
Texto de Chico Sant’Anna, com base em dados dos portais wikeaves, Aves de Rapina do Brasil, site Parque das aves, Armazém do Texto e Culturamix. Fotos de Sandra Beatriz Zarur, Leninha Caldas e Rogério de Castro.
Na história da humanidade, as corujas sempre tiveram o seu lugar, ora representando a sabedoria, ora o oculto. Na antiga Babilônia, Lilith era uma linda jovem com pés de coruja, que possuía vida notívaga. “Ela era uma vampira da curiosidade, que dava aos homens o desejado leite dos sonhos”. Os gregos consideravam a noite como o momento do pensamento filosófico e da revelação intelectual e a coruja, por ser uma ave noturna, acabou representando essa busca pelo saber. Athena, deusa da guerra e da sabedoria, era representada com uma coruja como mascote. No Império Romano, já era o inverso: ela era tida como animal agourento. Ouvir o seu pio era presságio de morte iminente. No xamanismo, são os pássaros das profecias, da magia e da escuridão.
Se são muitas as leituras sobre a simbologia das corujas, diversas também são as espécies de corujas. Ao todo foram classificadas 200 espécies de coruja no mundo, algumas tipicamente brasileiras. Entre uma espécie de coruja e outra, mudam plumagem, sua forma de se alimentar e local onde vivem, mas são animais essencialmente carnívoros e predadores natos.

Aqui vamos falar da Corujinha-Orelhuda.
Dependendo da Região do Brasil, ela pode ganhar denominações diferentes: coruja-gato, coruja-listrada e mocho-orelhudo. A denominação de mocho orelhudo é contestada pelos especialistas que dizem tratar-se de outra espécie, com algumas características idênticas, mas de maior tamanho e maior peso.
Seu nome científico é, contudo, um só: Asio clamator, significa: do (latim) asio = tipo de coruja orelhuda; e do (latim) clamare, clamator = gritador, aquele que grita. Daí, coruja orelhuda e gritadora.
Segundo os portais wikeaves e Aves de Rapina do Brasil, ela costuma ser silenciosa. Porém, emite vocalizações bastante variadas, dá um “huu” grave e abafado, bem espaçado. Também emite um assobio agudo, com modulação ascendente/descendente, emitido em intervalos regulares de até 20 segundos; e um grito muito agudo “píííuugritos “áut-áut-áut…”, semelhantes a latidos agudos de cães, emitidos a intervalos curtos; grito queixoso, lamurioso “uoow…”.
Aproveite, e veja no vídeo abaixo o som de uma Corujinha-Orelhuda
A corujinha-orelhuda, como todas as corujas, tem hábitos noturnos (Pseudoscops clamator). É da família dos estrigídeos e muito fácil de ser encontrada na América Latina, em especial da Guatemala à Argentina, exceto nas florestas Amazônia. Vive em bosques, borda de matas, áreas abertas com árvores, podendo ser encontrada também em áreas urbanas bastante arborizadas.
As corujas das fotos de Sandra Beatriz Zarur, foram captadas em janeiro de 2021, na cidade de Águas Claras, Distrito Federal, local onde de maior densidade de edificios elevados na Capital Federal. Foi lá também, mas em agosto de 2015, que Leninha Caldas registro cenas noturnas da Orelhuda. Já Rogério de Castro registrou, em 2013, as dele no Parque Lago do Cortado, em Taguatinga, DF. Numa cena rara, ele captou um indivíduo adulto e três filhotes.
É uma coruja estritamente noturna tornando-se ativa já no pôr-do-sol. Durante o dia fica camuflada nas arvores. Também é vista frequentemente em arames, cercas e postes à margem de estradas.
Taxonomia
Há quatro espécies reconhecidas da Coruja Orelhuda da qual um único é achado na América Central e os outros três na América do Sul. Uma delas pode, inclusive, estar extinta ou bem próximo disso.
- Rhinoptynx c. forbesi: coruja orelhuda encontrada do Sul do México até o Panamá, na América Central;
- Rhinoptynx c. clamator, encontrada na Colômbia e da Venezuela até as Guianas, Sudeste do Peru e Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil;
- Rhinoptynx c. oberti, no arquipélago de Trinidad e Tobago, na costa Norte da América do Sul, ela é encontrada em Tobago e na parte Nordeste de Trinidad, mas nessa ilha, possivelmente, já se encontra extinta ambas; e
- Rhinoptynx c. midas: Leste da Bolívia, Sul e Sudeste do Brasil até Argentina e Uruguai.

