Por de trás dessa realidade corre muito dinheiro. Em 2018, o orçamento do SLU foi de R$ 556 milhões. Mais de meio bilhão de reais. Desse total, R$ 427,4 milhões foram destinados a remunerar as empresas terceirizadas que operam a limpeza pública. O lixo é uma mina de dinheiro.
Por Chico Sant’Anna
É inconcebível como Brasília, uma cidade moderna, não consegue cuidar do lixo urbano que produz. O sistema consome mais de meio bilhão de reais e é ineficiente. Não há coleta seletiva eficaz e os pontos de entrega voluntária – PEV são inadequados e incapazes de dar vazão ao volume de rejeitos produzidos.
No período de janeiro a setembro de 2018, foram coletadas pelo SLU 589,7 mil toneladas de resíduos sólidos domiciliares e de varrição. Desse total, 97,57% – quase a totalidade -, foram enterrados nos aterros sanitários do DF. Não foram reciclados.
Das 575.3 mil toneladas de rejeitos aterrados, 540,5 mil toneladas foram no recém-inaugurado Aterro Sanitário de Brasília (ASB). Isso tudo sem contar com quase um milhão de toneladas (991,6 mil toneladas) de podas e galhadas aterradas no antigo lixão da Estrutural. Nesse mesmo período, a coleta seletiva se limitou ao recolhimento de 22.391 toneladas de materiais recicláveis. Os dados estão no portal do Serviço de Limpeza Urbana – SLU.
Os números demonstram a ineficiência ou mesmo a inexistência operacional da coleta seletiva na Capital Federal. Ela cobre apernas 3,8% do lixo urbano produzido no Distrito Federal. Isso sem contar com as cerca de 350 mil toneladas de entulho decorrentes de construções. No passado, a Novacap operou uma usina de reciclagem de entulho que se valia dos rejeitos para a produção de matéria prima a ser utilizadas em pavimentação e produção de pré-moldados. Hoje, tudo é jogado no velho lixão. Esse material é rico em metais e madeira, mas como não há triagem vira tudo lixão. A coleta de podas e resíduos vegetais também poderia ser reciclada se fosse direcionada à compostagem, revertendo em adubo orgânico ao trato dos jardins e áreas verdes da cidade. Mas o destino tem sido o lixão.

Com esse perfil do tratamento dos resíduos sólidos, o novo aterro de Samambaia, que custou R$ 45 milhões apenas na construção da sua primeira etapa, pode ter sua vida útil reduzida em um terço. Previsto para durar 30 anos, ele deveria receber exclusivamente o material não reciclável. Entretanto, recebendo todo o tipo de rejeito, especialistas arriscam a dizer que em pouco mais de uma década ele estará saturado.
Ainda em seus primeiros meses de funcionamento, o aterro apresenta problemas estruturais. Vazamento de chorume foram registrados por duas oportunidades. Chorume é um líquido escuro e ácido, de odor desagradável, proveniente da decomposição da matéria orgânica depositada nos grandes lixões e nos aterros sanitários. Os dois vazamentos registrados atingiram a rede de águas pluviais e o córrego Melchior, que corre por Ceilândia e Samambaia e deságua no Descoberto, principal fonte de abastecimento de água do DF. O Aterro teve sua gestão terceirizada pelo GDF e é operado pelo Consórcio Samambaia Ambiental.
As usinas de tratamento de lixo são insuficientes para processar todo o resíduo sólido da Capital. A usina pioneira, existente na Avenida das Nações, há muito está inoperante e se transformou mais em um pátio de transbordo de resíduos do que propriamente dito uma usina de tratamento de lixo. No passado, além da triagem de metais e plástico, ali se produzia adubo orgânico aos produtores rurais do DF. No ano passado, de janeiro a setembro, a usina da Ceilândia, criada na década de 1980, processou 174, 8 mil toneladas.
Participação popular
Falta a Brasília espaços para a população fazer voluntariamente a triagem do lixo que produz. No exterior, em países que já deram solução a esse problema, além da coleta seletiva doméstica, qualquer cidade possui pontos de entrega voluntária de lixo, os chamados Ecopontos. São locais onde os moradores encontram diferentes caixas de coletas, uma para cada tipo de rejeito.

