A coleção de guias, disponíveis na internet, traz oito opções de roteiros temáticos: Rota Náutica – Tour no Lago; Rota da Paz – Capital da Esperança; Rota Cívica – Cidade Capital; Rota Cultural – Capital Criativa; Rota do Cerrado – Cidade Parque; Rota Arquitetônica – Cidade Patrimônio; Rota Fora dos Eixos – Um passeio pelas regiões do DF; e Rota da Diversão, que também poderia ser chamada de rota infanto-juvenil. Essas propostas segmentadas, além de atrair turistas, pode fazer com que eles permaneçam mais tempo na Capital Federal. Atualmente, um turista estrangeiro não fica, em média, mais de dois dias.

Por Chico Sant’Anna

As atrações turísticas de Brasília tradicionalmente mais potencializadas sempre foram as de negócios, eventos e cívico. Historicamente, a cidade pouco ou nada potencializou outras qualidades da Capital Federal. No máximo, as opções existentes no Entorno do Distrito Federal. Agora, uma coleção de oito guias elaborados pela secretaria de Turismo do DF – Setur pretende mostrar uma Brasília diferente. Não só para quem é de fora, mas até para os residentes da cidade, que em muitos casos, desconhecem os atrativos locais. A coleção Rotas Brasília serve pra desconstruir uma imagem – publicizada pelo famoso guia de turismo francofônico Routard – segundo o qual o turismo na Capital Federal é para engravatados.

A coleção de guias, disponíveis na internet, traz oito opções de roteiros temáticos: Rota Náutica – Tour no Lago; Rota da Paz – Capital da Esperança; Rota Cívica – Cidade Capital; Rota Cultural – Capital Criativa; Rota do Cerrado – Cidade Parque; Rota Arquitetônica – Cidade Patrimônio; Rota Fora dos Eixos – Um passeio pelas regiões do DF; e Rota da Diversão, que também poderia ser chamada de rota infanto-juvenil, pois traz os principais pontos em que a brincadeira é garantida, este guia traz ainda jogos e ilustrações do artista plástico Ralfe Braga para que as crianças se divirtam colorindo Brasília. Essas propostas segmentadas, além de atrair turistas pode fazer com que eles permaneçam mais tempo na Capital Federal. Atualmente, um turista estrangeiro não fica mais de dois dias, em média.

A sugestão de rotas temáticas é importante e aqui já fica a sugestão de se fazer a rota histórica, passando pelo Catetinho, Mesa do JK, na Granja do Ipê, uma caminhadsa na Candangolândia para que se conheça a primeira escola, a Cruz do Cruzeiro, onde foi rezada a primeira missa; Vila Planalto, Vila Telebrasília, o primeiro bloco residencial inaugurado em Brasília – o bloco D, da SQS 106, que possui uma exposição fotográfica permanente com imagens do início da construção.

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As rotas pensadas pela secretaria de Turismo se concentram muito nos locais já tradicionais, em especial os localizados ao longo do Eixo Monumental.

Rota cívica

A Rota cívica não teria muito como fugir do itinerário tradicional: Praça dos Três Poderes, Mastro da Bandeira, Panteão da Pátria e da Liberdade, Congresso Nacional, STF, Palácio do Planalto, Itamaraty, Memorial JK, Procuradoria Geral da República, Catetinho, Museu Vivo da Memória Candanga e Quartel General do Exército. Esqueceram do Palácio da Alvorada e do Palácio do Jaburu, mas talvez pelo fato da via tradicional de acesso a essas duas atrações estar bloqueada por questões de segurança, a rota turística tenha excluído as residências oficiais do presidente e do vice-presidente da República.

Cultura

Algumas das rotas sugeridas, como a Cultural, podem ser feitas inclusive a pé ou de bicicleta – infelizmente a cidade não conta mais com as bikes e patinetes de aluguel. Elas se concentram no Eixo Monumental, basicamente no “corpo do avião”. A sugestão é visitar Complexo Cultural da República, o Teatro Nacional, o Complexo Cultural da Torre de TV, o Clube do Choro, Planetário, cine drive in, Cine Brasília, Espaço Cultural Renato Russo, Centro Cultural Banco do Brasil, Centro Cultural da Caixa, Memorial dos Povos Indígenas e o Museu Vivo da Memória Candanga. Esse é um roteiro que poderia ter incluído a O Museu de Valores, do Banco Central, a Casa do Cantador, na Ceilândia e também a Casa da Cultura da América Latina, seja na sua sede urbana, no Setor Comercial Sul, ou na Casa de Niemeyer, no Park Way;

Além disso, o êxito dessa rota dependerá muito do que estiver sendo exibido em cada um desses centros culturais. E, é claro, a necessidade de estar aberto e funcionando. O Teatro Nacional, por exemplo, na forma em que se encontra, com as portas trancadas, não irá atrair muita gente. Lamentável que o Museu de Arte de Brasília, por estar fechado há mais de uma década, não tenha sido inserido nessa rota. Se o fosse, o roteiro poderia terminar lá do lado, na Concha Acústica, ao pôr-do-sol.

