Há quase uma década, a linha atual do metrô já poderia ter chegado ao Setor O da Ceilândia, na Expansão de Samambaia e nas imediações do Hran, na Asa Norte. Os recursos foram liberados no governo Lula ao governador Arruda e depois re-disponibilizados a todos os governos sucessivos até Rollemberg. Mas todos esses governadores perderam as oportunidades de contar com verbas federais para tocar essas obras.

Por Chico Sant’Anna

 

Um convênio com a Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU vai permitir o uso compartilhado das vias férreas visando a implantação do trem regional.

Não se empolgue leitor, isso é em Curitiba.

A cidade que na década de 1970 implantou o BRT, planeja agora usar as linhas férreas que cruzam a região metropolitana para implantar linhas regionais e urbanas de trem com o uso da tecnologia do Veículo Leve sobre Trilhos – VLT. Por aqui, no Planalto Central, diria um mineiro, esse trem num anda. O VLT prometido por Ibaneis Rocha para rodar em fase de teste no final de janeiro, chega a agosto sem nenhuma perspectiva concreta. Ficou no rol das promessas de campanha não materializadas.

Em Curitiba, serão avaliados três ramais ferroviários, atualmente usados pelo transporte de cargas. No interior do Ceará, as antigas linhas da Rede Ferroviária Federal já foram trasformadas há anos no VLT do Cariri. Aqui, na Capital Federal, a insistência ainda é o BRT, tecnologia de 50 anos atrás. Três linhas tiveram suas obras iniciadas, mas nenhuma foi concluída. A linha da EPTG foi a primeira, ainda no governo Arruda. A pista exclusiva foi implantada, mas passados cinco governantes (Arruda, Rosso, Agnelo, Rollemberg e Ibaneis) nenhum deles se lembrou de comprar os ônibus com portas dos dois lados.

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Estação do BRT da Candangolândia está abandona e inconclusa desde 2014. Perna do BRT-Sul interligando a linha a Estação Sul do Metrô não foi executada. Foto de Chico Sant’Anna

Um BRT pra cada governador

Em 2010, o governador Agnelo preferiu fazer o seu próprio BRT. Gama e Santa Maria estão interligados com o Plano Piloto, mas uma perna do BRT-Sul, que atravessa a Candangolândia, passa pela Rodoviária Interestadual e chega a Estação Sul do Metro, não foi concluída, impedindo a integração Metrô-BRT. Rollemberg também quis um BRT pra chamar de seu e deu início a linha Norte. Passados três anos, o Trevo de Triagem Norte – a um custo de quase R$ 200 milhões -, ainda está em execução e faltam muitas obras para que o BRT chegue a Sobradinho e Planaltina. A solução rodoviarista escolhida por Rollemberg custaria, há três anos, quase R$ 1 bilhão (R$ 996 milhões), valor que não incluía a aquisição dos ônibus do BRT que no futuro irão trafegar nessa linha. Atenção gestores> não se esqueçam dos ônibus.

Nesse meio tempo em que nada andou, quem ficou efetivamente parado foi o metrô, o vlt e o trem regional para o Entorno Sul. Há quase uma década, a linha atual do metrô já poderia ter chegado ao Setor O da Ceilândia, na Expansão de Samambaia e nas imediações do Hran, na Asa Norte. Os recursos foram liberados no governo Lula ao governador Arruda e depois re-disponibilizados pelos governos sucessivos. Mas todos esses governadores citados acima até Rollemberg perderam as oportunidades de contar com verbas federais para tocar essas obras. No início do segundo governo Dilma os recursos ainda estavam disponíveis, mas Rollemberg, que apoio Aécio Neves, não soube negociar o repasse.

Perderam também os recursos para a implantação da primeira etapa do VLT, cerca de R$ 250 milhões, valores da época; ligando o Aeroporto a Asa Sul e fazendo integração com o metrô. O Distrito Federal perdeu, desde 2009, a injeção de pelo menos R$ 1,2 bilhão para implantar um serviço de mobilidade urbana de qualidade e, de carona, reduzir o desemprego na Capital Federal, que não para de crescer.

Dinheiro de metrô para BRT

O prejuízo ainda foi maior, pois Agnelo preferiu usar o dinheiro destinado para construir a linha 2 do metrô, ligando Gama a antiga Rodoferroviária, para implementar o BRT-Sul, que renderam R$ 208 milhões em superfaturamento dos preços, como já demonstraram investigações da Polícia Federal. Os moradores do Gama e de Santa Maria ficaram sem sua linha de metrô e padecem até hoje num precário sistema de BRT. Os recursos superfaturados do BRT-Sul eram suficientes para ligar de VLT o aeroporto até a Estação Sul do metrô, no Setor Policial Sul, ou fazer o metrô chegar até a Asa Norte.

Moradores do Entorno poderiam viajar confortavelmente de e para o Distrito Federal. Implantação do Trem Regional desafogaria os engarrafamentos das Saída Sul. Foto Chico Sant’Anna

Trem Regional

Alternativa para quem mora no Gama e Santa Maria seria a adaptação da via férrea do Trem Bandeirante – entre Luziânia e Plano Piloto – em um trem regional. Assim como Curitiba pretende fazer. Em 2014, estudo da Sudeco estimou essa adaptação em R$ 260 milhões, a terça parte do que se gastou no BRT-Sul. Uma composição do Trem do Entorno seria capaz de transportar o que dez ônibus articulado transportam. Sem falar na quantidade de pessoas que deixariam em casa seus carros particulares. No Entorno Sul vivem mais de 500 mil pessoas e a grande maioria depende do DF para estudar e trabalhar.

Mas esse trem também não anda. Sabe-se lá que interesses econômicos estão por de trás dessa paralisia. Serão as empresas de ônibus, que não querem perder passageiros? As concessionárias de automóveis? Postos de Gasolina? As empreiteiras que compraram muitas projeções em cidades satélites do DF e que veriam seus investimentos reduzirem com a potencialização de moradias no Entorno? As brigas de vaidade política entre governantes goianos e candangos? O certo é que o apito do trem só soa quando leva e traz mercadorias pro DF

O governador tem apostado em factoides que dão manchete mas não resolvem o problema de transporte coletivo. Fala em ônibus sem motorista e carro elétrico de aluguel. Uma coisa o brasiliense pode estar certo. O Trem Regional – para não falar no Expresso Pequi até Goiânia – não sai do papel, pelo menos até finais de 2020. Pois nenhum centavo foi alocado na Lei de Diretrizes Orçamentárias do GDF com esse propósito. Se houvesse vontade política, pelo menos algum trocado teria sido previsto no orçamento de 2020.