
Com renda média elevada em relação ao restante do país, o Distrito Federal é um grande mercado para que espécies exóticas sejam usadas como animais de estimação. Muitas são extremamente perigosas e não devem ser manipuladas por leigos ou sem apetrechos apropriados.
Por Aldem Bourscheit*
O ataque de uma perigosa cobra natural de outros países a um estudante de medicina veterinária abriu alas para que uma possível rede nacional e internacional de tráfico comece a ser destrinchada por polícia e fiscalização ambiental. O incidente também pode estar conectado ao comércio ilegal de espécies usadas como animais de estimação.
Quando o estudante de veterinária Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl (22) chegou a um hospital particular do Gama na terça-feira (7) com uma picada de naja no braço, abriu caminho para que uma rede de tráfico de animais selvagens no Distrito Federal comece a ganhar luz.
A espécie natural de regiões da Ásia e África é extremamente venenosa. Fã confesso de cobras, Lehmkuhl foi tratado também com soro trazido do Instituto Butantã, em São Paulo. Depois de enfrentar um coma, estaria fora de perigo.
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As investigações provocadas pelo insuspeito episódio levaram Ibama e polícias Civil e Militar a vasculhar o apartamento onde o estudante mantinha a cobra ilegalmente. No local foram identificados objetos usados para a criação de serpentes, mas não a que lhe picou. Surpreendentemente, o réptil foi localizado numa caixa abandonada perto de um shopping center, no bairro Lago Sul.
Em seguida, denúncias levaram a fiscalização a um haras na região de Planaltina (DF), onde foram apreendidas outras 16 cobras venenosas, nativas do Brasil e de outros países, como cascavéis e cobras-do-milho. Duas caixas vazias encontradas levantaram suspeitas de que espécies perigosas podem ter sido descartadas com a chegada dos agentes (Foto: BPMA/DF).
As apurações indicam que pelo menos três estudantes de medicina veterinária estão envolvidos com a compra e venda ilegais de animais exóticos. Especialistas não descartam que as espécies estejam sendo criadas no país. Conexões do tráfico são analisadas em outros estados brasileiros.
A importação de répteis estranhos à natureza brasileira é proibida desde o fim dos anos 1980, a não ser para coleções de zoológicos ou pesquisas científicas. Em nota pública, o Instituto Brasília Ambiental (DF) afirmou “que não é emitida nenhuma autorização para criação de serpentes peçonhentas com finalidade de estimação” e que “não existe em nosso território nenhum criadouro comercial autorizado a vender répteis peçonhentos”.
Com renda média elevada em relação ao restante do país, o Distrito Federal é um grande mercado para que espécies exóticas sejam usadas como animais de estimação. Muitas são extremamente perigosas e não devem ser manipuladas por leigos ou sem apetrechos apropriados.
O crime e as principais rotas do comércio ilegal de animais no país são detalhados pelo menos desde a realização da CPI do Tráfico, em 2003, e também em estudos do Ibama. A entrada de animais e plantas exóticos no país flui por estradas, aeroportos e portos. Em abril de 2016, uma suposta naja foi encontrada no convés de um navio grego ancorado no Porto de Paranaguá (PR). A embarcação transportava soja e havia chegado de Singapura, na Ásia.
Aldem Bourscheit é Jornalista, registro profissional nº 9781 DRT/RS © Conect@ - Jornalismo e Comunicação conectacomm@gmail.com