Poema de Luiz Martins da Silva. Foto de Chico Sant’Anna
“Aos filhos da Terra recairá o que a ela ocorrer. Em tudo, há ligação”. [Da carta do Chefe Seattle, 1854]
I
Soube de insanos senhores.
Ao pretexto das contas,
Privatizar as águas.
II
A que divindade rogaremos
Para que não praguejem
Na prática suas heresias?
III
Como pode alguém se julgar
Autoria para privatizar
O que segue daqui para o mar?
IV
Será alguém digno de:
Entregar a outrem a posse,
Os cuidados e a unção dos seixos?
V
Se a água é natural, mineral,
Sal da vida, dos vivos, saúde
Da erva, da ave, do lobo-guará…
VI
Alguém portará estandarte
De gestor dos olhos d’água,
Das nascentes e dos elementais?
VII
Desvario, pessoas transitórias
Dar-se ao arrogo de, entre si,
Privar o acesso às águas e ao ar.
VIII
Sim, há quem, em petulância,
Queira dominar, engarrafar, vender…
O que é do Senhor, em guarda e penhor.
IX
Cabe a nós, vociferar, denunciar,
Urrar, berrar, rugir e, se mais, atacar
Feito o manso ferido e ameaçado.
X
Será possível que a criatura mais sã,
Mais quieta, pura e tranquila
Seja tangida ao stress?
Muito bom, a água é de Oxun
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Belo e contendente poema para esses tristes tempos!
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