O imbróglio paraguaio em que se meteu o jogador não o distancia de Brasília. Mais precisamente com a Quadra 20, do Park Way. É lá que o tocantinense Wilmondes Sousa Lira mora em uma casa alugada. O empresário, que burlou a legislação local ao registrar duas empresas em bairro exclusivamente residencial, é apontado como o pivô da mais nova trapalhada do atacante.
Por Chico Sant’Anna
Por pouco, o Distrito Federal não tem um terceiro senador atrás das grades. Por lá já passou Gin Argelo, está Luís Estevão e o terceiro seria Ronaldinho. Não devemos esquecer que R10 planejou, em março de 2018, sair candidato ao Senado pelo PRB-DF, hoje Republicanos – com laços com a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo -, e que nas eleições passadas apoiou a candidatura Bolsonaro.
A candidatura de Ronaldinho, abençoada à época pelo então líder do partido e também astro do mundo televisivo, Celso Russomano, chegou a despontar em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, mas não se concretizou. Aos 45 do segundo tempo, ele ganhou o cartão vermelho da própria Justiça Eleitoral. Na época ele estava inelegível, com direitos políticos suspensos em decorrência de uma condenação criminal, por improbidade, transitada em julgado.
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O imbróglio em que se meteu agora o jogador não o distancia, contudo, de Brasília. Permanecem os laços com o Planalto, mais precisamente com a Quadra 20, do Park Way. É lá que o tocantinense Wilmondes Sousa Lira mora em uma casa alugada. O empresário, que por sinal burlou a legislação local ao registrar duas empresas em bairro exclusivamente residencial, é apontado como o pivô da mais nova trapalhada do atacante.
“Lira está registrado como dono de pelo menos três empresas: Global Assessoria e Soluções em Seguros, W & P Serviços de Limpeza e Comércio e W.S. Lira Apoio Administrativo. As duas últimas têm os nomes fantasias Multserv e Khronos Enterprise. A Multserv está com situação cadastral ‘inapta’ na Receita Federal” – informa o jornal gaúcho, Zero Hora. A Global e a Khronos estariam registradas, segundo a agência France Press (AFP), na casa onde ele mora no Park Way. As razões desse tratamento excepcional pelo Governo do Distrito Federal, não foi possível saber.
Recursos do SUS
Em Parauapebas, no Pará, Wilmondes Lira atuou como representante da organização social Gamp, instituição filantrópica que assina contratos de gestão terceirizada de unidades de, recebendo recursos do SUS para executar a tarefa. Pelo contrato assinado com a prefeitura – segundo informa o Zero Hora -, a Gamp, representada por Lira receberia, a valores de 2016, R$ 96,6 milhões por ano para fazer a gestão do Hospital Geral de Parauapebas (HGP). Em janeiro de 2017, um novo governo assumiu a cidade paraense e houve intervenção no HGP, com afastamento da Gamp, sob alegação de descumprimento de contrato e suspeitas de irregularidades. Em Brasília, ele responde a um processo na 2ª instância do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT), que corre em segredo de justiça.

Passaporte falso
Ainda com base na AFP, ele seria “o principal acusado de falsificar os documentos de Ronaldinho Gaúcho e o irmão, Roberto Assis”. Ele nega, diz que a responsabilidade é da socialite paraguaia, Dália López, presidente da Fundação Fraternidade Angelical, uma ong que faz ações sociais e teria Ronaldinho no lançamento de um de seus projetos. Ela está foragida e com ordem de prisão decretada contra ela.
Juntamente com o jogador e seu irmão, Wilmondes está preso no Paraguai. O tocantinense também tem documentos paraguaios falsificados com uma particularidade: o número das cédulas de identidade de Ronaldinho e Assis são sequenciais à dele, que tem o número 3122655. A de Ronaldinho é 3122656, e Assis tem a 3122657.
Remessa internacionais de dinheiro
O novo imbróglio que envolve o atleta parece ser mais complexo do que a imprensa noticia. Dentre os compromissos que teria no Paraguai estava o de participar da inauguração de um novo cassino. Mais do que se portador de documentos paraguaios falsificados, Ronaldinho estaria envolvido em um esquema de remessas ilegais de recursos para os Estados Unidos, segundo revela o jornal gaúcho O Sul. O Globo Esportes vai mais além e menciona lavagem de dinheiro. Wilmondes e Dália seriam os técnicos dessa jogada. A necessidade de dotar Ronaldinho de documentos paraguaios falsos e inclusive forjar sua cidadania tem a ver com facilidades que cidadãos paraguaios de investir nos Estados Unidos e até de obter visto de permanência naquele país. Desde 1860, o Paraguai tem acordo com os Estados Unidos que facilita o envio de valor aos país norte-americano. É um tratado de comércio, amizade e navegação. Além disso, a carga de impostos paraguaia é bem menor do que no Brasil.
