
Exemplos de que no bairro há desrespeito ao meio-ambiente e à coisa pública não faltam. Como se fosse área particular, áreas verdes vem sendo cercadas para constituir uma espécie de invasão chique. Os 20 mil metros quadrados de cada lote do Park Way – fracionados em até oito partes – parecem não ser suficiente. É preciso invadir, cercar e ocupar aquilo que é público.
Por Chico Sant’Anna
Encontrar animais silvestres, alguns até em situação de extinção, não é coisa rara no Park Way. Finais de agosto, uma manada de capivaras atravessando tranquilamente as ruas foi avistada na Quadra 17 do bairro. Mais recentemente, um garboso Lobo Guará passeava pelas margens da Lagoa do Cedro, no Park Way.
Tranquilo e sereno, defecou no local, marcando seu território. Mal sabia ele, que a ação dos grileiros e invasores é bem mais forte do que o odor de suas fezes ali deixadas. E não tardou muito. Dias depois, grileiros munidos de documentos esquentados em cartórios do Entorno chegaram com caminhão, tijolos e escoras para cercar uma área que é pública, de proteção ambiental, mas que eles acusavam terem recebido de herança de seus antepassados.
Veja aqui as imagens do Lobo Guará, na Lagoa do Cedro
A ação dos vizinhos foi providencial. Acionaram o Conselho de Segurança do Park Way – Conseg, a ACPW e a AMAC PARK WAY, duas associações comunitárias atentas à preservação, que por sua vez acionaram Polícia Ambiental, Ibram, Administração do Park Way e até o Ministério Público.

O que não foi tão resolutivo foi o número 190 da Polícia Militar. Ao telefone, burocraticamente, o atendente mandou registrar uma queixa na Ouvidoria do GDF. Talvez uma semana depois, ou quem sabe mais, haveria alguma ação. O certo é que o Estado foi mobilizado pelas entidades representativas dos moradores que coibiu a ação dos grileiros.
Além de pás, cimento, tijolos e mourões, os invasores chegaram com toda uma pastinha cheia de xerox de documentos. Tudo sem valor. Curiosamente, os grileiros que eram tão irredutíveis em sua tarefa de delimitar a área que diziam ser sua, mudaram de postura repentinamente e deixaram ao local minutos antes da Polícia Militar Ambiental chegar. Terão sido eles alertados por algum olheiro?
Veja aqui as imagens da manada de capivaras passeando pelo Park Way
Invasões chiques
Se nesse caso a postura cidadã dos moradores foi exemplar, inclusive com registro de ocorrência policial da 11ª Delegacia de Polícia, o mesmo não se pode dizer de outros moradores do Park Way.
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Dois exemplos, ambos na quadra 26 do bairro, demonstram como há desrespeito ao meio-ambiente e à coisa pública. Como se fossem terrenos particulares, áreas verdes vem sendo desmatadas, impermeabilizadas, cercadas, tudo numa espécie de invasão chique. Os 20 mil metros quadrados de cada lote do Park Way – que podem ser fracionados em até oito partes – parecem não ser suficientes. É preciso invadir, cercar e ocupar aquilo que é público.
A partir de denúncias de moradores, a Administração Regional retirou mourões de concreto e rolos de arame que já estavam sendo transformados em cerca numa área entre o final do conjuntos 3 e o início 4, da quadra.
Córrego do Cedro
Não muito longe dali, na mesma quadra, estão as nascentes do Córrego do Cedro, que vai abastecer a lagoa por onde passeava o Lobo Guará e desembocar no Ribeirão do Gama. Ao lado do Córrego do Mato Seco, o Cedro é um dos principais afluentes do Ribeirão do Gama que dá nome a APA Gama Cabeça do Veado. Das águas que chegam no Lago Paranoá, a terça parte nasce nessa APA.
As áreas entre conjuntos no Park Way são grandes pois se destinam a preservar a mata natural do cerrado, bem como assegurar a captação das águas da chuva, permitir que elas entrem no solo e garantam a sobrevivência dos córregos e riachos. Mesmo com toda essa importância, são alvo de cobiça de muita gente e até do GDF, que pensa nelas para criar novos lotes. Cercar essas áreas para uso próprio, desmatar, impermeabilizar o solo é muito mais do que a irregularidade de apropriação do bem público, é um crime ambiental, que afeta até o clima local.

