Ao decidir arrancar a homenagem a Paulo Freire – inaugurada em 2003, pelo então ministro da Educação, Cristovam Buarque – Weintraub também compra uma briga internacional, dessa vez com a Unesco, que é uma das instituições que apadrinham o monumento. Será que vale à pena tanto factoide para aparecer na mídia?

 

Por Chico Sant’Anna

 

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, decidiu comprar mais uma briga. Desta vez não só com os Educadores, mas também com os artistas de Brasília. Em seu twitter, postou foto de um painel em mosaico que referencia a memória do educador pernambucano, Paulo Freire, considerado Patrono da Educação e escreveu: “Mural em frente ao MEC…É ou não é feio de doer?”

Já é notória a incompatibilidade de Weintraub com Paulo Freire, cuja grande contribuição ao mundo do saber é o ensino por meio de ferramentas que levem à conscientização política do povo, em nome da emancipação social, cultural e política das classes sociais excluídas e oprimidas, como ressalta o professor da USP, Moacir Gadotti.

Agora. o ministro da Educação quer retirar a homenagem defronte ao MEC e doá-la ao filho do presidente Bolsonaro, para que ele a leve aos Estados Unidos, caso seja aprovado Embaixador do Brasil naquele país.

 

Publicada originalmente na coluna BRASÍLIA, POR CHICO SANT’ANNA, no semanário Brasília Capital.

Ao mesmo tempo em que demonstra desconhecer a diferença do público e do privado. Pois não pode dispor como se fora dele, um bem que é público; ele também agride a classe artística da cidade. O painel foi feito por um dos artistas plásticos mais querido, ativo e criativo dessa cidade: Henrique Gonzaga Júnior, o mosaicista Gougon.

Gougon, com formação em arquitetura, foi durante anos jornalista político e chargistas. Desde que decidiu se concentrar na produção artística implantou esculturas e painéis de mosaicos em diferentes locais do DF. Na UnB, homenageou Honestino Guimarães, morto pela Ditadura Militar e de quem foi seu colega de universidade. Pelos cantos de Brasília, é possível encontrar obras dele que retratam Juscelino Kubitschek, o urbanista Lúcio Costa, Israel Pinheiro, primeiro prefeito da cidade, Ulissses Guimarães, Darcy Ribeiro e até Cora Coralina.

Ao decidir arrancar a homenagem a Paulo Freire – inaugurada em 2003, pelo então ministro da Educação, Cristovam Buarque – Weintraub também compra uma briga internacional, dessa vez com a Unesco, que é uma das instituições que apadrinham o monumento. Será que vale à pena tanto factoide para aparecer na mídia?

Desagravo

O ex-ministro da Educação, Cristovam Buarque, propõe um ato de desagravo. “Que façamos um grupo para ir colocar um bouquet de flores, com a presenca da imprensa. Eu já fiz isso mas muito solitariamente. Temos que fazer isso logo, antes do fato consumado” – diz Cristovam.

Jornalista, Chargista, Artista Plástico, Gougon é uma das pessoas que faz acontecer a Cultura de Brasília.

Intolerância

Essa não é a primeira vez que Gougon enfrenta a intolerância e a incompreensão de suas obras de artes. Em 2008, ano em que Brasília recebeu o título de Capital Americana da Cultura 2008, a administração de Brasília no governo de José Roberto Arruda, mandou arrebentar a marretadas painéis de mosaicos que o artista  havia instalado quatro anos antes, mesclando artes plásticas e poesia. Ao todo eram seis painéis, cinco foram destruídos, sobrando apenas os cacos pelo chão.

Como relatou o jornalista Alexandre Marino, os painéis veiculavam poemas de vários autores da cidade – entre os quais Cassiano Nunes, que morreu em 2007, Nicolas Behr, Angélica Torres Lima e Fernando Mendes Vianna (morto em 2006). Os painéis poéticos que adornavam praças e paradas de ônibus da Asa Sul foram um presente que Gougon deu à população. “Não foram encomendados por ninguém. Mas Brasília é a cidade do oficial. O poder não respeita as manifestações espontâneas.”