reporter-senado-brasil-estrangeiro-julho-2013-29-aPoema de Luiz Martins da Silva. Foto de Chico Sant’Anna

Quero, bem antes da grande noite
Do alvo e suave silêncio,
Entrar em estado de brados
E atirar um susto, de asas abertas:
“Dê cá um abraço!”.

Você há de se admirar do tempo
Que se passou desde que nos vemos
E como eu posso ter lembranças
De fatos que ‘nem aconteceram’
E do quanto se marcam em distante calendário.

Nem carecem dizeres e proclamas
Basta a força da parábola,
A palavra mais abrangente
Não exige pronúncia, nem anúncio,
O amor se criva é de miragens.

Meu coração pulsaria a cada aparição
De um afeto que não conhece datas,
Mas, são tantas afeições de uma vida
Que eu terei de latejar por muitas delas
Até que, de novo, de uma aurora para outra.

Nós sempre nos veremos e há um código,
A senha pela qual não seremos forasteiros.
Basta um aroma, um fonema, um cheiro
E, como de um sopro, virão torrentes de naipes
De quando ainda brincávamos de infância na Humanidade.

Até parece que não podemos antecipar o passado,
Mas, antes, por isso mesmo, marco x na folhinha.
Eu vivo cada um, como se fosse mais uma medalha
Olímpica de quem chegou feito centelha,
Mal se partiu e já estamos no páreo da chegada.

Os pássaros deixaram peninhas pelo paço
E eu as recolho, uma a uma, como fragmentos
De pessoas que passaram pela vida e nela ainda estão
Feitos remansos celestiais para alguma canto
De encanto nessa modesta Via Láctea.