Quiosques e churrasqueiras
No segundo caso da 26, também próximo às nascentes do Cedro. No mesmo conjunto 03, a área foi mais do que cercada. Ali foram instalados tapumes metálicos e no interior da área pública estão sendo erguidas instalações em alvenaria e em estrutura metálica, que lembram quiosques, salão coberto e churrasqueiras. Toda a vegetação natural já foi rapada. Ficou apenas a terra batida. Nesse caso, duas reclamações foram feitas a ouvidoria, como orientou a Polícia Militar – mas os dias passam, as obras continuam, e ninguém aparece lá para proibir o mal feito.
Apreensão de material
O período de isolamento social parece ter motivado aqueles que gostam de tomar pra si o que é público. Contam com a morosidade do poder público. Felizmente, esse não foi o caso de outra tentativa de invasão, ocorrida dia 29/9. Na quadra 12, em uma área de Proteção Ambiental (APA) do Park Way, onde não é permitido o uso urbano, a fiscalização que contou com profissionais da Administração Regional do Park Way, recolheu 1.500 tijolos de concretos e dezenas de mourões de madeira, que já estavam enterrados no solo, prontos para sustentar um cercamento. Todo material foi confiscado pela Administração Regional, que poderia fazer o mesmo no exemplo citado da quadra 26.

Seja pelos criminosos grileiros, especializados em esquentar papel, seja pelos puxadinhos chiques que alguns moradores teimam em fazer, cada vez mais, bairros como o Park Way, ricos em áreas verdes e públicas, estão sendo alvo da cobiça humana e da especulação imobiliária. Há relatos em todas as áreas do Distrito Federal.
A fiscalização comunitária, exercida pelo olhar atento de quem reside no bairro e de suas entidades representativas é importante, mas nada pode fazer, se não houver canais rápidos simplificados e de pronta resposta para coibir e até penalizar quem tenta se apropriar do que é público. O fim da Agefis e a sua transformação em DFLegal retirou a agilidade do Poder Público. Esperar dias pela resposta de um site ou telefone da Ouvidoria pode resultar em danos irreparáveis.
O GDF precisa constituir urgentemente canais que sejam acionados facilmente pela comunidade e que respondam imediatamente. Caso contrário, o Lobo Guará da Lagoa do Cedro, será apenas uma história para os avós contarem a seus netos nas tardes quentes de Brasília ou para aparecerem nas carteiras dos endinheirados grileiros de terra de Brasília.
Trabalho exemplar quecprecisa ser multiplicado por todos. Vou compartilhar no Lago Sul. Precisamos estar unidos, somos bairros irmãos
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Esse Lobo Guará do vídeo da matéria é que deveria ter a imagem na tal nota de 200 reais. E não aquele lobo desmilinguido, feio, horroroso que envergonha o brasileiro e, principalmente, as matilhas de lobos.
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A cada dia fica mais difícil o acesso ao GDF. Assim fazem o que querem e quando querem. E como sempre a contravenção agradece. Não é só com a grilagem que a desatenção é planejada. Na sec de saúde a quadrilha foi para Papuda . Grileiros, Detratores e Farsantes infiltram no GDF com muita facilidade. Depois da criação da CLDF ficou mais fácil. Brasília o Patrimônio sempre ameaçado.
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Texto certeiro. Uma lástima que tantos moradores do bairro se neguem a debater o cercamento das áreas públicas dos seus lotes a pretexto de “proteger” da ação de invasores. Como tem!
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“O GDF precisa constituir urgentemente canais que sejam acionados facilmente pela comunidade e que respondam imediatamente…”
Reitero a necessidade da criação de canais de comunicação verdadeiramente eficazes e imparciais para atendimento imediato de denúncias, a fim de inibir prontamente a ação dos infratores.
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