Cerrado

Uma das novas rotas mais criativas e que traz uma Brasília diferenciada é a do Cerrado. Ela reúne pontos turísticos do DF com a Chapa dos Veadeiros, no Entorno. O turista terá momentos bem envolventes, passando pela Água Mineral, no Parque Nacional De Brasília, a Floresta Nacional de Brasília – Flona (dois destinos que o Ministério do Meio-ambiente pretende privatizar – Jardim Botânico de Brasília, Salto do Tororó, Jardim Zoológico, os Parque da Cidade, Olhos D’Água e o das Garças, Brasília Rural – onde será possível andar de charretes e a cavalo – o Viva Lago Oeste – com direito a trilhas, cachoeiras e até pernoite nas pousadas rústicas locais -, curtir o visual da Torre de TV Digital e seguir pra Chapada dos Veadeiros.

Dois endereços interessantes e até desconhecidos de muitos brasilienses ficaram de fora. São eles a Fazenda Água Limpa da UnB e a Reserva do IBGE. Na reserva do IBGE há um imenso acervo de insetos do cerrado catalogados. Visitar um viveiro da Novacap também seria bem interessante para se conhecer a produção de mudas usadas na arborização da Capital Federal.

Rota Náutica

O nome pode levar o turista a imaginar que se trata de um passeio aquático. Na verdade, é uma rota por terra, pela Orla do Lago. Esse, quem sabe, seria um nome mais adequado pro guia. Por terra, o turista é incentivado a visitar o Pontão do Lago Sul, o Parque Ecológico Península Sul, o Morro da Asa –Delta, a Ermida Dom Bosco, uma travessia pela Ponte Juscelino Kubitschek e conhecer o Calçadão da Orla JK, a Barragem do Paranoá, Prainha, o Mirante do Casal e o Parque das Garças, todos no Lago Norte, Calçadão do Deck Norte, terminando no Parque dos Pioneiros – Engenheiro Cláudio Sant’Anna. Não está claro se essa sequência é a que deve ser seguida pelos que estão passeando. Se for, talvez uma rota diferente começando no Parque dos Pioneiros – Engenheiro Cláudio Sant’Anna, no Lago Sul, e terminando no Parque das Garças, no Lago Norte, fosse logisticamente mais adequado.

Rota Náutica 2

Já que a Rota Náutica proposta pela Setur é por terra, fica aqui também a sugestão de uma Rota Náutica para que o turista efetivamente bote os pés dentro d’água, seja em caiaque. Stand-up paddle, pedalinho, passeio de barco à vela ou de lancha. Como acontece em grandes capitais europeias, o turista veria os principais pontos turísticos de uma perspectiva de quem está dentro do Lago Paranoá;

Rota Arquitetônica

Se o objetivo do roteiro que busca mostrar as expressões maiores da arquitetura de Brasília, é atrair especialmente estudantes e arquitetos brasileiros e estrangeiros, a proposta da Rota Arquitetônica parece um pouco tímida. Pela Setur, os aficionados da arquitetura devem conhecer a SQS 308, que é a superquadra modelo, a Catedral Metropolitana, Itamaraty, Praça dos Três Poderes, Espaço Lucio Costa, Palácio da Alvorada, Ponte JK, Setor de Embaixadas Edifício Sede do Sebrae Nacional – considerado a última palavra em imóvel sustentável -, Setor Comercial Sul, o campus da Universidade de Brasília e a Torre de TV Digital.

Um tour como esse deveria começar pelo mirante da Torre de TV, para que o turista tenha uma noção clara do modelo urbanístico da cidade. Deixar de fora a Praça dos Cristais, de Burle Marx, e o Palanque – ou concha acústica – do Exército é um pecado. Quem vai até a SQS 308 deve conhecer a Igrejinha de Fátima e mais uma vez – como dito anteriormente – o primeiro bloco residencial pronto em Brasília, o D, da SQS 106. Dali, um pulo na Igreja de Dom Bosco é também uma bela aula de arquitetura, em especial de vitrais.

