O vandalismo contra o Viveiro Comunitário do Park Way não é a primeira ocorrência em que uma iniciativa de convivência mais harmoniosa entre a natureza e moradores do bairro é alvo de ataques. Em dezembro de 2019, o Pomar Solidário – um abrigo de ônibus adaptado para que excedentes da produção de frutas e hortigranjeiros dos moradores seja compartilhada gratuitamente com quem desejar – foi igualmente depredado.

Por Chico Sant’Anna

O Viveiro Comunitário do Park Way foi alvo de vândalos. Criado pela comunidade do bairro, com apoio da administração regional, o viveiro tem sido responsável pela produção de milhares de mudas, em especial do Cerrado, utilizadas no reflorestamento do próprio Park Way, mas também de outras cidades. Candangolândia foi a mais recente beneficiadas com as mudas. Os vândalos arrombaram o cadeado da área principal, onde estão as mudas, deixaram todas as torneiras abertas, jorrando água pelas instalações, e, com uso de um instrumento tipo marreta, alavanca ou pé de cabra, também abriram à força duas portas de metal, que dão acesso aos banheiros, recém construídos. O fato foi registrado em boletim de ocorrência da Polícia Civil e também notificada a Polícia Militar. Até agora, não se tem notícias sobre os autores.

Essa não é a primeira vez que uma iniciativa de convivência mais harmoniosa entre a natureza e moradores do Park Way é alvo de ataques. Em dezembro de 2019, o Pomar Solidário – um abrigo de ônibus adaptado para que excedentes da produção de frutas e hortigranjeiros dos moradores seja compartilhada gratuitamente com quem desejar – foi igualmente depredado.

Sobre o Pomar Solidário, leia também:

Veja aqui vídeo sobre a ação dos vândalos

Tudo indica que os (ir)responsáveis desse novo vandalismo estavam em busca de ferramentas ou outro bem de valor. Os gestores do viveiro também deram falta de algumas bromélias. O viveiro foi estrategicamente instalado nos fundos do Posto Policial da Quadra 14, mas há muito tempo a Polícia Militar deixou de utilizá-lo como base dos policiais.

Criado há cerca de quatro anos pelos próprios moradores, o viveiro não manipula recursos ou verbas. O escambo predomina. Além disso, conta com a cessão de um jardineiro da administração regional do Park Way e os recursos necessários, normalmente, são provenientes de cotizações entre os moradores. As mudas são permutadas por utensílios que possam ser úteis ao funcionamento do viveiro, tais como implementos agrícolas, fertilizantes, sementes, estacas, dentre outros. A mão de obra voluntária de quem gosta de mexer com plantas também é bem-vinda. Nessa modelo de gestão, um orquidário está em fase de implementação.

Por isso mesmo, a notícia de vandalismo perturbou a comunidade, que não entende como algo que não gera lucros, que distribui graciosamente seus bens pode ser alvo de uma ação tão malévola como essa. A comunidade, agora, organiza nova vaquinha para reparar os danos.

História

Tendo disponibilidade de insumos e mão-de-obra, o viveiro tem hoje o potencial de produzir mensalmente dois mil novos pés de plantas.

Em 2017, dentro de um movimento de reflorestamento do Park Way afetado, principalmente, pelas obras do BRT-Sul, a comunidade decidiu criar um viveiro para produzir suas próprias mudas, já que não era fácil conseguir mudas em quantidade dos viveiros governamentais.

Nesses quatro anos, mais de R$ 30 mil foram aportados em material ou equipamentos e em espécime para a aquisição de utensílios de irrigação, implementos agrícolas, ferramentas e pagamento de energia elétrica. Além de doações e coletas, festas e cursos são constantemente organizados para a captação de recursos, bem como para congregar a comunidade. Os próprios moradores dedicam tempo e expertise para desenvolver o que é hoje considerado uma das mais bem sucedidas iniciativas de viveiro comunitário do Distrito Federal.

Sobre o Viveiro Comunitário do Park Way, leia mais aqui:

Até agora, o viveiro era tocado, com sucesso, por um coletivo de moradores e com apoio das associações comunitárias existentes no bairro, dentre elas a Associação Comunitária do Park Way (ACPW), a Associação Amigos do Córrego do Mato Seco (Amac-Park Way) e o Conselho de Segurança – Conseg. Para melhor contribuir para o bom funcionamento do Viveiro e permitir a realização de convênios com entes públicos e privados, foi criada, em 2020, a associação Amigos do Viveiro Comunitário do Park Way – Árvore Way.

Até o início da Pandemia, o Viveiro Comunitário também era palco de visita de escolares que podiam, in loco, aprender os segredos da natureza. Mais de 30 mil mudas já foram produzidas ali, em especial de espécimes do cerrado, tais como Ipê, Jacarandá Mimoso, Cagaita e Pequi. Espécimes brasileiras em risco de extinção, tais como o Jacarandá da Bahia, Pau-Ferro e Pau Brasil também são alvo da produção de mudas. Tendo disponibilidade de insumos e mão-de-obra, o viveiro tem hoje o potencial de produzir mensalmente dois mil novos pés de plantas, garante Wilson Guedes, um dos moradores responsáveis pelo dia-a-dia do Viveiro.