No Rio Grande do Sul, arquibancadas vazias marcaram o clássico fantasma, segundo a ESPN, entre Peru e Venezuela.

Concentrar a Copa América em seis estádios, sendo dois deles em São Paulo, não tem justificativa. Até mesmo por desconsiderar investimentos pesados por ocasião da Copa do Mundo. Isso custou muito ao contribuinte e ter um retorno desses investimentos seria o mínimo a se esperar. Cidades como Brasília, Manaus, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza e Natal não poderiam ter sido excluídas.

 

Por Chico Sant’Anna

 

Mais uma vez os organizadores do futebol brasileiro dão uma bola fora.

Um dos maiores objetivos em sediar eventos desportivos internacionais é o estimulo ao turismo e, consequentemente, ampliar a entrada de divisas externas. É assim com as Olimpíadas, é assim com a Copa do Mundo e também com a Copa América. Tudo deve ser feito para atrair o maior número de turistas. Foi assim que Barcelona, ao sediar, em 1992, os Jogos Olímpicos, se consolidou como destino de turistas de todo o mundo.

Dessa forma, além de deixar a casa arrumada para receber bem os turistas torcedores é fundamental uma arquitetura da geodistribuição das sedes dos jogos. Quanto mais fácil de se chegar às cidades sede dos jogos, mais chance de se ter uma boa presença de turistas estrangeiros.

E o Brasil, ao possuir fronteiras com quase todos os países sul-americanos (excetuando Equador e Chile), poderia ter distribuídos os jogos, pelo menos na primeira fase, mais próximos dos vizinhos. Seria inclusive uma forma de dinamizar a economia de alguns Estados que tanto sofrem com a crise econômica.

Mas parece que o Brasil, a CBF, a Conmebol ou sei lá quem que escolheu as sedes da Copa América ignorou tudo isso. Não dá para entender a alocação do jogo Peru e Venezuela em Porto Alegre. A consequência dessa infeliz decisão foi a já esperada: estádio vazio.

Copa América: Peru e Venezuela fazem ‘jogo-fantasma’ na Arena do Grêmio, essa foi a chamada do site da ESPN, informando que menos de ¼ dos assentos foram ocupados. Provavelmente, a lotação teria sido muito maior em Manaus. Até porque, o que não falta é venezuelano no Amazonas e em Roraima.

A maratona de aviões que um torcedor desses dois países precisa enfrentar para torcer por suas seleções na capital gaúcha é imensurável. Lima dista 5 mil km de Porto Alegre e Caracas, 7 mil km. Além de onerosa, demanda a disponibilidade de muito mais tempo para a viagem. Para os torcedores desses dois países é mais fácil e econômico chegar a Miami, nos Estados Unidos, do que em Porto Alegre. Ao todo, foram apenas 13.370 torcedores no estádio gaúcho – o que representa 24% da lotação da arena.

Fonte Nova

Da mesma forma, não há sentido em alocar Colômbia e Argentina, na belíssima Salvador. São cerca de 8.400 km de Bogotá à capital bahiana e 4.100 km de Buenos Aires. E não há voos diretos desses países para a Bahia. Na Fonte Nova, mais de 15 mil lugares não foram preenchidos. Os dois países, Argentina e Colômbia, são cotados para levantar a taça. É um clássico sul-americano, jogo para ficar superlotado, não sobrar lugar disponível, se bem localizado. Melhor teria sido a designação de um campo gaúcho. Lá, com certeza, los hermanos teriam lotado o estádio, os bares, os restaurantes e, estimulado a já tão combalida vida econômica dos gaúchos. Empresários de Brasilia estimam que não ser sede da Copa América representou um prejuízo de R$ 100 milhões de reais.

Sobre as perdas econômicas de Brasília, veja aqui.

Arena Pantanal, em Cuiabá, teria maiores condições de atrair torcedores bolivianos e paraguaios do que estádios no Nordeste e Sudeste.

Na Fronteira

Nessa primeira fase de classificação da Copa América, o Brasil deveria ter distribuído os jogos pelas cidades com estádios adequados e localizadas próximas às fronteiras com os demais países sul-americanos.

Cuiabá, que foi sede de um grupo na Copa do Mundo, teria sido muito mais adequada do que o estádio do Morumbi, em São Paulo, para receber o jogo de abertura entre Brasil e Bolívia.

Mesmo com a maior colônia boliviana no Brasil, São Paulo não conseguiu lotar o estádio para o jogo de estreia. O recorde de renda na partida, festejado pelos organizadores, só foi possível com a cobrança de preços  abusivos dos ingressos: em média, R$ 445,00.

O público presente foi de 47.360 espectadores. Cerca de 13 mil pessoas a mais do que o amistoso Brasil e Qatar, no Mané Garrincha. A cada cinco assentos do Morumbi, um estava vazio. E olhe que foi jogo oficial, de abertura do torneio continental. Era pra ser casa cheia, botando gente pelos ladrões.

Se o jogo fosse na Arena Pantanal, em Mato Grosso, certamente não haveria lugar desocupado. Caravanas de torcedores teriam atravessado a fronteira, até mesmo de carro ou ônibus.

Paraguai e Catar, no Maracanã, foi mais um jogo de arquibancadas vazias.

Maracanã

Cidades como Londrina, no Paraná, também seriam adequadas para receber jogos do Paraguai e Argentina. O estádio do Café seria ótimo para receber Paraguai e Qatar.

No Maracanã, com capacidade para 62 mil espectadores – com o ingresso mais barato a R$ 120,00 -, essa partida atraiu apenas 19 mil torcedores.

Mesmo Curitiba e Florianópolis – mais a Leste -, igualmente dotadas de estádios de qualidade, facilitariam a atração dos torcedores.

Seis estádios

Concentrar a Copa América em seis estádios, sendo dois deles em São Paulo, não tem justificativa. Até mesmo por desconsiderar os investimentos pesados realizados Brasil a fora por ocasião da Copa do Mundo. Isso custou muito ao contribuinte e ter um retorno desses investimentos seria o mínimo a se esperar.

Cidades como Brasília, Fortaleza e Natal não poderiam ter sido excluídas. Seria muito mais inteligente e bastante tranquilo distribuir os jogos dessa primeira fase em uma gama maior de cidades e de fácil acesso a turistas sul-americanos. Que os estádios de centros como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas ficassem para as fases seguintes. Mas ninguém sabe o que orienta o raciocínio dos cartolas brasileiros.