Com uma história de luta pela sobrevivência de seus moradores e da própria cidade, a Estrutural clama por mais atenção do Estado. Insatisfeitos, líderes locais pedem a saída do terceiro administrador na gestão Ibaneis. Ex-comandante do Bope e da Patamo, o major Gustavo Cunha de Souza está na cota do presidente da CLDF, distrital Rafael Prudente.

Por Chico Sant’Anna

Pela terceira vez, em dois anos de governo Ibaneis Rocha, a situação fica quente na Cidade Estrutural. Lideranças comunitárias estão pressionando o GDF pela substituição do administrador regional. Neste sábado, 23/01, depois de uma semana de mobilizações pelos grupos de whatsapp, um encontro reuniu dezesseis dirigentes de entidades comunitárias – tais como os Conselhos Comunitário, o de Segurança e o de Cultura. Todos insatisfeitos e desejando a exoneração do major Gustavo Cunha de Souza.

Circulam nos grupos de whatsapp fotomontagem com a imagem do Major Cunha pedindo a sua saída. Com passagem pelo comando da Patamo e do Bope, foi indicação política do presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente.

Cunha é o terceiro administrador da Estrutural no governo Ibaneis Rocha. Com passagem pelo comando da Patrulhamento Tático Móvel – Patamo e do Batalhão de Operações Especiais – Bope, foi nomeado n cota política do presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente – MDB, quando rumores davam conta da existência de milícias em ação na Estrutural.

Antes dele, a cidade viu o administrador, Germano Guedes, cair em uma movimentação semelhante a que ora acontece com, praticamente, os mesmos atores. Seu substituto, o major da PM, Fabio Costa, caiu antes da posse, pois estava impedido pela lei da ficha suja. Foi condenado a sete meses de suspensão da tropa pela Justiça Militar pela prática de comércio, enquanto exercia a função militar. Sua pena terminava em novembro de 2019.

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Demandas

Presidente do Conselho de Cultura da cidade, Marcelo Paulysta, diz que a insatisfação dos moradores se deve ao “desrespeito para com as lideranças locais”, falta de atendimento às demandas, tais como retirada de entulho, operação tapa buraco, manutenção de equipamentos públicos, como parques e praças.

“Ele sequer responde aos ofícios protocolados. Solicitamos formalmente audiência em nome do Conselho de Cultura, para tratar da execução dos dispositivos da Lei Orgânica na Estrutural e não houve retorno” – diz ele.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o posto da PMDF ambandonado, com as portas arrombadas e pichado por fora. No seu interior, ainda há um cofre da corporação, extintor de incêndio e outros apetrechos que foram deixados para trás.
O que deveria ser o símbolo da segurança, transmite mensagem exatamente oposta.

Outra demonstração, do que seria o descaso para com a cidade foi a desativação do posto policial da PM, na entrada principal da cidade – coincidentemente ou não -, logo após a posse do major como administrador.

Hoje, o posto está semi-depredado, com portas arrombadas e pichado por fora. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o ambandono. No seu interior, ainda há um cofre da corporação, extintor de incêndio e outros apetrechos que foram deixados para trás.

Na reunião, também foi criticado um áudio que circulou nas redes sociais no qual, supostamente, o major Cunha teria feito críticas contundentes às lideranças locais, denominando-as de carniças e com o uso de alguns palavrões, segundo afirma Paulysta.

Governador

“O que nós queremos é que o governador venha até aqui pra ver nossa situação. Para consolidar a nossa autonomia, precisamos de um batalhão da Polícia Militar; a delegacia da Polícia Civil fechou numa greve e nunca mais voltou, até o galpão de cultura e bazar está sem seu telhado. Precisamos de uma Agência do Trabalhador, outra do Banco de Brasília, um posto do Samu, uma sede regional do Tribunal Eleitoral e a tão sonhada escritura de nossas casas. Nossa comunidade é politizada e quer ser ouvida pelo governador” – relata Alexandre Bedran, um apoiador do Coronel Alberto Fraga, no primeiro turno das eleições em 2018 e que também esteve presente na reunião.

Primeiro administrador da Estrutural na gestão Ibaneis, Germano Guedes, hoje na secretaria de Governo, diz que os dois primeiros anos foram necessários para botar ordem na casa e fazer os projetos técnicos para que as melhorias acontecessem. “Agora, a cidade vai receber nova escola, creche comunitária e a construção do anel viário, além da recuperação de áreas de lazer, como os campo sintético” – diz ele.

Ao portal Política e o Poder, Germano foi mais enfático. “Eles não defendem a comunidade, são ‘líderes’ de si, muitos estão preocupados com seus umbigos e os interesses da cidade sempre foram o último plano para eles. Na Estrutural, sempre foi assim, pessoas se intitulam ‘líderes comunitários’, para buscar seus interesses nos governos em nome do povo, enquanto, na prática, o povo nunca foi beneficiado e a sociedade sempre foi vitima desta gente”.

