Essa não é a primeira vez que tentam apagar da memória candanga o nome de Mané Garrincha, que por aqui também jogou vestindo a camisa do Ceub. Na gestão de Agnelo Queiroz, tudo foi feito para que o nome não prevalecesse.

Por Chico Sant’Anna

A jogada de marketing entre a Arena BSB e o Banco de Brasília – BRB, mudando o nome do estádio que homenageia o jogador Mané Garrincha para Arena BRB, equivale a uma entrada de carrinho, sem bola, pelas costas. Ação para cartão vermelho, totalmente sem fair play. Não adianta nem apelar para o VAR. Os questionamentos são de natureza legal e econômica. Pelo contrato de rebatismo, “naming rights”, o estádio receberá o novo nome a partir de 2022 e, por três anos, o BRB pagará R$ 7,5 milhões. A quantia equivale à metade do que a Arena BSB deve pagar de volta, no mesmo período, ao GDF pela concessão do estádio, do ginásio Nilson Nelson, o complexo de piscinas e o direito de construir e explorar por 35 anos um shopping aberto na área contígua ao Complexo Desportivo.

O GDF alegava que era necessário privatizar a gestão do estádio pois ele consumia muito recursos públicos, mas agora ajuda a concessionária a faturar para cobrir seus gastos. “Se fosse pra bancar com recursos públicos a rentabilidade da empresa beneficiada com a privatização do Mané Garrincha, não precisaria privatizar” –  questiona a professora Fátima Sousa, que disputou o GDF com Ibaneis, em 2018

Em 1972, Garrincha vestiu a camisa do Ceub. Foto Correio Braziliense.

Essa não é a primeira vez que tentam apagar da memória candanga o nome de Mané Garrincha, que por aqui também jogou vestindo a camisa do Ceub.

Na gestão de Agnelo Queiroz, tudo foi feito para que o nome não prevalecesse. O ex-governador, embora botafoguense, dizia que o Estádio Mané Garrincha havia sido demolido e o que se erguera no Eixo Monumental era outra arena. Havia interesse do GDF em conceder o nome a uma grande multinacional de refrigerantes. Há quem diga que as cores das cadeiras vermelhas do Mané Garrincha já foram escolhidas nesse contexto.

Lei distrital

A população de Brasília se revoltou. A Câmara Legislativa aprovou projeto da então deputada Liliane Roriz (à época no PSD), assegurando a mesma denominação ao novo estádio. Agnelo não se deu por rogado, vetou o projeto. Mais uma vez, a CLDF reagiu e, por 17 votos a zero, derrubou em agosto de 2012 o veto de Agnelo. Era a primeira goleada do novo estádio. Nessa ocasião, a hashtag Mané Garrincha tomou conta das redes sociais, chegando a mais de cem mil pessoas interagindo.

Publicado simultaneamente na coluna Brasília por Chico Sant'Anna do semanário Brasília Capital.

A Fifa e alguns veículos da mídia ainda tentaram fazer não pegar o nome do estádio, denominando-o no calendário oficial das Copas das Confederações e Mundial, de Estádio Nacional de Brasília. O acréscimo de denominação ou mesmo a sua alteração fere a lei distrital nº 4.888, de 13 de julho de 2012, que deixou claro que o nome do Estádio Nacional de Brasília é Mané Garrincha. Há informações que para burlar a lei, o contrato agora com o Banco de Brasília fixaria em Arena BRB Mané Garrincha. Mas juristas entendem que isso fere a lei em vigor.

Autora da lei em 2012, Liliane Roriz, lamenta a iniciativa do BRB e da Arena BSB. “Era uma homenagem a um grande jogador do Brasil. Quantas pessoas não ficarão decepcionadas como eu? Garanto que se fizessem uma consulta popular, se perguntassem ao povo, a maioria iria manter o nome. Perguntar pro povo, seria mais democrático, prevalecer a vontade da maioria: assim, aprendi com meu pai (ex-governador Joaquim Roriz, fervoroso botafoguense).

Patuscada
Quem também reagiu a esse patrocínio foi o distrital Chico Vigilante, que pretende representar junto ao Tribunal de Contas do DF e questionar o Governo do Distrito Federal (GDF) sobre esse contrato.
De acordo com Vigilante, “o BRB tem que servir para desenvolver a economia local, financiar os pequenos, médios e até grandes empresários dessa cidade, em vez de pegar dinheiro e repassar diretamente para uma empresa privatizada, cuja privatização aconteceu mediante questionamentos.

“Quero saber a modalidade desse contrato e quanto o BRB vai gastar com essa patuscada, quantos milhões estão sendo investidos nisso” – criticou ele, ressaltando que em um momento de crise, esses recursos seriam melhor empregados apoiando a cultura e o esporte nas cidades do DF.
Por sua vez, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, justificou que o banco “sempre associou sua história à de Brasília e dos brasilienses e que, em meio ao nosso (do BRB) processo de crescimento, o compromisso é reforçar essa identidade e ligação com as origens, trazendo retorno para a nossa cidade”. Para ele, a mudança de nome do estádio vai contribuir para o retorno de imagem de forma ampla, e está em linha com a estratégia de expansão do BRB.