Características
Esta coruja tem “orelhas” bem destacadas, que na verdade são penachos longos e proeminentes, bem desenvolvidos, localizados acima de suas orelhas. Tais aves chegam a medir até 37 cm de comprimento e além do penacho, na cabeça há um disco facial branco margeado de negro. A envergadura vai de 22,8 a 29,4 cm, pesando entre 320-546g.
Tem as asas curtas e uma cauda longa, seus olhos são grandes, escuros e marrons. Quase imóveis, não se movimentam como os olhos humanos, resultando num campo visual bem limitado. O que significa, que a coruja tem que virar a cabeça para mover seus olhos. Elas podem girar a cabeça até 270 graus para ter um amplo campo de visão. Além da poderosa visão, assim como nas outras corujas, o disco facial que possuem bem destacado desempenha importante papel de refletor sonoro, que amplia o volume do som facilitando a localização da presa.

Visão Noturna
Como as demais corujas, têm os olhos virados para frente, o que lhes dá uma visão binocular com uma melhor percepção de profundidade e excelente capacidade de enxergar grandes distâncias.
A excelente visão está associada ao fato de ser um animal noturno, que começa a caçar quando a noite já está densa, pois assim se sente mais escura para se esconder entre árvore.
Alimentação
Alimentam-se de roedores, aves, grandes insetos, lagartos, pássaros, répteis, pequenos mamíferos, pequenos vertebrados e cobras. O grande comprimento das garras – possuem tarsos (garras) poderosos para seu tamanho -, sugere que, proporcionalmente ao seu porte, possam capturar animais grandes. Capturariam presas com peso superior a 200 gramas.
Sua caça é crepuscular e a técnica foi descrita como um voo baixo sobre a paisagem aberta, caçando geralmente a partir de um poleiro que permita a observação da presa. Com mergulhos abruptos, atiram se sobre ela em um voo direto, rápido, rasante e certeiro.
Os mamíferos e os pássaros pequenos são a alimentação predileta. Dentre os mamíferos, inclui-se ratos, gambás e morcegos, inclusive o morcegos-vampiros Desmodus rotundus. As corujas preferem animais vivos e frescos a mortos, por isso são excelentes predadores de animais que desagradam as pessoas.
Dentre os pássaros a predileção recai sobre pombas e pardais. O interessante deste animal é que ele não digere tudo o que come: Ele come o animal capturado e em alguns minutos regogita e coloca para fora os ossos e a pele, ficando apenas com a carne.
Reprodução
Tradicionalmente, as corujas não constroem ninhos. Esta é uma das poucas corujas que aparentam a intenção de construa-los. Elas o fazem no chão forrado com poucas gramíneas secas e oculta em meio ao capim, entre ramos e troncos secos. Aproveitam também ocos de árvore ou ninhos feitos por outros animais para usá-los.

Na América do Sul, o período reprodutivo vai de agosto a março. A postura é de dois a quatro ovos. A fêmea permanece no ninho chocando por 33 dias, sendo alimentada pelo macho.
Os filhotes já são capazes de voar entre o 37º e o 46º dia de vida. Aos 130-140 dias de vida os jovens são expulsos do território pelos pais. Geralmente, contudo, um filhote apenas sobrevive a cada ninhada. Corujas podem viver até 30 anos, segundo informa o site Parque das aves.
O ser humano é uma das principais ameaças dessa espécie, seja pela caça predatória, seja pela devastação ambiental, seja por atropelamentos na estrada. Outra grande ameaça é o hábito de crianças e jovens empinarem pipas. É comum o recebimento pelos veterinários de animais desta espécie com linhas de papagaios enroladas no corpo, podendo causar restrição de movimentos do animal ou, caso a linha possua “cerol”, invalidez permanente e até a morte. No mundo animal, a coruja orelhuda tem como predadores outras aves de rapina maiores.
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