
“Acreditamos que a história e a identidade da UnB não são compatíveis com colaboração com ações de estratégia de marketing para normalizar infrações ao Direito Internacional e aos Direitos Humanos, legitimando apartheid, injustiça ambiental e limpeza étnica” – escrevem acadêmicos em protesto contra encontro entre embaixador de Israel e reitora da UnB.
Por Chico Sant’Anna
O conflito do oriente Médio, entre judeus e palestinos, quem diria, foi parar no Campo Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília. Uma carta aberta-manifesto, assinada por acadêmicos e dirigida à reitora da UnB – Márcia Abrahão Moura, protesta contra a “aproximação” entre a universidade e o Estado de Israel, por meio de sua embaixada em Brasília. Além da carta, uma petição intitulada “Não a colaboração da Unb com o apartheid Israelense”, está disponível na internet, para reunir um maior número de apoiadores. Dentre os que a assinaram estão os professores eméritos da UnB, Isaac Roitman e Said Najati Sidki.
“Acreditamos que a história e a identidade da UnB não são compatíveis com colaboração com ações de estratégia de marketing para normalizar infrações ao Direito Internacional e aos Direitos Humanos, legitimando apartheid, injustiça ambiental e limpeza étnica” – diz o documento encaminhado à reitoria que apela para que não haja nenhuma ação de “fortalecimento da relação com empresas israelenses, por meio de nosso parque tecnológico (PCTec/UnB)” – conforme foi publicizado nas redes sociais pela reitora Márcia Abrahão, juntamente com uma foto em que ela, portado máscara com a bandeira de Israel, faz troca de presentes com o diplomata israelense, Yossi Shelley, esse com uma máscara com a logomarca da UnB, ao rosto.
Em seu perfil no Instagram, a reitora afirma que teve “o prazer de receber na UnB o embaixador de Israel, Yossi Shelley, grande parceiro. O encontro foi bastante produtivo. Discutimos as muitas possibilidades de cooperação, entre elas, o fortalecimento da relação com empresas israelenses, por meio de nosso Parque Cientifico e Tecnológico (PCTec/UnB). Um dos aspectos mais importantes para a melhoria de indicadores acadêmicos é a internacionalização. Avançamos muito nos últimos anos e vamos avançar ainda mais. Nossa Universidade está em uma posição estratégica, perto das embaixadas, e pretendemos, cada vez mais, estreitar as relações com outros países, trazendo pesquisadores estrangeiros para a UnB e enviando nossos estudantes, professores e pesquisadores para universidades de todo o mundo. Também queremos ter mais empresas inovadoras no Parque, para ampliar a convergência entre academia e sociedade.”
No próprio perfil do Instagram houve comentários reprovando a iniciativa da reitora da UnB. “A manutenção das relações com o Estado ilegítimo de Israel ser caracterizada como um prazer é bastante controverso, professora Márcia. Isso é, na verdade, reprovável. O genocídio praticado contra o povo palestino coloca nossa Universidade em uma situação contraditória, como a de quem, em nome da internacionalização, está disposto a passar por cima dos direitos humanos e da defesa da soberania dos povos” – comentou o aluno da Faculdade de Comunicação, Mateus Rodrigues.
Na carta-manifesto, os acadêmicos da UnB pedem que não haja nenhuma aproximação com Israel.
“A UnB precisa atentar que Israel afronta acintosamente o Direito Internacional e ignora mais de 30 resoluções da ONU, referentes ao direito do povo palestino. Povo palestino que vive na Palestina, povo palestino que vive em campos de refugiados, povo palestino que vive na Diáspora, inclusive no Brasil. Afronta a Resolução 242 das Nações Unidades que deliberou a devolução de todos os territórios tomados na Guerra de 67 (já antes afrontando a Resolução 194, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que proclamou o direito inalienável dos palestinos a voltar para suas casas e a serem indenizados pelos prejuízos que acabavam de sofrer). Afronta os direitos dos exilados e refugiados palestinos expressos nas Resoluções da ONU 2.535 de 1969, Resolução 2.672 de 1970, Resolução 3.236 de 1974, Resolução ES-7/2 de 1980. Afronta os Acordos de Oslo, ao ampliar continuamente a área ocupada por assentamentos ilegais e o número de colonos na Cisjordânia em áreas que assinou se comprometendo no referido acordo de paz que não iria ampliar (incluso fazendo isto em tempos de pandemia).”
