A similitude entre as duas pontes gerou muita curiosidade e comentários nas redes sociais. Teria ocorrido um plágio? Perguntam usuários das redes sociais. O arquiteto brasileiro diz ter se inspirado no “quicar de uma pedra atirada sobre as águas”. Já o australiano afirma que sua inspiração foram o rinoceronte e o louva-deus. Fotos de Felipe Menezes (Ponte JK) e de Dietmar Rabich (Elizabeth Bridge).

 

Por Chico Sant’Anna

– “Meu Deus, os arcos da Ponte JK estão adernando” – diz um tuiteiro na rede social.

– “Fizeram os arcos da Ponte JK em itálico (modo de escritura com as letras inclinadas)” – diz outra.

– “Quem copiou quem?” – questiona mais um.

 

O fato é que a similitude entre a Ponte JK, projetada por Alexandre Chan, no final da década de 1990, e a Elizabeth Quay Bridge, datada de 2016 e erguida na cidade australiana de Perth, tem chamado a atenção de muita gente.

O sistema estrutural com arcos estaiados é uma técnica comum para pontes, muito explorada em todo o mundo, salienta José Carlos Coutinho, professor de Arquitetura da UnB. A similitude dessas duas pontes é que o intervalo regular dos arcos é muito semelhante, dizem os técnicos. Ponte estaiada é uma ponte dotada de cabos de aço que sustentam o tabuleiro da ponte, por onde passam veículos ou pedestres.

Inspirações

Chan afirma que se inspirou no movimento de uma pedra lançada sobre a água, que sai “quicando sobre o espelho d’água”. Já o arquiteto australiano, Stewart Buxton, diz ter se inspirado no louva-deus e no rinoceronte para desenvolver o seu projeto.

Segundo o professor de Arquitetura da Universidade de Brasília, Frederico Flósculo, no mundo da arquitetura é comum acontecer o que ele chama de “retomada” de certos projetos. Flósculo considera Chan um arquiteto genial, “é o Niemeyer das pontes”, explicita ele, deixando a entender de que de tão grandioso o projeto da JK, teria servido de fonte de inspiração a outros projetistas. “Exaurir um tema proposto com variações arquitetônicas é comum de acontecer” – complementa Flósculo.

Embora não haja nenhuma comprovação de que um se inspirou no outro, é bom lembrar que há quem diga que a Ponte JK de Brasília teria sido inspirada na passarela de pedestres do Aquário Público de Nagoya, no Japão.

Prêmios

Alexandre Chan recebeu, em 2003, a Medalha Gustav Lindenthal, outorgada pela Sociedade dos Engenheiros do Estado da Pensilvânia, Estados Unidos, pelas qualidades estéticas e harmonização ambiental da Ponte JK. A ponte também foi a vencedora do Prêmio Abcem 2003 – Melhores Obras com Aço do Ano, na Categoria Pontes e Viadutos, outorgado pela Associação Brasileira da Construção Metálica.

Para um leigo, as únicas diferenças seriam os arcos mais inclinados. Mas um olhar arquitetônico mais atento aponta outras assimetrias. Os arcos, por exemplo, ao contrário da Ponte JK, não ultrapassam o leito das faixas de rolamento. Nascem e morrem de um mesmo lado.

As duas pontes diferem ainda na quantidade de arcos. Na de Brasília, são três e na de Perth, apenas dois. E também nas alturas deles: 62,70 metros acima do nível do lago contra 22 metros sobre o rio, respectivamente.

Outra grande diferença são as dimensões. A Ponte JK é uma estrutura imensamente maior: com 1,2 km de extensão tendo largura de 24 metros, com duas pistas de cada lado, cada uma com três faixas de rolamento, duas passarelas nas laterais para uso de ciclistas e pedestres com 1,5 metros de largura. Já a australiana é uma ponte de pedestre, uma passarela também dotada de ciclovia, de 110 metros de extensão sobre o Swan River (Rio dos Cisnes). Como o rio é navegável, no seu ponto mais alto, a plataforma – ou bandeja, como chamam os arquitetos – da Elizabeth Quay Bridge fica sete metros acima das águas. Já a da JK está 18 metros acima do nível d’água.

O trajeto também se diferencia, pois embora a Ponte JK seja sinuosa, as curvas da estrutura australiana são tão acentuadas que alguns chegam a chamar de Ponte do S.

E então: terá sido plágio, já que a ponte australiana foi projetada pelo menos oito anos após a JK? A pergunta foi levada a Helena Zanella, ex-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil – seção DF

“Acho que hoje, com o acesso à informação (e às imagens, sobretudo) provoca mais facilmente esse “consciente/imaginário” coletivo. Com tantas informações circulando, fica difícil dizer se há plágio, releitura, ou outra coisa. A estrutura, contudo, é arrojada. Estaiar o tabuleiro em uma estrutura em arco e inclinado, vou te dizer: o calculista é um gênio!” – comenta.

E você, o que acha?