
Na área, avaliada em 1,653 milhão de metros quadrados, entre o Estádio e o Autódromo, será autorizada a construção do Boulevard – centro comercial a céu aberto, chamada de mall pelos norte-americanos. Poderão existir edificações de até 12 metros de altura. Edital sai em 45 dias.
Por Chico Sant’Anna
O governo do Distrito Federal vem implementando políticas consideradas radicais de mudanças nas regras urbanísticas e também de privatização de estruturas públicas da cidade. LUOS, PPCUB, PLANAP são siglas mais afeitas aos técnicos e juristas, mas que mexem diretamente na vida do brasiliense e, em especial, na forma como Brasília e as demais regiões administrativas foram concebidas.
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No meio desse imbróglio todo, a privatização do Complexo Desportivo que reúne estádio, autódromo e ginásio de esportes ganhou um ingrediente novo. Para tornar mais palatável à privatização daquela área, o GDF propõe que não apenas os prédios e instalações desses equipamentos sejam entregues a iniciativa privada, mas sim toda a área envolta deles e que nela seja autorizada a quem assumir as instalações desportivas a possibilidade de erguer um centro comercial a céu aberto, uma espécie de mall, denominada Boulevard, entre o Estádio e o Autódromo. As mudanças urbanísticas, pelo o que se sabe, não foram submetidas a nenhuma audiência pública. Pelo projeto, a área edificável hoje no Setor de Recreação Pública Norte – SRTN, estimada em 6,39% do espaço total, seria multiplicada por quase sete vezes, passando a 42,6%.
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O Estádio e o Autódromo são hoje propriedades da Terracap. O que chama a atenção nessa repentina mudança de estratégia, é que até hoje todos proclamavam aos quatro cantos que o bilionário estádio Mané Garrincha era um estádio multifuncional, com potencial para atividades diversas e que por isso atrairia interessados do Brasil e do exterior. Entretanto, o GDF resolveu colocar mais cereja no bolo. Acrescentou a possibilidade de se edificar numa área até então livre ao público. Ele agrupou todos os equipamento existentes no SRPN e pretende licitar a área completa, estabelecendo apenas que trechos terão livre circulação do público, quais serão edificáveis e em quais deverão ser proibidas novas instalações.
Puxão de orelha
Dentre de 45 dias deve sair o edital para a privatização da área, avaliada em 1,653 milhão de metros quadrados – uma mancha de terra que vai das imediações do UniCeub, na Asa Norte, até o Eixo Monumental, e do Setor Hoteleiro Norte, até as proximidades do Palácio do Buriti. Nessa mancha, o empreendedor poderá erguer várias edificações. No croqui ilustrativo feito pelo GDF é possível contabilizar 30 edificações. No perímetro do Autódromo, seriam mais 21 instalações. Em algumas localidades dessa área, poderão existir edificações de até 12 metros de altura. Também será autorizada a exploração comercial dos estacionamentos existentes nas proximidades. Isso deve encarecer a vida de quem trabalha na Praça do Buriti e se vale do estacionamento no lado Oeste do Nilson Nelson. Não está claro qual será o destino do Drive-in, também não foi possível apurar se essas edificações eliminariam as quadras desportivas, pistas de atletismo dentre outros equipamentos, abertos gratuitamente ao público. Outra dúvida, é o destino da escolinha de natação do Defer.
A iniciativa de mudanças no planejamento urbano do Setor de Recreação Pública Norte, embora tenha contado com a benção do IPHAN, é considerada agressiva ao tombamento do Plano Piloto enquanto Patrimônio Universal da Humanidade. Segundo Vera Ramos, presidente do Instituti Histórico e Geográfico do DF, as 36ª e 37ª Decisões do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco ao Brasil, aprovadas em 2012 e 2013, determinaram que projetos para a área do Estádio Mané Garrincha e seus arredores sejam submetidas previamente ao Centro do Patrimônio Mundial, “antes de qualquer compromisso de aprovação de projeto ou execução de obras”.
Do Rio de Janeiro, a filha de Lucio Costa e tia de Rollemberg entrou nessa empreitada de tentar proteger o projeto de Brasília. Nas redes sociais, Maria Elisa Costa foi instada a dar um puxão de orelha do sobrinho, mas respondeu: “santo de casa não faz milagre!!!