Enquanto a Justiça Federal analisa ação que pede Lockdown total no Distrito Federal, que mais de duas centenas de pessoas estão na fila por um leito na UTI, aumentam as pressões ao governador Ibaneis, por parte de entidades e comitês, para que ele adote uma política local de vacinação, bem como implemente o isolamento social total para combater à Covid-19 e restabelecer a condição de ação da rede pública de Saúde.
Por Chico Sant’Anna
A gravidade da Pandemia da Covid-19 está em níveis alarmantes. A Defensoria Pública da União pede na Justiça Federal um efetivo lockdown na Capital Federal, até que a ocupação das UTIs fiquem abaixo de 70% por duas semanas seguidas. Dois conselhos se pronunciaram publicamente chamando a atenção para a gravidade. O Conselho de Saúde do Distrito Federal considera preocupante a realidade local e a classifica como “caos”. Por sua vez, o Comitê UnB pela Vacinação recomenda urgentemente a Imunização Universal da População do Distrito Federal. “As respostas lentas do GDF, alinhadas às orientações frágeis do Governo Federal, não fazem jus à tragédia enfrentada pelas milhares de famílias em luto nem às demandas da população em risco com seus desejos de sobrevivência e qualidade de vida” – afirma o Comitê da UnB, apoiado por onze entidades, dentre elas o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde –Cebes.
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O Conselho de Saúde, composto por composto por representantes de entidades e movimentos representativos dos usuários do SUS no DF, entidades representativas de trabalhadores da saúde, do governo e de prestadores de serviços de saúde do DF. É a instância máxima de deliberação do Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive no que se trata ao uso das verbas públicas. Em resolução enviada ao secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, demanda um “lockdown de verdade”, com fechamento de atividades não essenciais. Juntamente com o fechamento, o Conselho aponta a importância de importância de renda básica, medidas de preservação de empregos e de auxílio a empresas para que todos possam exercer o isolamento e o distanciamento social. A ampliação dos leitos de UTI e enfermarias para suprir a demanda existente no momento, a disponibilização de EPIs e medicamentos também está entre os itens solicitados.
A resolução é formada, basicamente, por quatro pontos:
- Que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, adote medidas de isolamento e distanciamento social da maneira mais ampla possível, de forma segura e efetiva, com fiscalização rigorosa, com fechamento imediato de escolas particulares, academias e igrejas/templos religiosos, enquanto os indicadores definidos na Resolução CSDF no 529/2020 não forem alcançados.
- Que faça o que estiver ao seu alcance para garantir vacinação à população de modo a oferecer uma resposta eficaz do sistema único de saúde do DF na atuação no combate aos crescentes casos de contaminação e morte.
- Que a secretaria de Saúde do DF (SES/DF) garanta e disponibilize equipamentos de proteção individual (EPI’s) e medicamentos em toda rede dirigidos ao controle da pandemia.
- Que a SES/DF garanta a ampliação de leitos de UTI e enfermarias, de modo a suprir a demanda existente neste momento de alta no número de casos e óbitos da pandemia no DF.

“Estamos todos esgotados, mas precisamos reforçar as medidas de isolamento, não podemos nos acostumar com a morte de ninguém, quanto mais de 5.000 pessoas no DF. São amores de alguém, pais, mães, avós, maridos e esposas” salienta o psicólogo Rubens Bias, membro do conselho de Saúde.
Já o Comitê UnB pela Vacinação observa que uma célere imunização universal – portanto além dos grupos de riscos – representaria a medida mais segura, efetiva e economicamente viável de enfrentamento ao Coronavírus. Com dados apre4sentados pelo próprio GDF, a entidade lembra que o governo local não pode alegar dificuldades orçamentárias, pois fechou o ano de 2020 com um superávit de R$ 1,6 bilhão. “Nesse cenário, um eventual questionamento sobre dificuldade financeira denotaria desconhecimento das próprias capacidades de execução orçamentária do DF” – diz em nota. “. Precisamos que o governador faça sua parte e busque, com todas as forças, acelerar a aquisição de vacinas. Só assim vamos conseguir voltar à normalidade” – complementa Bias.
Os dois fóruns remarcam que as redes de saúde, pública e privada, estão lotadas e em colapso. E que só sairemos dessa situação quando todos os brasilienses vierem a ser vacinados.
“O colapso completo do sistema de saúde é muito preocupante. Apesar de abertura de 144 leitos de UTI em pouco mais de uma semana, a ocupação de leitos acima de 95% todos os dias nas últimas semanas. A abertura de novos leitos não tem dado conta” – registra o Conselho de Saúde.
Ações regionalizadas
Em nota pública, o Comitê da UnB orienta ao GDF a não ficar esperando apenas as ações do governo Federal.
“As condutas desprovidas de responsabilidade pública tomadas no âmbito federal tornam ainda mais indispensáveis a vontade política e a coordenação de ações subnacionais para que mais vidas não sejam ceifadas. Nosso Comitê deseja que haja, com a devida rapidez, a imunização no Brasil. Nesse sentido, é indispensável a crítica aguda ao Governo Federal bem como a realização das devidas medidas para viabilização de planos subnacionais de vacinação. Simultaneamente às ações públicas para evitar agravamento da situação da saúde pública no âmbito do Distrito Federal (estabelecimento de lockdown, medidas econômicas e fiscalizatórias de incentivo ao isolamento social, estabelecimento de leitos emergenciais e hospitais de campanha), faz-se necessária a negociação da compra direta de vacinas contra o Covid com laboratórios devidamente certificados, com vistas à imunização universal da população do Distrito Federal – em articulação com a Região Integrada de Desenvolvimento do DF (RIDE), para conter novas propagações e mutações do vírus” registra o documento do Comitê UnB pela Vacinação.
Crianças
Dentre os integrantes do Comitê da UnB há os reflexos que a Covid-19 pode provocar dentre pessoas menores de 18 anos. “Compreendemos que o Plano Distrital de Vacinação contra o Covid19 deve considerar a universalização, de modo a observar, no devido tempo, os riscos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, entre outros agravamentos em decorrência do Covid19. O portal do médico Dráuzio Varela informa que essa síndrome, também conhecida como Síndrome Inflamatória Multissistêmica em Crianças (SIM-C), é uma condição inflamatória que afeta os vasos sanguíneos (veias e artérias) de crianças e adolescentes. Segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, a doença se manifesta, entre 0 e 19 anos e está associada à infecção aguda pelo vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19.
“Só vamos sair dessa situação quando vacinarmos todos. Só assim vamos conseguir voltar à normalidade. Até lá, é fundamental que o governo faça sua parte, garantindo o isolamento social, pagando o auxílio para pessoas de baixa renda, e adotando medidas de garantia de emprego e de apoio aos pequenos empresários” – conclui Rubens Bias.