
A nova Saída Norte tem números gigantescos: 16,5 km de via, 23 obras de arte (viadutos, pontes, túneis), trincheiras. Só o concreto a ser utilizado, 172.000 m³, daria pra construir dois novos estádios do Maracanã. Essa solução de mobilidade urbana está desconectada com a realidade por que passa Brasília e o Brasil. O incentivo ao uso de veículos individuais não é mais a palavra de ordem. O complexo é proposto num momento em que o mundo inteiro busca mudar a matriz energética, deixando o petróleo de lado, e aposta em novas fontes de energia e de transporte.
Por Chico Sant’Anna
Já no apagar das luzes, o governo Ibaneis resolve tirar do fundo da gaveta o projeto de uma nova Saída Norte, uma espécie de autoestrada que sairá da Avenida das Nações Norte, atravessará o Lago Norte e chegará à BR-20, na altura de Sobradinho. O custo dessa empreitada deve ficar na casa dos R$ 4 bilhões, ou quem sabe até mais. O projeto é antigo, tem mais de uma década, conta até com duas pontes projetadas por Oscar Niemeyer, falecido em 2012. Ele foi gestado nas administrações de José Roberto Arruda (PL) e Agnelo Queiroz (PT) e chega num momento em que as propostas viárias deveriam apontar novos rumos, para não ficarem ultrapassadas rapidamente.
Pela posição geográfica, esse novo corredor deveria ser chamado de Saída Nordeste ou mesmo Leste. Mas o GDF rotulou de Nova Saída Norte. Independentemente do nome, trata-se de uma solução de mobilidade urbana desconectada com a realidade por que passa Brasília e o Brasil. O incentivo ao uso de veículos individuais não é mais a palavra de ordem. O complexo da Nova Saída Norte é proposto num momento em que o mundo inteiro busca mudar a matriz energética, deixando o petróleo de lado, e aposta em novas fontes de energia e de transporte. Mais do que nunca, investir no transporte coletivo e movido a energia elétrica é uma necessidade. Além da crise do petróleo, temos a questão do aquecimento solar, das mudanças climáticas.

Rodoviarismo
No ano passado, segundo pesquisa TomTom Traffic Index, que mede engarrafamentos em 48 países, o tempo extra perdido no DF dentro dos carros, graças aos engarrafamentos e mesmo com a Pandemia da Covid, já equivalia a cinco dias/ano. Um dia a mais do que em 2017. Os engarrafamentos já se formam mais cedo, às 16h, e se prolongam por mais tempo, passando das 20h. Isso, mesmo em vias que foram recentemente ampliadas, como é o caso da Epia Sul que, a partir de 2014, passou a contar com três faixas de cada lado, além da via exclusiva do BRT. Oito anos depois de inaugurada, ela se mostra insuficiente para desafogar os milhares de carros que transitam rumo, ou provenientes, do Entono Sul, Gama, Santa Maria e Park Way. E o BRT-Sul não foi capaz de retirar os carros das vias.

Em Brasília, as obras viárias costumam ser grandiosas (diria megalomaníacas). Um exemplo é o Complexo da Saída Norte atual, que incluiu a remodelação da Ponte do Bragueto, revitalização de 10 quilômetros de vias, construção de duas pontes, 13 viadutos, seis quilômetros de ciclovias e 17 quilômetros de novas vias e faixa exclusiva, para fazer chegar até Planaltina o BRT-Norte. Ao custo, em 2018, de R$ 1 bilhão, a meta era desafogar um fluxo de mais de cem mil carros/dia. Pelo visto, também não resolverá os problemas, haja visto que o GDF já lança nova Saída Norte.
A nova Saída Norte tem números gigantescos: 16,5 km de via, 23 obras de arte (viadutos, pontes, túneis e mergulhões). Só o concreto a ser utilizado, 172.000 m³, daria pra construir dois novos estádios do Maracanã.

Ampliações e alargamento de pistas, construção de pontes e viadutos não vão resolver o problema. Uma mesma leitura vale para a proposta da Interbairros, ou Intercidades, que ligaria Samambaia ao Setor Policial Sul, cortando ao meio o Parque do Guará. O GDF acaba de entregar a nova Estrada Parque Aeroporto, que virou uma autopista, com seis faixas de cada lado. Mas que, ao chegar na EPDB, rumo ao Park Way, já enfrenta engarrafamento. Mais carros virão. Sempre. Brasília possui uma frota beirando dois milhões de veículos, dos quais 71% são individuais – carros e motos. Em contrapartida, as frotas de ônibus e de trens do metrô, além de defasadas tecnologicamente, estão muito aquém das necessidades de uma cidade de mais de três milhões de habitantes, sem contar os habitantes do Entorno, que beiram a casa de dois milhões.

