Em dezembro, soldados e blindados do Exército foram acionados para dar proteção a Penitenciária Federal, dita de segurança máxima, para evitar um resgate de Marcola por membros do PCC. Foto de André Borges/Metropoles.

O alerta era unânime. Todos preveniram Moro de que a transferência de Marcola para o Planalto Central traria insegurança para a cidade que abriga o poder público federal e representações diplomáticas de mais de 200 nações e organizações internacionais. Teimoso, como demonstra ser sua característica pessoal, o ministro da Justiça alegava não haver risco e que a Penitenciária Federal era de segurança máxima. Parece que não era bem assim.

 

Por Chico Sant’Anna

Não precisava ser um guru oriental para ver que a profecia logo se realizaria. Bastaram nove meses para que a premonição se materializasse. Em abril de 2019, contra a opinião de todos especialistas em segurança pública da Capital Federal e sem a anuência do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, trouxe para Brasília o preso mais temido do Brasil: Marcos Willians Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC. Com a chegada dele, praticamente, toda a cúpula do Primeiro Comando da Capital se instalou na Penitenciária Federal, no complexo da Papuda. Como um filho indesejado, a presença dele fez nascer na cidade uma nova célula do crime organizado, parte dela desbaratada pela Polícia Civil do DF, nos primeiros dias do ano.

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O alerta era unânime. Todos preveniram Moro de que a transferência de Marcola para o Planalto Central traria insegurança para a cidade que abriga o poder público federal e representações diplomáticas de mais de 200 nações e organizações internacionais. Teimoso, como demonstra ser sua característica pessoal, o ministro da Justiça alegava não haver risco e que a Penitenciária Federal era de segurança máxima. Parece que não era.

Veja aqui o comentário sobre esse tema na TV Comunitária

No fim do ano, diante de uma ameaça de resgate de Marcola, Sérgio Moro foi obrigado a chamar o Exército. Soldados treinados para guerra e blindados cercaram as imediações da Papuda para evitar um resgate. Onde estava a segurança tão propalada? Por que a Policia Federal ou a Força Nacional não fizeram tal proteção ou mesmo identificaram os seus atores antes de qualquer ameaça. Não teriam condições as duas forças de evitar a fuga de Marcola? E a Polícia Militar do DF – que já possui expertise em operações na Papuda -, porque não foi acionada? Vergonha? Não quis o ministro da Justiça dar a mão à palmatória e pedir socorro ao Palácio do Buriti?

Publicada originalmente na coluna BRASÍLIA, POR CHICO SANT’ANNA, no semanário Brasília Capital.

Risco permanente

O episódio passou, mas o risco não. Até, porque, além de Marcola, coabitam a Penitenciária Federal, dentre outros presos de segurança máxima, Claudio Barbará da Silva, o Barbará; Patric Velinton Salomão, o Forjado; e Pedro Luiz da Silva Moraes, o Chacal. Todos considerados “violentos” pelo Ministério Público de São Paulo. Com o comando maior do PCC em Brasília era esperado que a facção aqui se instalasse para dar suporte aos presos. E foi o que aconteceu. Tanto que a Polícia Civil do DF, numa operação de inteligência, por meio da Operação Guardiã 61, desarticulou, em 7/1, uma célula da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) já instalada em plana capital da República. Alguns dos presos eram residentes no Jardim Mangueiral, não muito distante da Papuda. De acordo com a Polícia Civil, pelo menos 30 pessoas integram essa célula do PCC. Ela possuía toda uma estrutura organizacional com seus membros se dividindo em núcleos específicos de atuação para praticar diversos tipos de crime, como roubo e tráfico de drogas e de armas. A própria Agência Brasil de Notícias – órgão oficial do governo, vinculado à presidência da República – quem assegura: “O objetivo principal (da facção) era estabelecer as condições necessárias ao desenvolvimento e consolidação do grupo na capital federal, para onde, no ano passado, integrantes da cúpula do PCC foram transferidos para cumprir pena em presídio federal de segurança máxima.”

O alerta de que o PCC se instalaria na Capital Federal foi feito por essa coluna em abril de 2019.

Fato previsível

O alerta de que isso aconteceria foi feito aqui mesmo nessa coluna, em abril do ano passado. Era de conhecimento público. Em novembro de 2018, também divulgamos a advertência do então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann – antecessor de Moro -, quanto à presença das duas maiores organizações criminosas do Brasil, o PCC e o Comando Vermelho – CV, no Entorno do Distrito Federal com, pelo menos, 1.500 integrantes e uma boa estrutura financeira.

Herança maldita

Outra herança maldita que a presença de líderes do crime organizado pode deixar na Capital Federal é o aperfeiçoamento operacional da marginalidade local, ainda não sem a sofisticação e o grau de violência do crime organizado. Criminosos esses que em 60 anos nunca se instalaram no DF. Agora, além de insegurança aos brasilienses, a presença dessa nova modalidade de crime em Brasília, obriga do GDF e, por conseguinte, ao contribuinte, gastar mais com segurança pública. Não estamos tratando mais apenas com batedores de carteira. O crime, com C maiúsculo está aqui e vai testar permanentemente a capacidade da segurança pública reagir. Até aqui, o lado do mal da força está perdendo, mas até quando? E quando sequestrarem um diplomata? Um ministro de Estado? Um deputado ou senador? Não está, ministro Moro, na hora de repatriar a cúpula do PCC?