
“A construção da capital envolveu a urbanização de um território bem mais amplo, que já transborda os limites do Distrito Federal. Além disso, Brasília é também construção simbólica realizada por meio de imagens, narrativas e discursos produzidos em meio a ampla controvérsia.”
Por Chico Sant’Anna
Prestes a completar 59 anos de existência, Brasília é tema para dois números da Revista Urbana, uma publicação acadêmico cientifica do Centro de Estudos Interdisciplinares sobre a Cidade da Universidade de Campinas (CIEC-UNICAMP). O primeiro volume do chamado Dossiê Brasília já está disponível gratuitamente na internet (clique aqui).
Em seu editorial, Maria Fernanda Derntl, ressalta que a construção de Brasília não foi apenas a tarefa de erguer os monumentos e superquadras que deram reconhecimento internacional ao Plano Piloto como experiência arquitetônica e urbanística.

“A construção da capital envolveu a urbanização de um território bem mais amplo, que já transborda os limites do Distrito Federal. Além disso, Brasília é também construção simbólica realizada por meio de imagens, narrativas e discursos produzidos em meio a ampla controvérsia. Em seus primórdios, a nova capital foi defendida como aspiração secular e corolário da afirmação de um Brasil moderno. Em contraste, mereceu, na mesma época, a condenação de críticos que a viram como expressão autoritária e epítome da falência do modernismo” – diz ela.
Sobre a história de Brasília, leia também:
De certa maneira, esse primeiro volume do Dossiê Brasília traz para as páginas do debate acadêmico a problemática do cotidiano vivenciado pelos brasilienses – por amor ou nascimento – diante de uma metrópole que tem o desafio de abrigar mais de três milhões de habitantes e ao mesmo tempo se preservar urbanística e ambientalmente.

A obra busca problematizar os diversos processos envolvidos em sua formação urbana, que está longe de estar esclarecida e recusa-se a simplificações, explica a professora Derntl.
“Muito além da mera polarização entre defensores e detratores, na metrópole contemporânea, novas formas de vivência dos espaços e múltiplas representações desafiam as críticas tradicionais e atribuem à capital significados nunca previstos nas pranchetas de seus arquitetos ou nos discursos de seus fundadores. Estudos recentes reconhecem essa complexidade, revisitam questões aparentemente pacificadas e trazem à tona temas e problemas novos ou ainda pouco explorados” – complementa.
Sobre o Urbanismo de Brasília, leia também:
Sempre em perspectiva histórica ou historiográfica, os artigos buscam reatualizar as polêmicas que antecederam e acompanha(ra)m a trajetória de Brasília. A publicação conta com apresentação de Josianne Cerasoli e artigos inéditos sobre a história, o patrimônio e as representações de Brasília, de autoria de Sylvia Ficher, Carlos Henrique de Lima, Carolina Pescatori, Thiago Perpétuo, Fabio Franzini e Renata Almendra. Há ainda dois artigos sobre o Rio de Janeiro de Ana Carmen Jara Casco e Rebeca Grilo de Sousa.
Trata-se, pois, de uma leitura obrigatória, não só para os acadêmicos e interessados no urbanismo, mas principalmente para aqueles que abraçaram a defesa da cidade enquanto Patrimônio Universal Cultural da Humanidade, bem como daqueles que têm o poder de definir os marcos jurídicos que regularão o futuro dessa cidade.
Ótima matéria
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