Rota da Paz

Essa rota tem por objetivo apresentar a Brasília mística. Talvez a denominação mística fosse mais atrativa para os turistas. É um belo passeio, que muito brasiliense deveria fazer: os templos da Legião da Boa Vontade e o Shin Budista, Igreja Nossa Senhora de Fátima, Santuário Dom Bosco, Busto de Mahatma Gandhi, Catedral Metropolitana, Mesquita do Centro Islâmico, Mosteiro de São Bento, Prainha dos Orixás, Universidade Holística da Paz, Santuário Arquidiocesano Menino Jesus e Vale do Amanhecer.

Pelas arquiteturas diferenciadas, seriam igualmente recomendadas visitas à Catedral Militar Rainha da Paz – que foi o altar no qual o Papa João Paulo II rezou missa em Brasília – e a igreja ortodoxa antioquina brasileira, na QI 11 do Lago Sul, ambas projeto de Oscar Niemeyer, além da popularmente conhecida Catedral Baleia, sede nacional das Assembleias de Deus. Chama também a atenção a não inclusão da Praça do Cruzeiro, onde foi rezada a primeira missa de Brasília.

Fora do Eixo

Essa é pra quem tem tempo e folego e, com certeza, um carro, pois com transporte público será bem difícil. O guia traz uma seleção de 12 pontos turísticos representativos fora do Plano Piloto. São sugestões de visitação que vão de Brazlândia – Santuário Arquidiocesano Menino Jesus -, a Planaltina – Centro Histórico. Na Ceilândia, a dica é a Casa do Cantador. No Guará, a feira, e no Lago Norte, a Quituart. O Museu do Catetinho é apresentado como um point do Gama – o pessoal do Park Way não vai gostar disso. E já que vai passar pelo Park Way, poderiam ter incluído a Casa de Niemeyer. Um dos raros projetos em estilo colonial do arquiteto modernista, as instalações abrigam a Casa da Cultura da América Latina. Dá pra ir até de BRT. No Núcleo Bandeirante, o Museu Vivo da Memória Candanga, em Samambaia, as Paróquias Santa Luzia – recentemente eleita o cartão-postal da cidade – que na Páscoa encena a Paixão do Cristo Negro, e de Santa Maria. Na lista tem ainda o Salto do Tororó, a Feira dos Importados, um pulo na Ceasa, conhecer o Viva Lago Oeste e a Praça do Relógio, em Taguatinga. Programas para uma estadia de mais de uma semana.

Rota pra garotada

A Rota da Diversão é o primeiro guia turístico para crianças. Ele traz um mapeamento de atrativos que são visita obrigatória para turistas e para moradores da Capital Federal como Planetário, Jardim Botânico, Parque Nacional de Brasília (Água Mineral), Espaço Lucio Costa, Parque Olhos d ‘Água, entre outros. Assim, as atrações turísticas ficam organizadas de forma clara, facilitando o acesso às informações.

Rota do Grafitti

E a exemplo de cidades como Lyon na França, na qual os turistas são convidados a conhecerem paredes totalmente grafitadas, Brasília também vai incentivar os turistas sobre os pontos de intervenção urbana de mais reconhecimento na cidade. A Rota do Grafitti – o nono guia segmentado – irá trazer, dentre outros atrativos da arte de rua – os trabalhos existentes na 112 Sul, do Espaço Cultural Renato Russo e das passagens subterrâneas do Eixão, na altura da 103 Sul. Ele será uma galeria virtual colaborativa, assim, tão logo esteja no ar, os grafiteiros da cidade poderão sugerir a inclusão de seus trabalhos.

A secretaria da Setur é inovadora. Mostrar as diferentes Brasílias é importante. Embora estejam de forma bilíngue (português-inglês) vale versões em espanhol e francês. Outro detalhe importante, em especial para quem não conhece Brasília e não tem a mínima ideia de como ela se distribui pelo Distrito Federal, organizar esses roteiros numa sequência operacionalmente mais fácil, lógica e econômica é importante. Assim como também mostrar as opções de transporte público. O que pode ser feito de metrô, e de BRT, e de ônibus comum? Por fim, vale uma revisão dos textos. Em alguns dos guias, o idioma português foi maltratado. Mas isso um revisor atento, arruma.