As duas principais entidades representativas de docentes e universitários da UnB lançam moção contra parceria com Israel. O Diretório Central Honestino Guimaraes quer saber se “as empresas de tecnologia do estado sionista”, que vierem a participar dessa cooperação com a UnB, participam ou participaram do desenvolvimento de armas convencionais ou químicas, munições, drones e outros equipamentos utilizados por Israel

Por Chico Sant’Anna

Mesmo com as atividades a meio-vapor na Universidade de Brasília, em decorrência da Pandemia da Covid-19, as temperaturas andam quentes ainda pela iniciativa da reitora, Márcia Abrahão, em sinalizar a possibilidade de firmar parcerias com empresas de Israel. Desde que o assunto veio à tona, com a publicação no Instagram da reitora da foto da audiência concedida ao embaixador de Israel, Yossi Shelley, cresceram as reações contrárias por aqueles que criticam a política do Estado de Israel, notadamente em relação aos territórios ocupados da Palestina. Os mais recentes protestos vieram das duas principais entidades representativas da comunidade acadêmica da UnB. A Associação dos Docentes da Universidade de Brasília – AdUnB e o Diretório Central dos Estudantes Honestino Guimarães, secundado por desessete centros acadêmicos de faculdades da UnB lançaram moções contra a iniciativa da reitoria.

Para melhor compreender esse tema, leia também:

Os Centros Acadêmicos que se posicionaram contra a parceria Israel-UnB são os das faculdades de Antropologia, Arquivologia, Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais, Comunicação, Filosofia, Fonoaudiologia, Geografia, Geologia, Letras, Letras-Japonês, Odontologia, Química, Relações Internacionais, Sociologia e Veterinária.

Em moção aprovada em Assembleia Geral da AdUnB, a entidade afirma que o posicionamento contrário à proposta de colaboração “se dá por se tratar de uma cooperação com Israel, um Estado de apartheid, fato este amplamente conhecido e mais recentemente reiterado no relatório da ONG israelense de Direitos Humanos B´Tselem, intitulado “This is apartheid: The Israeli regime promotes and perpetuates Jewish supremacy between the Mediterranean Sea and the Jordan River

A associação dos docentes cobra transparência por parte da Reitoria, em especial no que se refere à identificação de quais empresas israelitas seriam envolvidas e em que se dariam estas colaborações acordadas ou em tratativas. Incidiriam sobre que atividades acadêmicas, de pesquisa e extensão, com quais instituições acadêmicas e de pesquisa, com quais empresas, para quais tecnologias, fabricadas onde e se extrai sua matéria-prima em territórios ilegais a luz do direito internacional?

Por sua vez, o Diretório Central Honestino Guimaraes quer saber se “as empresas de tecnologia do estado sionista”, que vierem a participar dessa cooperação com a UnB, participam ou participaram do desenvolvimento de armas convencionais ou químicas, munições, drones e outros equipamentos utilizados por Israel “para manter um estado de guerra permanente contra os palestinos e que conduz à limpeza étnica”.

Para as dezesseis entidades de estudantes que pedem em moção a suspensão dos entendimentos eventualmente existentes para avançar na cooperação anunciada, a cooperação anunciada “contribuiria para a normalização das práticas criminosas cometidas pela entidade sionista contra o povo palestino.”

“Ela está em aberta contradição com a posição histórica da Universidade de Brasília contra o regime de apartheid da África do Sul e que hoje tem um análogo em Israel, pois, nos fatos, tal cooperação se daria com o apartheid israelense” – diz a nota das entidades universitárias.

Universidades estrangeiras

A AdUnB lembra que são diversas as instituições de pesquisa e ensino superior mundo a fora que não concordaram com a existências de acordos, parcerias, cooperações e, dentre essas, citam:

“as Universidades de Illinois e Columbia, que tiveram referendos ratificando a não participação em programas e fundos compartilhados com entidades participantes da espoliação de palestinos. O departamento de Análises sociais e Culturais da Universidade de Nova York cortou as relações oficiais com o campus de Tel Aviv. O Conselho do Pitzer College votou a favor de suspender ações com a Universidade de Haifa. Resoluções nesta linha foram aprovadas por membros da Associação Nacional de Estudos de Mulheres nos EUA; a Associação Nacional de Estudos Chicanos e Chicanas; a Associação para Estudos Indígenas e Nativo-Americanos; a American Studies Association; A Associação para a Sociologia Humanista dos EUA; a Associação para Estudos Asia-Americanos; as Universidades sul-africanas de Joanesburgo, Cape Town, Pretória, KwaZulu-Natal e Setellenbosch; a União de Professores e a NUI Galway Students’ Union da Irlanda; a Associação de Estudantes da Universidade de Sidney Ocidental; a Associação de Professores Universitários do Reino Unido também votou a favor de boicote às colonialistas Universidades de Haifa e Bar-Illan.”

A moção da AdUnB conclama a reitora Marcia Abrahão a manter a Universidade de Brasília “como espaço livre de apartheid” e afirma ser “frontalmente contrária a qualquer cooperação com o Estado de apartheid de Israel, o que afrontaria princípios fundamentais, como direitos humanos, e convenções internacionais.”

Procurada , a reitoria da Universidade de Brasília não comentou as moções dos professores e estudantes.