
Projeto favorece o transporte individual e contribui para engarrafamentos no Plano Piloto.
Por Chico Sant’Anna
A solução do GDF para resolver a curto prazo os problemas de mobilidade de quem mora do lado Norte do Distrito Federal, em especial no Grande Colorado, Sobradinho e Planaltina, é abrir mais faixas de rodagens. Não está nos planos oficiais o transporte sobre trilhos e o sistema de ônibus BRT-Norte não estará pronto antes de 2020. A proposta do governo Rollemberg é a mesma que já vinha sendo tocada por seu antecessor, Agnelo Queiroz.
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Mesmo antes de concluir as obras do BRT- Sul (Santa Maria – Gama – Plano Piloto) e do BRT – Oeste (Taguatinga- Plano Piloto), o GDF decidiu investir R$ 196 milhões nas obras viárias do Trevo de Triagem Norte e na Ligação Torto-Colorado. Essas obras são os primeiros passos para viabilizar a implantação do BRT – Norte (Planaltina-Sobradinho – Plano Piloto). Mas isto só deve ocorrer em quatro anos, em julho de 2020. Por enquanto, o trabalho de construção de novas pistas, pontes e viadutos, a cargo do DER-DF, deve beneficiar mesmo quem anda de carro. A estimativa oficial é de que 100 mil veículos passem pela região diariamente.

Na prática, a Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia) em seu trecho Norte ganhará duas novas pistas — uma em cada sentido —, e passará a contar com três faixas cada uma. Serão 5,2 quilômetros de ampliação entre o Torto e o Colorado. Com isso, o GDF espera acabar com engarrafamentos e deixar de ativar a chamada faixa reversa em horários de pico.

Além da construção de uma terceira faixa na EPIA Norte, doze obras, dentre pontes, viadutos e túneis, serão executadas na construção do Trevo de Triagem Norte. Elas deverão alterar as imediações da Ponte do Bragueto e visam distribuir o fluxo de veículos com destino ao Plano Piloto, levando ao Eixo Rodoviário Norte-Sul, à Avenida W 3, aos Eixinhos Leste e Oeste e à Avenida L 2.
Para alguns analistas em mobilidade urbana, a decisão da administração Rollemberg em retomar essas obras é um erro. Consideram o projeto desastroso e ultrapassado. Ressaltam que há um risco de aumento de congestionamentos dentro do Plano Piloto.
Para a ong Rodas da Paz, o projeto não leva em consideração as diretrizes básicas da política nacional de mobilidade urbana, priorizando o transporte individual motorizado em detrimento do coletivo. “Como consequência, as rotas para quem não vai de carro chegam a ser 78% maior. Além de maior, a rota é descontínua e não há previsão de calçadas, fazendo com que pedestres e ciclistas tenham que compartilhar a ciclovia” – diz um relatório divulgado pela ONG em seu portal.
Além desses 196 milhões, numa segunda e terceira etapas, o GDF precisará investir mais R$ 85 milhões na construção do Terminal da Asa Norte, (etapa 2, que deve ter licitação em agosto deste ano), onde deverão chegar os ônibus do BRT; e outros R$ 715 milhões nas chamadas obras troncais (etapa 3, prevista para acontecer entre agosto de 2017 e julho de 2020), que permitirão fazer o BRT chegar a Planaltina.

A decisão de investir numa solução rodoviarista quase R$ 1 bilhão (R$ 996 milhões) – esse valor não inclui a aquisição dos ônibus do BRT que no futuro irão trafegar nessa linha – , é sinal de que o GDF não pensa na implantação de meio de transporte sobre trilhos para os moradores dessas duas cidades satélites, beneficiando também os residentes Sobradinho II, no Lago Norte, Varjão e condomínios do Grande Colorado.

Recursos
As obras referentes ao Trevo de Triagem Norte e à Ligação Torto-Colorado deverão levar dois anos, começando agora em setembro. A previsão é de 17 meses para o trecho Torto-Colorado e de 24 meses para o Trevo de Triagem Norte. Os recursos para essas construções serão obtidos em sua grande maioria por meio de financiamento junto a organizações de fomento. O GDF já anunciou a liberação de R$ 10 milhões do BNDES. Os recursos já tinham sido negociados no governo passado, mas desde dezembro de 2014, o BNDES não havia liberado nenhuma centavo. Do custo total, R$ 51 milhões sairão dos cofres do governo de Brasília. Essa verba terá que sair da arrecadação de impostos. Outros R$ 10 milhões sairão da receita da venda de lotes da Terracap.
Oi Chico, se permites te chamar assim, entendo que o responsável foi o Agnelo, até diziam que era governador. Mas todas as obras do governo passado foram tocadas pelo Filipelli. A secretaria de obras, secretaria de transportes, Metrô, Caesb, Terracap no início, Novacap e o DER também, tudo com ele. Estas obras que agora estão sendo relançadas fazem parte do grupo, que desde o governo Roriz (pós Cristóvam) mandam no governo. Eu não entendo porquê ninguém comenta isso? Vc poderia me explicar?
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Ricardo, você levanta um ponto interessante. E temos que considerar que governo após governo não surgem alternativas de mobilidade do GDF é sempre mais do mesmo.
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Concordo com vc, mas o que eu quis dizer é que existe um grupo desde a saída do Cristóvam comanda as obras públicas, mobilidade é uma delas. Este grupo, auxiliado por grandes empresas não se preocupam em atender a população, somente realizar obras gigantescas é onerosas. O esquema é muito grande e financiador de campanhas eleitorais, mesmo que hoje seja proibido.
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O DF sempre na contramão da tendência moderna de priorizar os modos coletivos e saudáveis de transporte. Mais uma Linha Vermelha, a exemplo da EPTG. Mais pistas, viadutos e túneis para encher o DF ainda mais de carros e, assim, sufocar a população com gases poluentes e incentivar o sedentarismo. É como digo, a política rodoviarista atrasada de incentivo ao carro é apartidária. Mudam os governos e continuam os incentivos absurdos ao rei automóvel.
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No vídeo sobre a imobilidade na região da ponte do Bragueto (https://www.youtube.com/watch?v=OUx2s9Iiw6I) dá para ver e ouvir a agonia, os riscos de quem passa a pé e de bicicleta, e de quem chega de ônibus. Fica a pergunta ao governador e aos gestores da mobilidade no DF: o que dizer aos trabalhadores que lutam para chegar vivos ao local de trabalho todo dia? No caso de um cadeirante ou cego, a pessoa tem que se contentar em simplesmente ficar em casa ilhada, sem poder trabalhar ou ter atividades de lazer, em razão de a cidade ser pensada apenas para motores e não para pessoas?!
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