Todos esses projetos tem em comum jogar uma sobrecarga nas vias circulares do Plano Piloto, em especial a Avenida das Nações (L.4) Norte e Sul, a EPIG – que já se vê obrigada a ganhar novos viadutos – na S.4 (em frente ao Cemitério) e a própria Epia. O trânsito ficará ainda mais entalado, fazendo a cidade parar.
Ressalte-se, que embutidos nessas novas saídas, estão projetos de expansão urbana de Brasília, como o loteamento da Serrinha do Paranoá e a criação de um corredor imobiliário entre Águas Claras e o Plano Piloto, que seriam a paga para quem tocasse as obras. Todas essas novas moradias gerariam ainda mais trânsito.
Trilhos
Um projeto para o futuro, que tenha longevidade maior do que oito anos – como é o caso da Epia-Sul – deve considerar uma fórmula de transporte coletivo e ambientalmente correto. Tanto os trajetos da Interbairros, quanto o da nova Saída Norte, podem ser cobertos com transporte sobre trilhos – metrô ou VLT. Inclusive, os danos ambientais na Serrinha do Paranoá – onde já foram cadastradas mais de cem nascentes -, seriam bem menores. O ministério do Meio-Ambiente revelou esse ano que o trânsito de Brasília responde por 53,4% da emissão de Gases de Efeito Estufa. Pelo levantamento, apenas em 2016, foram lançadas no DF 7,23 mil toneladas de Dióxido de carbono (CO2), de metano (CH4), foram 1,5 mil toneladas e 354 toneladas de óxido nitroso (N2O). Embora sem fábricas, a atmosfera de Brasília degrada a cada ano. E não se vê ações do GDF pra inverter isso.
No governo de Agnelo Queiroz, o GDF elaborou um vídeo para apresentar o projeto da Nova Saída Norte
No governo de Agnelo Queiroz, o GDF produziu o vídeo abaixo para apresentar a Nova Saída Norte
Tem que pensar em alternativas modernas:
1. Túneis pré moldados de concreto armado são mais baratos, e se encaixam perfeitamente sob o Lago Paranoá, como estão sendo construídos na Baixada Santista e Joinville -S. Catarina. E protegem o meio- ambiente.
2. Tecnologias ferroviárias subterrâneas já estão em evidência em vários países, que o Brasil e Brasília tem que importar. – Continuamos a depender de empreiteiras ultrapassavas, que sugam nossos impostos super- faturando obras .
CurtirCurtido por 1 pessoa
E é importante avaliar se o transporte sobre trilhos pelo itinerário da EPIA ou mesmo pela rota da Saida Norte tradicional já não atenderia a demanda.
CurtirCurtir
Verdade. Menor custo, mais sustentável.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Bem mais urgente e pertinente com o conceito de transporte urbano será investir no metrô, ampliando as linhas para um percurso perimetral, contemplando as cidades administrativas, prestigiando a grande massa q utiliza o transporte coletivo. Moralizar e fazer eficiente as empresas de ônibus urbanos, prestadoras de pésso serviço , porém muito bem socorrida pelos recursos públicos.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Atraso é como é hoje para os que residem a partir da QI/QL 8 e 7 do Lago Norte.
Ter que ir ao final do eixo norte para depois andar distâncias de 5 a 9 km para chegar em casa.
Esse projeto é de 2010.
Já passa da hora de ser implementado.
Até para que surja o Taquari II e facilite a vida dos moradores do Taquari I, valorizando um bairro novo, com pouco mais de 12 anos e já com aparência de velho e degradado como o Lago Norte.
Tem mais é que promover mudanças, tipo ceder a área do Parque das Garças para exploração, mediante concessão, para a iniciativa privada explorar, padrão Pontão do Lago Sul.
CurtirCurtir
A especulação imobiliária não tem freios no DF.
Se a população não se mobilizar teremos uma nova Águas Claras surgindo na Serrinha do Paranoá e claro o fim da já pouca tranquilidade da Península do Lago Norte.
