
Na semana que passou, essa bancada esteve em ação, por pelo menos duas vezes. Dia 8/2, ao apreciar o veto presidencial ao projeto do senador Reguffe, que assegurava aos doentes portadores de plano de saúde, a cobertura do tratamento quimioterápico domiciliar. No dia seguinte, quando da apreciação do projeto-de-lei 6.299/2002, que facilita a autorização e comercialização de agrotóxicos, seis dos oitos deputados do DF votaram favoravelmente a uma lei que pode ampliar os casos de câncer no Brasil. As redes sociais não perdoaram.
Por Chico Sant’Anna
Os parlamentares costumam se organizar no Congresso Nacional, notadamente na Câmara dos Deputados, em torno de bancadas temáticas. Mais do que seguir a orientação de um partido, eles se pautam pelos interesses pessoais ou corporativos. As bancadas mais famosas são apelidadas de BBB. Não, não me refiro ao reality que passa na televisão. BBB significa bancadas da Bíblia, do Boi e da Bala, que agrupam evangélicos, defensores do agronegócio e da segurança pública, respectivamente. Um mesmo deputado pode estar ao mesmo tempo em mais de uma bancada. Mais recentemente, pode se dizer que surgiu a bancada do Câncer. Ela é formada por deputados que votaram a favor da flexibilização de agrotóxicos, muitos deles cancerígenos, e contra o projeto-de-lei do Senador Reguffe (Podemos), vetado pelo presidente Bolsonaro, que assegurava aos doentes portadores de plano de saúde, a cobertura do tratamento quimioterápico domiciliar, por meio de comprimidos; considerado mais humano e até mais econômico. E essa bancada do Câncer tem sua filial brasiliense.
Na semana que passou, essa bancada esteve em ação, por pelo menos duas vezes. Dia 8/2, o veto ao projeto de Reguffe chegou a ser derrubado na votação do Senado Federal, mas foi mantido pelos deputados. Faltaram 23 votos, apenas. A bancada federal do DF se apresentou dividida, meio a meio. Quatro votaram com Reguffe – Erika Kokai (PT), Professor Israel (PV), Paula Belmonte (Cidadania) e Bia Kicis (PSL) – e quatro votaram contra o tratamento domiciliar – Laerte Bessa (PL), Celina Leão (PP), Luís Miranda (DEM) e Júlio Cesar (Republicanos). No dia seguinte, quando da apreciação do projeto-de-lei 6.299/2002, que facilita a autorização e comercialização de agrotóxicos, os quatro que já haviam votado contra o tratamento domiciliar do câncer, voltaram a votar favoravelmente a uma lei que pode ampliar os casos de câncer no Brasil. Somaram-se a eles, Paula Belmonte e Bia Kicis. Ambientalistas e associações ligadas à defesa da saúde criticam o projeto, alegando que ele traz riscos ao meio ambiente e à saúde da população. Um dos principais temores é que, além da contaminação de alimentos e de trabalhadores rurais que atuam na pulverização, os mananciais de águas em todo o país sejam contaminados, gerando ai um efeito multiplicador imensurável.

Reação popular
Nas redes sociais, o comportamento de parte dos deputados federais do DF virou même. Diferentes cards, com as fotos dos seis que votaram favoravelmente a flexibilização do agrotóxico sob o título “Bancada do Câncer do DF”, já circulam pelos grupos de redes sociais. Em seu perfil no Instagram, o diretório regional do PT traz um card com a imagem dos seis deputados que votaram em favor da flexibilização do agrotóxico. Cartazes também foram afixados pelas ruas de Brasília.
A coluna procurou os oitos deputados de Brasília. Laerte Bessa respondeu com a abreviação de um palavrão: “pqp”. Bia Kicis limitou-se a enviar uma nota de autoria do governo federal, na qual é dito que “os pesticidas são os remédios das plantas para combater pragas e doenças” e que “a proposta vai melhorar o cenário ambiental e da Saúde Pública”. Paula Belmonte disse que apoiou o projeto de Reguffe por ele ter “um grande alcance social”. Já em relação a flexibilizar o uso dos agrotóxicos, segundo a assessoria dela, o voto teve por razão o entendimento da parlamentar que “é necessário uma legislação que atenda às necessidades atuais do setor (agropecuário) e que priorize a segurança e desenvolvimento do país”. Celina Leão, Luís Miranda e Júlio César não responderam.
Analisando o comportamento dos colegas de bancada, Professor Israel avalia que a maioria da bancada do DF votou errado e que a nova lei vai expor a população a um risco desconhecido para causas de câncer. Disse ainda que a nova lei vai punir os órgãos federais responsáveis pela análise dos agrotóxicos e, consequentemente, da proteção dos brasileiros. “Nesse governo, há um desmonte aos órgãos de controle, um ataque à Anvisa ao Ibama. A bancada do DF precisa colocar a mão na consciência e evitar essa exposição desnecessária da população a esse risco de doenças graves. Ela precisa dar explicações aos brasilienses, pois representou muito mal o DF”. Em seu twitter, Erika Kokai afirmou que “ao invés de votar medidas para combater a fome que assombra o povo brasileiro, a base de Bolsonaro quer mais veneno na mesa, no solo, nas águas e no ar”.
A bancada do câncer? É um câncer.
CurtirCurtir