Nos fundos da quadra 13 do Park Way, onde deveriam existir chácaras de produção de hortigranjeiros, uma enorme invasão se consolida a cada dia.

Um tema que se destacou foi o das invasões. Desde a sua implantação, o Park Way é assediado por invasores, alguns já organizados em associações, representados por advogados e protegidos por políticos. Estes invasores ocupam áreas verdes, por vezes junto a córregos – que chegam a represar – e edificam sem qualquer respeito aos regulamentos de construção ou normas sanitárias.

Por Carlos Cristo*

No sábado, 24/10, a secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação realizou mais uma oficina sobre o novo Plano Diretor de Ordernamento Territoria – Pdot. O encontro virtual deste sábado foi entre GDF e moradores do Lago Norte, Lago Sul, Varjão e Park Way adotou técnicas de construção de futuro, mas de forma extremamente superficial, o que poderá, eventualmente ser usado para legitimar desejos do Governo.

Um estudo de futuro normalmente envolve um grupo pré definido de pessoas interessadas, a quem é apresentado o diagnóstico, para serem envolvidas nos paineis, onde especialistas irão discutir as variáveis relevantes, para, em seguida, opinarem sobre o comportamento futuro dessas variáveis.

O diagnóstico existe, as variáveis estão identificadas, em seis grupos, ou eixos temáticos, mas a discussão com especialistas não aconteceu e as perguntas foram muito reduzidas e genéricas.

Mesmo assim, o tema de comércio e de serviços predominou nas intervenções dos moradores, como preocupação maior. No Park Way, de um lado os radicais, que não admitem nada além de uma única moradia por fração, não admitem sequer áreas verdes transformadas em parques “abertos” porque isso poderia atrair visitantes indesejados. São moradores que gostariam de morar num ambiente fechado, nunca numa cidade. Outros moradores expressaram o desejo de poderem comprar pão ou medicamentos sem terem que viajar 16 km – um absurdo ambiental.

Outro tema que se destacou foi o das invasões. Desde a sua implantação, o Park Way é assediado por invasores, alguns já organizados em associações, representados por advogados e protegidos por políticos. Estes invasores ocupam áreas verdes, por vezes junto a córregos – que chegam a represar – e edificam sem qualquer respeito aos regulamentos de construção ou normas sanitárias.

Mas vamos aos eixos temáticos:

Gestão Social da Terra – O Park Way foi concebido como um enorme anel verde de proteção ao Plano Piloto, por isso a sua baixissima densidade e as áreas públicas, que superam, em superficie, as privadas.

Ruralidades – contigua ao Park Way, está o núcleo rural da Vargem Bonita, responsável pela produção de 30% das hortaliças consumidas em Brasília. A Agrovila da Vargem Bonita, no entanto, transformou-se num pequeno e informal centro comercial, religioso e de serviços do Park Way, das quadras 14 a 29. Abriga, também habitações, muitas verdadeiros cortiços, habitações precárias e irregulares de familias que prestam serviços domésticos nos lotes do Park Way, onde a atual legislação não lhes permite morar.

Mobilidade – Tema bastante enfatizado na oficina. Enorme deficiência de transporte público e falta de calçadas e de ciclovias. Permanece a enfase no transporte individual, e de carro.

Habitação e regularização – As belas e grandes casas do Park Way exigem serviçais, para limpeza e jardinagem, pelo menos. Este gigantesco contigente de pessoas tem que se deslocar por horas, todos os dias, para ir e vir de suas casas, por vezes a 30 km do trabalho.

Desenvolvimento Econômico e Sustentável – A pandemia evidenciou a possibilidade das pessoas poderem trabalhar em casa, mas isso continua a ser um tabu, no exclusivamente residencial Park Way. Entre os diversos exemplos desta falácia, está um amigo que, por  hobby, é serralheiro e tem uma oficina com mais de 500 m², no seu lote. Como não faz uso comercial, ninguém pode fazer nada que o impeça,… outro amigo, escultor, enfeita a sua quadra com peças belíssimas, representando a nossa fauna. Será que ele pode vende-las?

Meio Ambiente e Infraestrutura – Uma das grandes falácias, no Park Way, é a de que a preservação do bairro virgem de comércio e de serviços, preserva o cerrado. O Park Way destruiu quase todo o cerrado original, para substitui-lo por espécies exóticas de todas as origens – Europeias, Africanas, Asiáticas e até da Oceania. Outros “defensores” do meio ambiente clamam por esgoto. Francamente, esta não é uma necessidade, no Park Way, onde as fossas sépticas são perfeitamente adequadas à baixa densidade. No entanto, o tratamento dos resíduos sólidos passa longe dos falsos ambientalistas.

*Carlos Cristo é arquiteto, urbanista e vice-presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Córrego Seco – Amac – Park Way.