A situação da Covid 19 infantil é grave em Brasília. Até o dia 18 de fevereiro, o Distrito Federal havia registrado 6.074 casos de Covid 19 em crianças entre 5 e 11 anos. Em todo o ano de 2020, graças às medidas de barreira sanitárias, foram registrados 5.380 casos. Em 2021, foram 7.245. Portanto, tudo indica que 2022 será um ano em que a contaminação da Covid afetará muito mais crianças.

Por Chico Sant’Anna

Vergonhosa e irresponsável a campanha apócrifa que vem sendo veiculada em alguns ônibus da empresa Central Expresso, que circula na ligação do Distrito Federal a Luizânia, em Goiás. Nos vidros traseiros dos ônibus, tampando toda a janela, uma peça traz o rosto de três crianças, com a mensagem “Chega de Máscaras – Nas escolas ou em qualquer lugar”. Nenhuma autoridade de Saúde, seja ela Federal ou do Distrito Federal, ou mesmo órgão governamental assina a propaganda. A mensagem contraria decisão já tomadas pelo Poder Judiciário, que inclusive está a processar até mesmo parlamentares por contrariarem as medidas sanitárias que podem contribuir para o fim da Pandemia da Covid.

A situação da Covid 19 infantil é grave em Brasília. Até o dia 18 de fevereiro, o Distrito Federal havia registrado 6.074 casos de Covid 19 em crianças entre 5 e 11 anos. Em todo o ano de 2020, graças às medidas de barreira sanitárias, foram registrados 5.380 casos. Em 2021, foram 7.245. Portanto, tudo indica que 2022 será um ano em que a contaminação da Covid afetará muito mais crianças.

Com Pós-Doutorado no Canadá em Saúde Pública, a professora da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília, Fátima Sousa, diz que a campanha presta um desserviço contra a saúde, em especial das crianças de Brasília.

Desserviço contra a saúde pública

Para a professora da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília, Fátima Sousa, o financiador desse anúncio presta um desserviço contra a saúde pública, ao estimular o descumprimento dos protocolos internacionais para enfrentamento da pandemia. “Um atentado a saúde da população! Nem coragem de assinar a publicidade teve, mas deve responder por esse crime. A pandemia não acabou” disse ela em seu perfil no Instagram.

O anúncio, que contraria todas as orientações técnico sanitárias, leva uma espécie de assinatura: #paispelaliberdadedf. Ao pesquisar essa hashtag, chega-se ,na plataforma Twitter, aos perfis de pessoas que se auto apresentam como “católicas, conservadoras, bolsonaristas e defensoras das armas”. O grupo é pequeno, na maioria mulheres que se dizem mães, mas, devem ter poder aquisitivo elevado para bancar essa campanha ou ter canais diferenciados com a empresa de ônibus. No twitter, compartilham vídeos de supostos cirurgiões norte-americanos que seriam contra o uso da máscara, não se dando conta que talvez epidemiologistas, sanitaristas ou pneumologistas fossem profissionais mais adequados do que cirurgiões para falar sobre prevenção de doenças, que contaminam o ser humano pelas vias respiratórias.

Em alguns perfis, há conexão com outro no Instagram, esse defendendo a não obrigação de vacinação infantil contra Covid-19 e o direito à educação residencial, o homeschooling, “livre, sem regulamentação ou perseguição”. O grupo tem se movimentado e apresenta fotos com parlamentares como o líder do governo na Câmara Legislativa, distrital sargento Hermeto (MDB).

O twitter, ainda não se deu conta para a desinformação veiculada sobre a Covid por essas pessoas. As normas da plataforma impedem a propagação desse tipo de conteúdo. Essas mulheres alegam que a máscara traz prejuízos de socialização paras as crianças e adolescentes, que aumenta a depressão, a quantidade de CO2 no sangue e provoca alergia, dentre outros males por elas citados. Nada disso é comprovado cientificamente.

A campanha nos ônibus vem despertando reações nas redes sociais, inclusive de importantes atores sociais, como o âncora do programa CBN Brasília, Brunno Melo, que em seu twitter questiona: “será que a secretaria de Mobilidade do DF – responsável por gerir o sistema de linhas pro Entorno – concorda com esse tipo de mensagem? Quem paga por essa propaganda”.

A Central Expresso Transportes, com sede em Luziania, existe desde 2011 e, em seu perfil na Internet, se diz habilitada a fazer transporte escolar e transporte de passageiros municipal e intermunicipal; deveria possuir uma gama de critérios mais eficazes para autorizar a veiculação de propaganda junto com sua marca. E o GDF, que recentemente herdou da ANTT a responsabilidade de gerir as linhas do Entorno, necessita urgentemente criar normas que regulem que tipo de propaganda pode ser veiculada no interior e nas laterais dos ônibus.
Nenhum órgão do GDF, nem a secretaria de Mobilidade, nem a de Saúde se posicionou até o momento.