
No estudo foram avaliadas as condições das calçadas, da sinalização para os pedestres, o conforto e a segurança para quem caminha. Definitivamente, o pedestre parece ter sido esquecido. As condições para circulação de pedestres e cadeirantes nas calçadas, ruas e faixas de travessia na Capital da República são degradantes. Brasília recebeu a nota 6,25. Pelos critérios do estudo, o mínimo aceitável seria 8. Ou seja, Brasília foi reprovada
Por Chico Sant’Anna
Caetano Veloso, em suas canção “Alegria, Alegria”, recomendava caminhar contra o vento. Já Geraldo Vandré, nos versos de sua icônica “Caminhando e Cantando”, também recomendava caminhar, cantar e seguir a canção. Já Gilberto Gil, apelou ao Além e recomendou “Andar com Fé”. Mas se, como diz o poeta, a fé não costuma falhar, na Brasília das avenidas largas, cada vez mais, caminhar, talvez mesmo, tenha que apelar às bençãos dos céus. Prevalece a leitura de que ela foi projetada para um ser humano dotado de cabeça tronco e rodas. Definitivamente, o pedestre parece ter sido esquecido. As condições para circulação de pedestres e cadeirantes nas calçadas, ruas e faixas de travessia na Capital da República são degradantes. Quem diz isso é o estudo Campanha Calçadas do Brasil 2019, realizado pela Mobilize Brasil, e que atribuiu à cidade nota 6,25. Pelos critérios do estudo, o mínimo aceitável seria 8. Ou seja, Brasília foi reprovada no quesito acessibilidade. E olhe que o levantamento só focou o Plano Piloto, pois se tivesse se expandido paras cidades satélites a situação seria bem pior.
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O estudo confirma aquilo que o brasiliense já sabe. Não existe uma política de mobilidade urbana que, teoricamente, dê ao pedestre ou ao ciclista. Basta lembrar a briga entre o GDF e a comunidade para que as obras do trevo de triagem norte contemplassem ciclovias e calçadas para pedestres. Os projetos originais só pensaram nos carros. Assim também são os viadutos erguidos sobre a Epia nas obras do BRT-Sul. Não há neles a tradicional calçada lateral. Cabe também à Câmara Legislativa apoiar com emendas ao orçamento, as melhorias das calçadas da cidade.
Talvez por isso mesmo, o brasiliense seja no Brasil aquele que menos caminha ou pedala no trajeto casa trabalho ou casa escola. Os dados são de outra pesquisa, Diferenças socioeconômicas e regionais na prática do deslocamento ativo no Brasil, de Thiago Hérick de Sá, Rafael Henrique Moraes Pereira, publicada, em 2016, na Revista de Saúde Pública, editada pela Universidade de São Paulo.

O pedestre é um ser esquecido em todo o Brasil. Nenhuma capital brasileira apresentou estrutura em condições dignas para que o brasileiro circule a pé. É bom que se diga que a responsabilidade de corrigir tal situação não é só das autoridades governamentais. Todo proprietário de imóvel, seja ele comercial ou residencial, é responsável pela instalação e conservação do passeio público à frente do seu imóvel e esses devem seguir normas técnicas definidas pelas prefeituras. Cabem a essas também – no caso de Brasília o GDF – fiscalizar a obediência da lei.
Também é de responsabilidade das autoridades, em especial do Detran e do Batalhão de trânsito, coibir o estacionamento irregular de veículos sobre as calçadas e jardins. O que se vê, contudo, em Brasília, em especial no centro da cidade, é uma miopia oficial que dói no bolso do contribuinte, obrigado a custear a recuperação dos pavimentos, e nas pernas dos pedestres. Carros e mais carros sobrem nas calçadas sem qualquer preocupação.

Situação no DF
No estudo foram avaliadas as condições das calçadas, da sinalização para os pedestres, o conforto e a segurança para quem caminha. Aqui, duas equipes, com focos diferentes, realizaram as avaliações de caminhabilidade: o miolo das superquadras, de um lado, e, de outro, os espaços institucionais – Esplanada dos Ministérios, Palácio do Buriti, Estação Rodoviária -, passagens subterrâneas sob o Eixão, Avenida W.3, dentre outros.

O resultado das superquadras foi um pouco melhor do que os institucionais. As condições para o caminhar no interior delas foram consideradas razoavelmente adequadas, graças ao trânsito mais ameno e à cultura brasiliense de ceder passagem aos pedestres nas faixas de travessia. Mas nem por isso, o quadro é de excelência.
Os problemas se tornam mais graves nos espaços institucionais. Calçadas destruídas ou inexistentes, acesso precário às paradas de ônibus e largas avenidas sem faixas de travessia ou semáforos de pedestres.