Apartheid
Professora da Faculdade de Saúde e ex-candidata à reitoria da UnB, Fátima Sousa, ressalta que a ” UnB de Darcy Ribeiro foi criada para lutar por um futuro baseado nos direitos humanos, liberdade, justiça e paz. Por isso. devemos dizer não à qualquer forma de apartheid, hoje e sempre”.
No documento de seis laudas, os signatários enumeram uma série de ações israelenses condenadas por organismos internacionais, bem como relatam o que chamam de “apartheid” em vigor naquela região de Oriente Médio e relembram a visita de Nelson Mandela à UnB, na ocasião em que foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa.
“Em agosto de 1991, a Universidade de Brasília recebeu a visita de Nelson Mandela, líder símbolo da luta Sul-africana contra o racismo institucional e por igualdade racial. Durante seu discurso, Mandela defendeu a função da universidade de ‘perseguir o desenvolvimento, os valores, as habilidades e as atitudes na luta pela democracia’. E um dos companheiros de luta e vida mais próximos de Mandela, o Arcebispo anglicano sul africano, Desmond Tutu, aponta contundentemente que o que ocorre com os palestinos é do mesmo grau do apartheid contra o qual lutara na África do Sul. Não há justificativas então para um rechaço ao sistema de Apartheid na África do Sul, combinado com uma colaboração contra uma política deliberada, estratégica e sistemática de opressão sobre os palestinos.”
Leia no link abaixo a íntegra da carta-manifesto enviada à reitoria da UnB
Carta aberta sobre encontro UnB-Israel
Procurada, a reitoria informou que pretende responder aos signatários da carta-manifesto e que não “seria adequado antecipar o conteúdo da resposta” e negou haver qualquer convênio com Israel e que a UnB possui parcerias com universidades de todo o mundo.”
Na reunião, de 12 de fevereiro do Conselho Universitário – Consuni – disponível no Youtube -, a reitora Márcia Abrahão Moura disse que a UnB está aberta aos embaixadores de todas as nações com as quais o Brasil possui relações diplomáticas. “A universidade de Brasília tem em seu estatuto a cultura da paz e nós não vamos responder intolerância com intolerância […] Essa é a tradição do Brasil – que eu defendo – o Brasil não se intromete em relações internas dos outros países” – concluiu ela sem dar maiores detalhes sobre as tratativas com o embaixador de Israel.
Esse pessoal do contra não tem mais o que fazer. Em vez de trabalhar eles ficam fazendo zoada contra o Embaixador de Israel. Aqui em Taguatinga o coordenador educacional, meu chefe imediato, mandou passar uma petição contra Israel e a favor da Palestina. Eu recusei a assinar, pois meus ancestrais eram israelitas. O coordenador, cujo nome era Ahmed (nascido na Palestina e criado aqui no Distrito Federal) jurou vingança e foi uma perseguição contra mim nas escolas da cidade. As diretoras me perseguindo, fazendo provocações. Colegas boicotando meus livros (sou escritor). Então escrevi uma carta para o governador denunciando essas práticas de discriminação. Foi aí que parou tudo. E o governador tirou a turma do PT de toda da coordenação. Que alívio!
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Qual o problema? Israel tem muito a contribuir para o progresso da UnB. Isso só pode ser atitude da esquerdalha, dos comunistas, de vagabundos que estudam de graça, sustentados pela pobre população brasileira.
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Acho que o senhor pode fazer suas criticas sem o uso de adjetivos depreciativos. Normalmente que se vale de tantos adjetivos assim é porque não tem nada de substantivo a falar.
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O assassinato e a reclusão do povo Palestino, a ocupação de seus territórios, a política de extermínio genocida e a relação de poder assassino e segregador do Estado sionista de Israel devem ser combatidos por todas as organizações que têm por principio a democracia e autonomia dos povos.
Vamos assinar contrários a essa relação da UNB e divulgar: https://bit.ly/3d4t8TS
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Onde andam os(as) oportunistas apoiadores(as) da professora Marcia aquí na UnB? Porque não se manifestam?
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Que a coluna destaque e inclua no tema das críticas à ações do Estado de Israel, justo a opinião de um aluno que critica „a manutenção das relações com o Estado ilegítimo de Israel“ é indicador dos contornos que o anti-semitismo assume, travestido de isenção jornalística.
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Era o comentário que existia no perfil da reitora
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