O tabuleiro de cima interfere no de baixo. A decisão de Jair Bolsonaro de adiar – ou desistir – de se filiar ao Partido Liberal fez alguns pré-candidatos candangos a respirarem aliviados – pelo menos, por enquanto. Isso porque se Jair Bolsonaro efetivamente entrar no PL, uma candidatura local própria teria que ser organizada e o nome mais forte, seria de Flávia Arruda. Com Flávia Arruda candidata ao GDF, enfraqueceria Ibaneis Rocha, que a deseja na sua chapa como candidato ao Senado.

Por Chico Sant’Anna

Imagine um jogo de xadrez com dois tabuleiros. Um sobre o outro. Na prática, são jogos autônomos, mas não tão independentes, assim. Um movimento no tabuleiro de cima interfere diretamente na estratégia do de baixo. A simultaneidade das eleições estaduais e nacionais transformam o pleito num jogo com essas especificidades. Esse jogo de xadrez até já existe, chama-se xadrez quântico.

No cenário do xadrez quântico eleitoral brasileiro, o tabuleiro presidencial, o de cima, afeta até mesmo os jogadores que estarão no tabuleiro de baixo. Exemplo: as candidaturas de Luís Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Sérgio Moro (Podemos), Jair Bolsonaro (sem partido) e do nome que vier do ninho dos tucanos, praticamente, impõe a necessidade de candidatos correligionários no Distrito Federal. Não há como não ter um palanque local que sustente o candidato nacional. Daí, o tabuleiro de baixo.

Assim, a decisão de Jair Bolsonaro de adiar – ou desistir – de se filiar ao Partido Liberal fez alguns pré-candidatos candangos a respirarem aliviados – pelo menos, por enquanto. Isso porque se Jair Bolsonaro efetivamente entrar no PL, uma candidatura local própria teria que ser organizada e o nome mais forte, seria de Flávia Arruda. Com Flávia Arruda candidata ao GDF, enfraqueceria Ibaneis Rocha, que a deseja na sua chapa como candidato ao Senado. A candidatura Antônio Reguffe (Podemos) também seria afetada, mas não são claros os efeitos. Pela similitude de campo político, Flávia tanto poderia retirar Reguffe do segundo turno, quanto poderia retirar Ibaneis Rocha, que hoje lidera as pesquisas. A presença dela certamente desidrataria também a candidatura de Izalci Lucas (PSDB), que durante muito tempo foi vice-líder do Bolsonaro, no Senado Federal. Com Flávia no tabuleiro de baixo, Bolsonaro ganharia estrutura no Distrito Federal, e de quebra atrairia votos que sem a candidatura dela poderiam migrar para Ibaneis, Izalci, Reguffe ou outro nome de direita ou centro-direita que vier se apresentar.

Felizes mesmos, estariam os potenciais candidatos à única vaga disponível ao Senado. Pois sem a presença da esposa do ex-governador José Roberto Arruda, as chances de vitória ao Senado ficam mais equilibradas.

A presença do ex-juiz no tabuleiro de cima traz desconforto para o de baixo. Analistas especulam inclusive a possibilidade de, até março, Reguffe deixar o Podemos.

Sérgio Moro

Sérgio Moro já se postou no tabuleiro de cima. Isso afeta diretamente a candidatura de seu correligionário no Podemos, Reguffe. O senador que vem fazendo sua prestação de contas de mandato em reuniões regionais e panfletando nas esquinas da cidade, ganharia um selo de “morista”, “lava-jatista”, o que o afastaria definitivamente de eleitores bolsonaristas e também os de centro-esquerda, antilavajatista.

A presença do ex-juiz no tabuleiro de cima não traz conforto para o de baixo. Analistas especulam inclusive a possibilidade de até março Reguffe deixar o Podemos. Há boatos que conversas já foram entabuladas com o PSB e o PDT.

Se for pro PDT, Reguffe daria o palanque forte para Ciro Gomes, na Capital Federal. Seu vice poderia até ser o ex-presidente da Câmara Distrital, Joe Vale. Por outro, se a opção for o PSB e se, no andar de cima, os socialistas fecharem com Lula, o palanque ganharia tons rubros, que não é a coloração tradicional do eleitorado de Reguffe.

Há ainda uma possibilidade do destino de Reguffe ser a Rede. Embora o partido tenha pouquíssimo tempo de TV, teve sua visibilidade ampliada com a atuação do Senador Randolfe Rodrigues, na CPI da Pandemia. Promete também trazer a ex-senadora Heloisa Helena de Alagoas, para disputar por Brasília, uma vaga na Câmara Federal.

Café com Fátima

O Psol-DF almeja uma frente para conquistar o Buriti. Representantes de legendas de esquerda têm dialogado com a professora Fátima Sousa sobre política do DF. Pela mesa do seu café da manhã, já passaram a senadora Leila do Vôlei, hoje no Cidadania, os distritais Leandro Grass (Rede) e Reginaldo Veras (PDT), o federal professor Israel (Verde) e, mais recentemente, o empresário Joe Valle.

Sob desafio de sobreviver à cláusula de barreiras, a direção nacional da Rede entabula conversas para a formação de uma Federação com outros partidos. A Federação é um casamento com prazo fixo de, no mínimo, quatro anos. É decidida no tabuleiro de cima e vale obrigatoriamente para o tabuleiro de baixo. Um dos interlocutores que a Rede mira é o Psol que, em congresso nacional da legenda, definiu não lançar, por enquanto, um candidato presidencial e apostar numa frente. O PCdoB nacional também busca conversas com o mesmo fim.

Uma frente ao GDF também é o que almeja o Psol-DF. Nesse caso teria nomes como da ex-secretária de Saúde, Maria José Maninha. Mas a demanda por palanques candangos para os presidenciáveis do tabuleiro de cima dificulta a materialização dessa frente. Pelo menos no primeiro turno. Mesmo assim, as conversas na esquerda não param. Um exemplo é a mesa de café da manhã da professora Fátima Sousa (Psol). Após surpreender nas eleições de 2018, ao conquistar 4,35% dos votos para o Psol, votação superior a do PT, ela se credenciou como uma importante interlocutora. Tem recebido visitas das principais lideranças políticas do DF. Pela mesa do seu café da manhã, já passaram a senadora Leila do Vôlei, hoje no Cidadania, os distritais Leandro Grass (Rede) e Reginaldo Veras (PDT), o federal professor Israel (Verde) e, mais recentemente, o empresário Joe Valle.

Embora paraibana, a professora, que dever ser candidata a deputada federal pelo Psol, age mineiramente. Diz que são encontros para avaliações dos cenários. Já o deputado Professor Israel revela que a conversa teve por objetivo aproximar o mandato dele com o Psol-DF, pois no Congresso, seu posicionamento tem sido muito semelhante ao da bancada pessolista. Conversamos “sobre a necessidade de se formar uma aliança de partidos comprometidos com a democracia. Não apenas uma aliança eleitoral, mas uma aliança de resistência.” E que no Distrito Federal “é necessário criar um campo para enfrentar o governador Ibaneis nas eleições.” Na mesma linha, Joe Valle disse que no encontro “sonhamos juntos com uma Brasília muito melhor”. Mais comedida, a senadora Leila do Vôlei disse que foi um encontro de duas mulheres da política para trocar visões do cenário político. E que entre um cafezinho e outro, avaliou-se a gestão de Ibaneis Rocha, notadamente, na área de Saúde.