Cadê o monitoramento por GPS do transporte coletivo com informações ao cidadão por aplicativo como ocorre nas principais metrópoles do mundo? Quando o Governador, seus Secretários, Deputados Distritais e Ministério Público tentarão conseguir transporte coletivo nas imediações do plano piloto (Sobradinho, Guará, SAAN, SOFN, etc.) fora do horário de pico com esperas de mais de 1 hora e com motoristas que se afastam da pista longe do ponto de ônibus para não pararem e/ou ônibus da mesma linha passando em duplas deixando passageiros esperando?
Melhorar o transporte público deve ser prioridade número um, principalmente quando o mundo inicia o abandono dos veículos a combustão e os carros elétricos perderão muito do seu valor de revenda deixando de ser a mobilidade prioritária dos cidadãos.
Com transporte coletivo de qualidade e confortável reduziremos muito a utilização de veículos individuais.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Esta obra é um despropósito…sem sentido nos dias atuais e fica mais difícil e oneroso reverter este modelo que só vai causar mais problemas na mobilidade da cidade… é mais um grande desvio do rumo que deveria ser tomado!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Grande Chico Santana. Sempre com seu olhar crítico sobre os projetos megalomaníacos dos nossos homens públicos. A cidade está sendo pensada por cabeças velhas, o rodoviárismo é coisa do século passado, hoje não cabe mais esses projetos ultrapassados do ponto de vista urbano, é preciso diminuir o número de carros, acelerar com a ideia do transporte coletivo, criar uma cultura que vai incentivar a necessidade de eliminar o transporte individual. O problema é que esse povo cresce o olho nas licitações, esse modelo ultrapassado deteriorado só destrói o meio ambiente, mas é farto quando se trata de capital, o ganho é maior, a gestão parte da individualidade do próprio gestor, o compromisso é umbilical. Esse modelo velho é vivo do que nunca, é uma pena.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Projeto caríssimo e atrasadíssimo. Mais do mesmo: pistas, viadutos e pontes para incentivar ainda mais o transporte automotivo. É lamentável a insistência do GDF – dos seguidos governantes – em seguir o modelo atrasado, caro e poluente.
Enquanto as cidades modernas pelo mundo investem em transporte coletivo de qualidade para que todos usem, aqui a prioridade é sempre o rei automóvel. A Saída Norte (complexo viário) está aí para comprovar: dezenas de pistas e viadutos recém-inaugurados. E ‘esqueceram’ dos prometidos BRT Norte e terminal da Asa Norte.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Eu e a maioria dos moradores da península do Lago Norte, somos totalmente contra a ponte que vai atravessar o lago Norte, porque vai trazer todo o fluxo do Itapoa e Paranoa para o lago Norte. Essa obra no ano de eleições???
CurtirCurtir
Abaixo-assinado CONTRA a construção da Nova Saída Norte e seu complexo rodoviário formado por 16 km de pistas e 23 viadutos, invadindo o Lago Norte e o SMLN com suas duas pontes sobre o Lago Paranoá que não vão resolver o trânsito!
https://chng.it/J8q4byNjSX
CurtirCurtir
https://chng.it/gWGV5Df69z
Abaixo-assinado CONTRA a construção da Nova Saída Norte e seu complexo rodoviário formado por 16 km de pistas e 23 viadutos, invadindo o Lago Norte e o SMLN com suas duas pontes sobre o Lago Paranoá que não vão resolver o trânsito!
CurtirCurtir
Nossa, que reportagem contraditória, mal feita e tendenciosa.
Eu nem sou a favor da ponte, mas lendo os argumentos tendenciosos, acabei a leitura ficando a favor.
Anotado aqui pra não consultar mais desta fonte/autor.
CurtirCurtir
Vejo duas coisas aqui….realmente temos de investir em meios de transporte coletivo, ok, portanto, essa ponte não deveria ser feita.
Por outro lado, vejo também a histeria elitista dos moradores abonados do park way, do lago norte, etc que não se sentem bem em ver pessoas da periferia cruzar seus quintais, tirar seu sossego. Vemos a preocupação ambiental e com a mobilidade muitas vezes por conveniência.
Vejo muitos já em suas casas próprias confortáveis em Brasília contra a criação de qualquer bairro em Brasília, seja para pobres ou classe média, sobre o pretexto da conservação do meio ambiente da manutenção da qualidade de vida em Brasília.
Vimos recentemente no sudoeste a militância ambiental de acordo com a conveniência com a criação das novas quadras. Ou seja qdo adquiri meu apt no sudoeste tava tudo certo, mas hj para manter a MINHA qualidade de vida não vamos construir mais no sudoeste. Vejo pouca seriedade nesses debates e cada um olhando para o seu umbigo.
CurtirCurtir