Dois novos anfíbios foram identificados na área do Parque do Salto Tororó. A região é a nova fronteira da expansão urbana no Distrito Federal.

 

Por Chico Sant’Anna, com base em texto distribuído pelo Ibram

 

Embora se depare com um processo de urbanização selvagem, a natureza dá mostra de resiliência em áreas que sofrem pressão fundiária no Distrito Federal. Espécies ainda não descritas, endêmicas e ameaçadas de extinção foram identificadas nos limites do Parque Distrital Salto do Tororó, localizado ao longo da DF-140.

O salto do Tororó, uma queda livre de cerca de 12 metros de altura, é uma das riquezas do local.

O Parque Distrital Salto do Tororó, é uma unidade de conservação que surgiu devido a urbanização crescente e a pressão de ocupação das áreas na região. A proposta é promover e conservar os recursos naturais da região, como forma de assegurar o Meio Ambiente equilibrado à população local e a preservação do Bioma Cerrado no Distrito Federal. O salto do Tororó, uma queda livre de cerca de 12 metros de altura, é uma das riquezas do local. Ele se localiza na Região Administrativa de Santa Maria – DF.

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As descobertas científicas fazem parte de etapa preliminar do Diagnóstico de Fauna do parque, prevista no Plano de Manejo da área e estão sendo analisadas pelas diretorias de Fauna (Difau) e de Implantação de Unidades de Conservação (Dipuc) do Instituto Brasília Ambiental (Ibram). A ocorrência das espécies indica que há um trânsito de fauna na região. “É provável que isso ocorra pela proximidade com áreas preservadas como o Jardim Botânico e a Reserva Ecológica do IBGE”, diz Carolina Lepsch, diretora da Dipuc.

Vulgarmente conhecido por rabudo, punaré ou rato-boiadeiro, o roedor foi encontrado no Cerrado do Distrito Federal.

No local, foi encontrado um pequeno roedor, mamífero da espécie Thrichomys sp., vulgarmente conhecido por rabudo, punaré ou rato-boiadeiro. Segundo a bibliografia científica, seu habitat mais tradicional é litoral do Nordeste do Brasil, a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, embora também esteja presente no Paraguai e Bolívia. Por não ter sido descrita, não há informações precisas sobre sua biologia, ecologia, dados populacionais, distribuição e estado de conservação.

Anfíbios

No grupo dos anfíbios foram registradas duas espécies: Aplastodiscus lutzorum é uma rã que foi identificada pelos especialistas apenas em 2017. Ela foi encontrada em apenas três localidades: Unai – MG, Alto Paraiso – GO, e agora em Brasília. Todos os exemplares encontrados foram avistados em florestas de galerias, com palmeiras da espécie Buritis (Mauritia flexuosa). Dai a importância da preservação do bioma do Cerrado, em especial nas áreas de várzeas.

A nova rã recebeu o nome de Aplastodiscus lutzorum em homenagem aos pesquisadores Adolfo e Bertha Lutz, pioneiros nos estudos das espécies do gênero. Ela é encontrada exclusivamente no bioma Cerrado e seu grau de ameaça não é conhecido. Ao olhar do leigo seria mais uma simples perereca, mas trata-se de uma nova espécie devido a seu tamanho reduzido em relação a outras espécies. Ela é pouco maior do que a ponta do dedo polegar, possui de 30 a 36 milímetros de comprimento, sendo a menor do ramo da espécie. A diferença básica para outras rãs é a coloração bicolor da iris

Enyalius capetingae foi descoberto recentemente pelos cientistas e já foi alvo de publicações científicas internacionais. Foi identificado apenas em 2018 e foi visto pela primeira vez na Fazenda Água Limpa da UnB, onde há o Riacho da Capetinga.

A outra espécie foi o lagarto Enyalius capetingae. É um animal descoberto recentemente pelos cientistas e já foi alvo de publicações científicas internacionais. Foi identificado apenas em 2018 e foi visto pela primeira vez na Fazenda Água Limpa da UnB, onde há o Riacho da Capetinga. Daí seu nome. Ele habita as matas de galeria do Cerrado no Distrito Federal. Também já foi visto em Catalão e Paracatu. Esse novo “calango” foi alvo de pesquisadores da Universidade Católica de Brasília que consideraram o exemplar candango uma evolução independente da espécie Enyalius, tradicional da Mata Atlântica.

O trabalho registrou, ainda, a ocorrência de espécies ameaçadas de extinção como o Lobo Guará (Chrysocyon brachyurus) e aves como o Papagaio-galego (Alipiopsitta xanthops); Tapaculo-de-Brasília (Scytalopus novacapitalis) e a Campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens).

“Apesar de o parque estar próximo à APA Gama e Cabeça de Veado, a área faz divisa com inúmeros condomínios e sofre com a pressão de novos parcelamentos. Nesse contexto, as informações do plano de manejo podem subsidiar ações de conservação e preservação para área. A fauna ainda respira em nossos parques”, comemora Rodrigo Santos, membro da Comissão Interdisciplinar de Análise do estudo.