Acostumada a cobrir manifestações em Brasília, quando era repórter de Cidades do Correio Braziliense e Jornal de Brasília, fiquei surpresa com a falta de organização no centro da capital. Fontes da Polícia brasiliense me diziam, na época, que era comum eles mapearem movimentos sociais para preparar as ações de segurança e impedir confrontos e invasões a equipamentos públicos. É difícil acreditar que a inteligência dos Estados Unidos não conseguiu interceptar os organizadores dessa marcha pró-Trump.

 

Texto e fotos de Fabíola Góis, especial para o Blog Brasília, por Chico Sant’Anna

 

Ser testemunha do maior ataque à democracia do país mais poderoso do mundo, os Estados Unidos, é estranho e bizarro para qualquer jornalista. O fatídico dia 6 de janeiro de 2021 entra para a história americana com cenas grotescas de invasão ao Capitólio, onde ficam o Senado e a Câmara dos Representantes.

Cheguei ao local por volta das 15h. A estação de Metrô mais perto, a Capitol South, estava fechada. Assim que desembarquei em outra estação, a uns 10 minutos a pé, soube que a prefeita de Washington, D.C., Muriel Bowser, anunciou toque de recolher das 18h às 6h de hoje.

Havia muitos apoiadores do presidente Trump já deixando a frente do Capitólio, mas um grande número de manifestantes, todos contrários à eleição legítima de Joe Biden, permanecia no local. Eles usavam faixas, roupas com símbolos americanos e alguns bebiam álcool e usavam drogas.

O mais incrível é que não vi policiais ou integrantes das forças de segurança fazendo revistas nos manifestantes. Comparando com o Brasil – sobretudo, Brasília – seria impensável haver tanta gente em um local público com tão pouco policiamento. Enquanto isso, outro grupo fazia baderna na área interna, sob os olhos de policiais e agentes de segurança que não conseguiram impedir que entrassem.

O tino jornalístico fez a repórter brasiliense Fabiola Gois, hoje residente em Washington, emfrentar o frio e a fúria dos manifestantes trumpistas na capital norte-americana.

Outra curiosidade é a ausência da guarda nacional em um dia em que o Congresso americano certificou a eleição americana. Acostumada a cobrir manifestações em Brasília, quando era repórter de Cidades do Correio Braziliense e Jornal de Brasília, fiquei surpresa com a falta de organização no centro da capital.

Fontes da Polícia brasiliense me diziam, na época, que era comum eles mapearem movimentos sociais para preparar as ações de segurança e impedir confrontos e invasões a equipamentos públicos. É difícil acreditar que a inteligência dos Estados Unidos não conseguiu interceptar os organizadores dessa marcha pró-Trump.

O próprio presidente americano insuflou os manifestantes a irem até o Capitólio. Vários parlamentares republicanos apoiaram os grupos. Após a invasão, muitos mudaram o discurso. O presidente teve que ir ao Twitter pedir que saíssem do local e fizessem manifestos pacíficos. Isso depois de saber que havia uma pessoa morta dentro do Capitólio. Depois foram divulgadas mais três mortes.

“Também não sei se, a grande maioria dos manifestantes fosse negra, a polícia seria tão conivente com eles.”

Só por volta das 17h, a polícia começou a dispersar os manifestantes com gás lacrimogênio e bombas de efeito moral. Houve correria e eu estava bem perto do confronto. Confesso que senti medo, uma vez que tive dificuldades para respirar por causa da forte fumaça e também com os olhos ardendo. Alguns gritavam: “I can’t breath” (não posso respirar), frase que ficou imortalizada por George Floyd. Uma ironia, é claro. A grande maioria era de brancos.

Meia hora depois, decidi ir embora para cumprir o toque de recolher imposto pela prefeita. Muita gente ainda ficou no local. Também não sei se, a grande maioria dos manifestantes fosse negra, a polícia seria tão conivente com eles.

Conversei com alguns manifestantes que, orgulhosos, exibiam fotos no celular da invasão na área interna do Capitólio. Só não sei se, daqui a alguns anos, ficarão orgulhosos de se enxergarem nas páginas dos livros de história.