Na Alemanha, o sistema avançou tanto que, em algumas cidades, a coleta de vidro já se dá de forma triada pelas cores: vidros marrom, transparentes e verdes, cada um no seu lugar. Isso sem contar as máquinas nos mercados que recebem de volta garrafas de vidro ou plástico e recompensam financeiramente quem devolveu os vasilhames. Em Portugal, os Ecopontos possuem coletores específicos para pilhas e baterias, papel separado de papelão, metais e vidros.

Em cidades espanholas, as prefeituras instalam nas esquinas containers para receber embalagens de aerossol, garrafas pet, separadas dos demais plásticos, e até para roupas e calçados usados. Dessa forma, além de propiciar uma cidade limpa, assistem aos mais carentes.
Mas em Brasília tudo é uma sujeirada só. O que se pergunta é a razão do Distrito Federal não adotar as tradicionais lixeiras coloridas, nas quais o brasiliense pode depositar separadamente o metal, vidro, papel, plástico e lixo orgânico. Aqui a iniciativa do Serviço de Limpeza Urbana – SLU, no governo passado, foi fixar pontos de coletas de lixo e de entulho: os papas-lixo e papas-entulho. Ao todo, existem 83 papas-lixo e dez papas-entulho espalhados no DF, notadamente nos locais de difícil aceso à coleta de lixo por caminhões.

Os papas-lixo são containers semienterrados, aos quais a população deve direcionar os resíduos que produz. Mas a proposta parece não estar dando muito certo e tem resultado na proliferação de mini lixões. O sistema não faz triagem dos rejeitos, que já poderia contribuir na coleta seletiva, e parece ter capacidade de acumular lixo bem menor do que é produzido pela sociedade. Moradores também não ajudam. Jogam o lixo de qualquer maneira, no chão, e não fazem separação dos rejeitos. Transformam as áreas dos papas-lixo e entulho em locais de muita sujeira e focos para insetos, roedores, capazes de transmitir doenças. O SLU reconhece que ainda falta um pouco de conscientização da população, mas ressalta que esses equipamentos foram responsáveis pela coleta de janeiro a setembro de 5.068 toneladas de resíduos sólidos domiciliares.
Meio bilhão no lixo
Por de trás dessa realidade corre muito dinheiro. Em 2018, o orçamento do SLU foi de R$ 556 milhões. Mais de meio bilhão de reais. Desse total, R$ 427,4 milhões foram destinados a remunerar as empresas terceirizadas que operam a limpeza pública. O lixo é uma mina de dinheiro. De 2011 a 2018, o orçamento do SLU cresceu 65% e até hoje o serviço não está a contento.
Poucas coisas no Brasil são menos lixo do que os contratos do Estado com as máfias das empresas de coleta de lixo.
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Papa-Entulho de Taguatinga é um exemplo da falta de organização. Área grande, mas sem sinalização ou placas indicativas onde depositar o lixo já separado . Resultado: Já está se formando um amontoado de entulhos e lixo bem na entrada.
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Rodrigo, nos envie foro ai da situação de Taguatinga. Mande pelo email blogdochicosantanna@gmail.com
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O papa-lixo da foto parece estar cheio até a boca! Não adianta colocar um container e não o esvaziar.
Havia coleta de descartáveis na minha residência (Lago Sul) 2x/semana, foi interrompida, retornou só 1x/semana. Antes o caminhão vinha tocando uma música, anunciando sua passagem, atualmente não tem aviso.
Mas o pior de tudo é não haver reciclagem de vidro no DF, o caminhão não leva vidros!
Mesmo se o cidadão quiser colaborar com a limpeza do ambiente, o caminho é difícil.
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Você tem razão, Tania. Tirando alguns mercados que recebem rejeitos sólidos para triagem, no mais vai tudo pra uma vala só. E a gente paga caro por um serviço ruim
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No Gama havia coleta de lixo orgânico três vezes na semana. E de material não orgânico também três vezes. Desde o segundo semestre de 2014 não há mais a “coleta seletiva”. E o caminhão passa apenas três vezes por semana. Tenho quase que certeza que a receita da empresa que explora o serviço não foi reduzida por ter caído à metade os dias de trabalho. Um verdadeiro lixo, né?
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