R$ 125 milhões é o custo da obra. Já o projeto técnico é estimado em R$ 5 milhões e a secretaria de Mobilidade espera que seja pago pela InfraAmérica, concessionária gestora do Aeroporto, principal beneficiada com um transporte de massa para aquela localidade. A InfraAmérica tem um projeto de criação da cidade aeroportuária, na qual deverão transitar, dentre trabalhadores e passageiros, de 50 a 60 mil pessoas por dia. Fala-se até na criação de uma universidade no empreendimento. A falta de um transporte que atenda a esta demanda, preocupa em especial, os moradores do Park Way, que hoje já vivem sobressaltos com o volume de carros que transita naquelas imediações.
Pelo cronograma oficial, neste mês de julho seria contratado o projeto técnico e as obras de adaptação- os remendos – seriam licitados em agosto próximo, com previsão de conclusão em julho de 2018. Os remendos prevem a construção de vias exclusivas na área que vai do Balão do Aeroporto ao terminal aeroviário e do viaduto da Camargo Corrêa, próximo ao Zoológico, até a Estação Asa Sul do metrô. São pistas em concreto armado, como as do BRT-Sul.
Entretanto, o trajeto entre o Balão do Aeroporto e o Viaduto da Camargo Corrêa foi feito em asfalto e já apresenta uma série de buracos e imperfeições, o que leva a crer que será necessário também concretar esse trecho.

Balão do Aeroporto
O que parece mais inverossímil é que o Balão do Aeroporto, que foi alvo de uma total destruição, com retirada de árvores cinquentenárias para a construção de um túnel sob ele – um mergulhão, nos termos técnicos – terá que ser adaptado para receber o BRT do Aeroporto. Se em agosto de 2012, os governo Federal e do Distrito Federal decidiram que a interligação do Aeroporto Internacional de Brasília ao início da Asa Sul passaria a ser feita por um corredor de ônibus, porque o túnel sob o Balão já não foi feito de forma a permitir o fluxo dos ônibus conjuntamente como BRT-Sul? Resposta para os auditores fiscais e para as autoridades do Buriti.
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Entre o Aeroporto e a Estação Asa Sul do metrô não está prevista qualquer parada, nem mesmo no Jardim Zoológico o na Estrada Parque Guará – EPGU. Vale lembrar, que apesar de todo esse remendão, em princípio, os trajetos das linhas do BRT-Sul e do Aeroporto só vão se interligar no Plano Piloto. Ou seja:apesar de trafegar em grande parte sobre a mesma faixa, quem vier de Santa Maria, Gama e Park Way rumo ao aeroporto terá que ir até o Plano Piloto, trocar de ônibus e voltar ao Aeroporto. E vice versa. Quem sair do Aeroporto rumo a essas localidades, terá que fazer baldeação no Plano. E quanto aos moradores das quadra 14, esses continuarão sem parada de ônibus.
Opção pelo pneu, abandonando a ideia de transporte sobre trilhos. Opção de otário? Ou de sabido? Não falei sábio, disse sabido.
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Chico, confesso que chega a dar preguiça de fazer qualquer comentário. Do Acre ao Rio Grande do Sul, o descaso com o dinheiro público se repete. Na verdade, brincam de administsrar. A esculhambação é total. Mais dinheiro pelo ralo. Sensação de SALVE-SE QUEM PUDER!
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Agnelo é um criminoso. Deveria ressarcir os cofres públicos pelas suas obras wue pararam no meio do caminho, não foram concluídas e nos trouxeram prejuízos.
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