
Entre os dias 23 e 24 de agosto, passado, o caudaloso rio Paranã teve seu leito seco. Era possível atravessá-lo a pé, nas imediações do município de São João da Aliança, em Goiás.
Por Chico Sant’Anna
O Vale do Paranã, de onde decolam os adeptos das asas deltas, é famoso dentre os místicos pelas supostas aparições de discos voadores e pela energia dos cristais. Por lá, também são achadas pictogrifos que deixam extasiados os pesquisadores. O mais recente mistério que encabula a todos é o desaparecimento, por 24 horas, das águas do Rio Paranã. Entre os dias 23 e 24, passados, o caudaloso rio teve seu leito seco. Era possível atravessá-lo a pé nas imediações do município de São João da Aliança, em Goiás.
O rio Paranã nasce no Planalto Central, nos arredores do município de Formosa. Um de seus tributários mais famosos é o rio Itiquira, conhecido dos brasilienses pelas numerosas quedas naturais. Ele corre em direção ao estado do Tocantins, e cerca de 50 quilômetros estado a dentro, depois de receber as águas do Rio Bezerra, deságua no Rio Tocantins, justamente nas imediações do município de Paranã. Vídeos gravados por moradores da região mostram que a interrupção do curso das águas matou uma grande quantidade de peixes e de outras espécies do ecossistema aquático fluvial.
Ao contrário do Mar Vermelho, cujas águas foram afastadas por Moisés para que o povo judeu pudesse cruzá-lo, o desaparecimento das águas em Goiás tem justificativas bem menos celestiais. A denúncia do desaparecimento das águas foi feita por meio do blog institucional do Assentamento de Trabalhadores Rurais de São Vicente. Desde que foi legalizado pelo governo federal em 1997, nas imediações da cidade de Flores de Goiás diversos trabalhadores vivem da agricultura.
Suspeitas:
Há três suspeitas da causa da seca no leito do Paranã. A primeira aponta para secretaria de Desenvolvimento Econômico, Científico e Tecnológico e de Agricultura, Pecuária e Irrigação de Goiás, responsável pelo gerenciamento de barragens no Estado. O fechamento de duas comportas buscaria viabilizar levantamento aerofotogramétrico do leito do rio, para a elaboração do plano de segurança de barragem. Para que o trabalho fosse feito, seria necessário que o leito do rio tivesse pouca água. Outra suposição aponta para o sequestro das águas pelo agronegócio da região. As águas teriam sido desviadas, por meio de um canal artificial, para abastecer propriedades privadas e plantações em Flores de Goiás. Por fim, há a hipótese de um problema elétrico, que teria fechado involuntária e temporariamente as comportas.

Autoridades de municípios banhados pelo Paranã consideram que o ocorrido é um crime ambiental e querem que os responsáveis sejam punidos. Por atravessar várias Unidades da Federação, o Paranã é um rio federal e por isso compete à Agência Nacional de Águas (ANA) fiscalizar o seu uso. Autoridades federais estiveram na região, mas ainda não se pronunciaram. Também o Ibama inspecionou a área, mas igualmente não divulgou o laudo sobre danos ambientais, em especial sobre a mortandade de peixes. Parece que esse será mais um tema para ampliar a lenda mística da região.