
Condenação de Izalci e anulação de processos contra Arruda tumultuam o campeonato
Por Chico Sant’Anna
A eleição em Brasília neste ano poderá ter surpresas de última hora. Tudo por repercussões do chamado “tapetão”, que no jargão futebolês significa decisões tomadas fora das quatro linhas do campo.
As recentes decisões do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que ampliou para quatro anos e oito meses de prisão a condenação atribuída ao senador Izalci Lucas (PSDB); e a do ministro do STF, André Mendonça, que anulou duas condenações ao ex-governador cassado José Roberto Arruda e remeteu os processos para novo julgamento pela Justiça Eleitoral, têm tudo para tumultuar o campeonato.
Essas decisões podem alterar profundamente a escalação dos times nas eleições de 2 de outubro. Apesar de Izalci entender que não estará inelegível até que o processo contra ele se conclua – transite em julgado –, o entendimento de juristas é outro.
Cartão vermelho
Como salienta o advogado André Maimoni, especialista em direito eleitoral, somente um efeito suspensivo, estabelecido pelo Superior Tribunal de Justiça, manterá Izalci no jogo. Do contrário, é cartão vermelho, desde já.
Com Izalci fora de campo, quem ganha a vaga é a deputada Paula Belmonte (Cidadania). PSDB e Cidadania formaram uma federação para atuar juntos, em tabelinha, mas como aqueles jogadores fominha de bola, cada um quer pegar caminho diferente. Belmonte não passa bola pra Izalci. Prefere lançar Reguffe (UniãoBr) no ataque, tendo ela como senadora ou vice.
Essa estratégia só funciona sem a presença de Izalci, que diz estar prestigiado pelos cartolas da direção nacional do PSDB. Belmonte joga para matar a jogada antes mesmo que ela se inicie.
Sombra
Por conta dessa eventual desclassificação prematura, no time de Izalci muita gente levanta suspeição quanto ao momento da decisão da 3ª Turma Criminal do TJDFT – que reformou decisão da 1ª instância, que entendeu estarem prescritos os crimes atribuídos pelo Ministério Público ao senador, quando respondeu pela secretaria de Ciência e Tecnologia do governo Arruda.
Acreditam ter ocorrido uma mãozinha externa, uma sombra, estimulando a agilidade da sentença, pouco antes do apito inicial da campanha eleitoral. Indagado sobre quem seria essa sombra, o coordenador de campanha do tucano, Paulo Fona, foi irônico: “Com certeza não é da Keka Bagno”, referindo-se à pré-candidata do Psol ao GDF.
Replay no VAR
Outra possível mudança no campeonato eleitoral é a potencial escalação do veterano José Roberto Arruda (PL). Em 2014, ele tentou voltar ao jogo após ter sido cassado no escândalo da Caixa de Pandora – foi filmado recebendo envelopes com dinheiro, que alegou ser para compra de panetones para os menos favorecidos. Mas o VAR está revendo o lance.
À época, em resposta a uma ação do Psol, o TSE o considerou inelegível e o retirou do certame quando era o líder. A decisão monocrática do ministro André Mendonça – recém-escalado por Jair Bolsonaro – pode lhe recolocar no jogo oito anos depois.
O cenário jurídico não está claro. As sentenças condenatórias foram anuladas e dois processos terão que ser reanalisados. O que não se tem certeza é se, ao anular as sentenças, Mendonça terá restabelecido automaticamente a elegibilidade de Arruda. E se a galera – o eleitorado – está disposta a perdoá-lo pela sequência de faltas gravíssimas que cometeu.
Rebaixamento
Há quem diga que o ex-governador cassado vai entrar em campo, como o fez em 2014, e deixar que o “tapetão” decida, já com o jogo em andamento, se ele pode ou não ser candidato. Sua entrada na disputa pode desestabilizar a reeleição de Ibaneis Rocha (MDB), ao GDF.
Arruda desidrataria Ibaneis e, sendo do mesmo partido a que se filiou Bolsonaro, poderia tornar-se no candidato oficial do bolsonarismo candango. Bolsonaro, comentam alguns, se sentiria mais tranquilo assim, já que Ibaneis terá que montar torcida para Simone Tebet (MDB), na corrida ao Planalto.
Na hipótese de Arruda entrar no jogo, as chances de Ibaneis seriam bem menores e há até quem considere que ele optaria por disputar a série B: uma vaga ao Senado ou até mesmo para deputado federal.
Certo mesmo é que o jogo é jogado, a bola ainda não começou a rolar oficialmente, tudo ainda é aquecimento, e o campeonato só termina dia 2 de outubro. Pode, inclusive, no caso do GDF, haver prorrogação para o dia 30 do mesmo mês, caso ninguém obtenha a maioria dos votos no primeiro turno.