Sergiana, Maria Cristina, Kênia, Edilma e Claudinéia (da esquerda pra direita) decidiram dar as mãos e lançar uma candidatura única e coletiva à prefeitura do município de Águas Lindas de Goiás, no Entorno do DF.

“Cansamos de ser militantes de rede social e de ver as pessoas que não se importam com a gente tomando todas as decisões sobre as nossas vidas, em todos  os aspectos: saúde, educação, segurança, emprego, meio ambiente, moradia”

 

Por Chico Sant’Anna

Por que se contentar com apenas um prefeito, se você pode ter cinco coprefeitas simultaneamente e sem aumentar as despesas de salários dos eleitos?
É essa a oportunidade que os eleitores da cidade goiana de Águas Lindas, localizada na divisa com o Distrito Federal, poderão desfrutar nas eleições municipais de 2020.

Sergiana, Kênia, Claudinéia, Maria Cristina e Edilma decidiram dar as mãos e lançar uma candidatura única e coletiva  – a Mandata Coletiva – à prefeitura do município no Entorno do DF, com população estimada em  213 mil habitantes e  que nas eleições desse ano contará com 94.752 eleitores. Na cidade embora jovem, já acostumada com o tradicional coronelismo político, cinco outras candidaturas se apresentaram à Justiça Eleitoral.

“Cansamos de ser militantes de rede social e de ver as pessoas que não se importam com a gente tomando todas as decisões sobre as nossas vidas, em todos  os aspectos: saúde, educação, segurança, emprego, meio ambiente, moradia” – salienta Sergiana, que formalmente emprestou o titulo eleitoral para ser designada como candidata prefeita.

Mandatos Coletivos

A ideia do vote em um e leve cinco não é nova no cenário eleitoral brasileiro, mas sempre teve maior ênfase nas candidaturas proporcionais, ao legislativo. Os primeiros registros que se tem notícia datam das eleições municipais de 2012 e 2014, quando sete candidaturas a vereador e deputados se valeram da técnica do mandato coletivo. Nas eleições municipais de 2016 e nacionais de 2018, já eram 98 candidaturas coletivas.

Os coletivos são tradicionalmente formados por ativistas de causas diversas, que se reúnem em torno de uma candidatura única – eliminando o personalismo das campanhas, os “salvadores da pátria”.

Os coletivos são tradicionalmente formados por ativistas de causas diversas, que se reúnem em torno de uma candidatura única – eliminando o personalismo das campanhas, os “salvadores da pátria” – para ter mais chances nas urnas. Em 2018, dois grupos saíram vitoriosos nesse método de candidatura. Em São Paulo, a Bancada Ativista, formada por quatro candidatas mulheres e um homem, se elegeu pelo Psol. Todos são codeputados. Pernambuco viu a vitória da candidatura coletiva Juntas Codeputadas que, com cinco mulheres também do Psol, ocupa hoje uma cadeira na Assembleia Legislativa.

Nas eleições do Distrito Federal, uma candidatura coletiva também do Psol se apresentou para disputar uma vaga na Câmara Distrital. Os quatro candidatos juntos obtiveram 6.040 votos, mas não chegaram a se eleger.

A experiência de Águas Lindas é uma das raras no cenário de eleições majoritárias. No caso, para prefeito e vice. “Nós temos 45 dias para mostrar nossa disposição, coragem, capacidade e a nossa vontade de transformar e mudar uma cidade que vem sendo tão negligenciada há tantos anos” – salienta Kenya Benigno da Silva, cujo nome constará como candidata à vice-prefeita, devido às regras eleitorais, que não permitem o registro dos cinco nomes.

Mas todas se consideram candidatas a coprefeitas. Maria Cristina e Edilma Lima são professoras. Maria Cristina, 51 anos, é professora de Teatro tem mestrado em Teatro e Educação e faz doutorado em Pedagogia. Edilma Lima, 46 anos, é professora de português. Sergiana do Nascimento, 33 anos, é terapeuta popular; Claudinéia di Lopes, 43 anos, negra, é empregada doméstica; Kenya Benigno, 27 anos, é consultora de vendas.

“Nenhuma de nós nunca participou da política institucional – destaca Maria Cristina. Nos cansamos da política de sempre e decidimos encarar esse desafio. Nós somos a Mandata Coletiva e somos uma alternativa à Prefeitura de Águas Lindas/GO – complementa Edilma LIma.”

Em apoio à Mandata Coletiva, o Psol, lançou também a candidatura a vereador de Marcos Araújo Barreto.