“Como o Brasil não tem tratado de investimento com os Estados Unidos, o brasileiro não pode buscar o visto E-2. A facilidade é maior para tirar o visto norte-americano quando se é paraguaio. Muita gente se naturaliza paraguaio para ir embora do Brasil. Apesar de não dar direito ao green card, resolve o problema de quem quer morar nos Estados Unidos” – informou ao O Sul, o advogado Marcelo Godke.
Finanças heterodoxas
Não é de hoje que Ronaldinho se mete em confusão. Além da investida na política candanga, embora sabidamente inelegível, depois que se aposentou, Ronaldinho tem investido em múltiplas frentes na carreira empresarial. Empreendimentos, no mínimo, criativos. Ele supostamente é o sócio fundador da empresa Ronaldinho 18k – ele nega, diz que era apenas garoto propaganda – que operava com investimentos em criptomoedas, como a bitcoin, informa o jornal O Sul. Em sua página na Internet, com a foto de Ronaldinho, a Ronaldinho 18k prometia aos investidores rendimentos de 2% ao dia. No ano passado, ela passou a ser investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de operar o golpe da pirâmide financeira. O Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec) de Goiás, abriu ação civil coletiva contra ele, em que pede R$ 300 milhões em devolução de valores investidos e ressarcimento aos danos.
Tão criativo quanto seus dribles, se associou a uma marca de relógios, também denominada 18kRonaldinho. O relógio era comercializado sob a forma de “marketing multinível”. Na prática, é mais uma espécie de pirâmide disfarçada, pela qual quem está na base vendendo o produto assegura comissões e resultados para quem está no vértice da pirâmide. O sistema foi muito usado no Brasil, na década de 1980, na comercialização de um produto de limpeza doméstico norte-americano. Se o vendedor da ponta não conseguir vender o produto arca com o valor dele. Os relógios que eram vendidos inicialmente por até mil reais, podem ser encontrado hoje na internet por R$ 150,00.
Ainda em 2018, no que foi apresentado como “rolê financeiro” do pentacampeão, ele surgiu como sócio da 5xmais Holding Business. A empresa pretende captar junto a terceiros, em especial de jogadores de futebol que querem preservar suas finanças, para investir, até 2022, US$ 75 milhões em mais de 2 mil startups.
Crime ambiental
Nos dribles que tentou dar no campo dos negócios, Ronaldinho sofreu a marcação cerrada da justiça. No Rio Grande do Sul foi condenado por crime ambiental em uma de suas fazendas e multado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul em mais de R$ 9,5 milhões. Ele construiu ilegalmente um píer com rampa para atracar embarcações náuticas, plataforma de pesca e atracadouro na orla do Lago Guaíba, em área de preservação permanente. Pior, se recusou a desfazer a estrutura. Em novembro de 2018, a 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul determinou então a apreensão de 57 imóveis que lhe pertenciam e dos passaportes e a restrição de emissão de novos documentos ao ex-jogador Ronaldinho Gaúcho e ao seu irmão e empresário, Roberto Assis, “pois nas suas contas bancárias, havia pouco mais de vinte reais”, segundo informa o cronista desportivo Renato Maurício Prado. O mesmo cronista que afirma ter Ronaldinho apelado ao presidente Jair Bolsonaro e ter dele conseguido renegociar a dívida, os passaportes devolvidos “e, acredite se quiser, ser nomeado “Embaixador de Turismo” do Brasil”.

A situação de Ronaldinho e seus parceiros não está boa. A imprensa paraguaia fala de prisão preventiva de quatro a seis meses, enquanto as investigações são realizadas. O Paraguai parece determinado a passar uma borracha na fama de que é um país onde reina a criminalidade e que o jeitinho paraguaio é mais eficiente do que o brasileiro. Ronaldinho de Embaixador do Turismo brasileiro pode vir a ser o garoto propaganda do marketing paraguaio de defesa do combate a corrupção. Esse campeonato terá ainda muitas prorrogações e não se admirem se o Itamaraty vier a ser escalado para, como dizia Maradona, para fazer funcionar a “mão de Deus”.