Encontro realizado sábado, 23/01, reuniu dezesseis dirigentes de entidades comunitárias. Todos insatisfeitos com o atual administrador da Estrutural.

“A reunião foi embasada nos temas de relevância: as demandas de Estrutural, a gestão do atual administrador, Major Cunha, e a de Ibaneis. Muita cobrança sobre a ineficiência. O não atendimento dos pedidos dos moradores oficializados na Administração. A comunidade também espera que o administrador Cunha seja mais flexível com perfil dos moradores da comunidade. O cargo de administrador é um cargo político, a comunidade tem seu direito democrático de questionar, de opinar” – relatou Rodrigo Abreu, lotado no gabinete do senador Izalci Lucas, na função de ajudante parlamentar júnior, mas ele jura que não tem nenhum dedo do senador tucano no que ora acontece por lá.

As carências da Estrutural são enormes e históricas. Entretanto, embora muitos neguem, há informações de que esse agito já mira 2022. Parlamentares federais e distritais estariam tentando mover as peças do tabuleiro para ter um melhor posicionamento em outubro do ano que vem, ou mesmo para desestabilizar a administração Ibaneis. Isso explicaria, inclusive, a participação de supostos líderes comunitários de fora da Estrutural. Nesse agito, tem gente da Ceilândia, das Arniqueiras, de Taguatinga, dentre outras RAs.

Nos bastidores, várias lideranças afirmam que quem está agitando a Estrutural é a deputada Flávia Arruda – PL, esposa do ex-governador José Roberto Arruda. Ela, que perdeu a secretaria de Desenvolvimento Social para a primeira dama do GDF, Mayara Noronha, estaria buscando melhor posicionamento nas regiões administrativas do DF.

Liderança histórica da cidade, Paulo Batista, o Paulão da Estrutural – que não participou da reunião -, avalia que ao longo dos anos a maioria das lideranças cidade vem perdendo a força política. “Muitas delas trocaram a credibilidade perante à comunidade por vaga de empregos no governo ou em empresas de políticos, contratadas pelo GDF. Não tenho a menor dúvida: em outra época, a comunidade não toleraria um administrador intransigente como esse Major Cunha.”

Outro que não participou do encontro foi Joabe Gomes Barbosa, vice-presidente da associação dos moradores das Chácaras Santa Luzia, bairro da Estrutural onde a maioria das casas se encontra em situação fundiária irregular. Para ele, a reunião foi pouco representativa e ele vê o estado atritoso entre a administração e setores da comunidade como fruto também da forma como a administração vem sendo tratada, na avaliação dele, com falta de educação. Co,o exemplo ele cita a reunião que fez com moradores da Santa Luzia, um dia após a reunião das entidades que querem a saída do administrador.

“O major veio aqui, num domingo, conversou com os moradores, tirou as duvidas, mostrou o que é de sua responsabilidade e o que é da Caesb, SLU e outros órgãos do governo. Ele passa sinceridade. Inicialnente eu não vejo nada que deabone a conduta dele.

Nas redes sociais, Rene Lemos, que se apresenta como lider comunitário de Taguatinga, compartilha áudios e vídeos pedindo abertamente a demissão do administrador. Ele seria, segundo informam moradores da estrutural, da equipe de Flávia Arruda-PL. Ela nega peremptoriamente.

Nas redes sociais, Rene Lemos, que se apresenta como lider comunitário de Taguatinga, compartilha áudios e vídeos pedindo abertamente a demissão do administrador. Ele seria, segundo informam moradores da estrutural, da equipe de Flávia Arruda. Consultada por esse blog, ela disse desconhecer tal situação naquela regional e negou peremptoriamente qualquer participação. Disse não conhecer nenhuma pessoa com o nome de Rene Simões e que é muito amiga de Rafael Prudente.

“Caminhando juntos”

Procurado por esse blog, o presidente da CLDF, deputado Rafael Prudente, disse não estranhar o que acontece na Estrutural.

“Divergência política nas Regiões Administrativas é um fato normal e não é exclusividade da Estrutural”. Ele também não acredita em nenhuma conspiração por parte da deputada Flávia Arruda, nem que esse agito já seja decorrência das eleições do ano que vem. “A deputada tem sido muito importante para o GDF e é uma parceira da CLDF e certamente caminharemos juntos”.

Quanto ao cargo de administrador, hoje ocupado por um afiliado político, disse que o cargo é do governador, a quem cabe nomear e exonerar. “Cabe ao governador avaliar sua equipe, o trabalho de cada um”. Já o major Gustavo Cunha de Souza não retornou a consulta feita por esse blog.