Na Esplanada dos Ministérios, chamou a atenção o contraste entre a arquitetura moderna e as calçadas inacessíveis, sem manutenção, com piso inadequado e sem rampas ou piso tátil. “Na frente do Palácio do Planalto, flagramos pessoas caminhando na rua, entre carros em alta velocidade, em razão do bloqueio instalado sobre a calçada” – destaca Uirá Lourenço, um dos pesquisadores que atuou em Brasília.
Segundo Uirá Lourenço, “Brasília ainda precisa melhorar muito em acessibilidade”. Em geral, as condições são muito ruins, com calçadas destruídas e poucas rampas. O levantamento mostra que quem precisa caminhar encontra calçadas estreitas, buracos, degraus, postes pelo caminho, faixas de travessia apagadas, semáforos ausentes ou deficientes, ambientes agressivos e poluídos e nenhum local para descanso em dias de calor ou chuva. Em outras palavras, é muito baixo o grau de caminhabilidade.
O que é mais grave é que esse tipo de problema se mostra também no entorno de escolas, hospitais e centros de saúde, áreas que deveriam contar com uma atenção diferenciada. O Setor Hospitalar Sul, no final da W.3 e a nova área de clínicas na W.5 Sul, próxima ao cemitério, são exemplos perfeitos dessa realidade. Locais onde as pessoas são cadeirantes, idosas, crianças ou com saúde debilitada repletos de buracos, escadas íngremes, falta de passeio público e de rampas. Ali quem tem a preferência é o carro.
Insegurança
Outro ponto a destacar, na visão de Uirá Lourenço, é a iluminação precária ou inexistente que leva à insegurança e até reduz o uso do passeios à noite e nos finais de semana. “A calçada próxima ao Conic, nós a avaliamos num domingo e a sensação de insegurança foi grande. Havia poucas pessoas e alguns usuários de droga. Ficamos com receio até de usar a câmera para fazer os registros. Também vale destacar as passagens subterrâneas. Apesar de ter um grande movimento de pedestres que precisam transpor o Eixão, as condições são bem hostis, com piso destruído, sujeira, luminárias quebradas, pichação e medo de assalto.” – ressalta.

Dentre as vias com menor nota no Plano Piloto, o destaque foi para a Via S3 que interliga os Setores Comercial e de Autarquias Sul. Em decorrência da precariedade, lhe foi atribuída nota 1,03, o que a colocou dentre as dez piores do Brasil. Junto com ela, se destacam negativamente os passeios públicos da Avenida W.3 Norte, nota 2,13, e do Setor de Rádio e TV Sul, 2,30.
Na ponta oeste do Eixo Monumental, com exceção das calçadas próximas à Câmara Legislativa e ao Tribunal de Justiça o caminho é extremamente difícil para quem simplesmente vai a pé “As calçadas, quando existem, estão em péssimo estado. Rampas de acesso e piso tátil são artigos de luxo, os pontos de travessia são escassos. No Sudoeste, em frente à Polícia Civil, o tempo de espera para os pedestres é de onze minutos. E mesmo no entorno da Estação Rodoviária, os pedestres não encontram caminhos adequados e seguros” – declara Uirá.
Essa condição de falta de acessibilidade agrava o trânsito de veículos na cidade. Sem transporte público adequado, o brasiliense depende dos carros para o transporte diário. Obrigam-se, assim, a viagens motorizadas que enchem as avenidas, ruas e todos os espaços vagos com carros e motocicletas.

Bons exemplos
O levantamento constatou alguns pontos de boa acessibilidade, como algumas quadras residenciais, o Parque da Cidade e o espaço Renato Russo, locais em que as calçadas foram reformadas e estão em ótimas condições. A calçada da 602 Sul, na avenida L.2, que serve à Escola de Música de Brasília, ficou em quarto lugar dentre as melhores do país, com nota 9,13, numa escala que vai até 10. Nota atribuída graças à regularidade do piso e à largura das calçadas. Destaque positivo também para o Parque da Cidade, 9,07, e a Escola Classe da 415 Norte, 8,83.
Brasília perdeu pontos em coisas de fáceis resolução e muitas sob responsabilidade do Detran, que arrecadou 300 milhões nos últimos três anos. Faltam sinalização e semáforos para pedestres, ausência ou necessidade de revitalização de faixas de travessia, além da falta de mapas e placas de orientação. Quem não conhece a capital, não consegue se locomover a pé e acaba se perdendo por falta de orientação. A capital também recebeu avaliações negativas em relação a segurança e pela paisagismo de conforto (árvores com maior sombreamento). Nota baixa também na oferta de mobiliário urbano, como bancos para descanso, bebedouros e banheiros públicos (4,02).
Na verdade, ninguém respeita ninguém, desde pedestres, ciclistas e motoristas. Quantas vezes vou atravessar a faixa, dando o sinal, os carros param mas, os ciclistas e condutores de patinetes motorizados passam tiram triz das pessoas. Ou quando não colidem. Portanto a educação tem que passar pelos pedestres também. É fácil jogar a culpa nos motoristas. Mas o que tem de pedestres se suicidando. Só ver no Eixão, perto de passarelas. A desculpa sempre é a mesma, passarela sem iluminação, sem cobertura, sem telefone, sem banheiro, sem comércio, sem acessibilidade, sem elevador, sem policiamento e por aí vai. Só ver os dados, eles não escondem a verdade, os pedestres ignoram a travessia segura nas passarelas. Simples, se as passagens subterraneas no Plano Piloto não pode ser remodeladas com a desculpa do IPHAN de agredir o tombamento (nota-se que até o subsolo o IPHAN tombou), portanto, quando todas as estações do metrô na Asa Sul estiverem prontas, simples, se as passarelas não tem mais serventia, simples, vamos aterra-las todas. Pronto, acaba com o problema, assim, só teremos as galerias das estações do metrô para travessia. Aí não terão desculpas, pois tem tudo lá, inclusive SEGURANÇA.
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