
Atenção: em reunião do União Brasil, que aconteceu no final da tarde de 4/8, em reação às notícias de que apoiaria Ibaneis Rocha (MDB) e do vídeo - abaixo - de Reguffe, afirmando ter sido traído pelo UB, além da forte pressão de pré-candidatos a distrital e federal do UB-DF, que ameaçavam não mais concorrer, o partido reformulou sua postura e decidiu lançar Reguffe ao GDF, que não estava presente nessa reunião. Mesmo diante dos fatos novos, julgamos ser pertinente a análise abaixo. Veja ainda, ao final do texto, o vídeo com a conclusão da reunião do União Brasil.
Atualização: O diretório regional do União Brasil desistiu de vez da candidatura do senador José Antônio Reguffe ao GDF. A decisão foi tomada na manhã dessa sexta=feira, 5/8, diante da postura de Reguffe na covenção realizada, na véspera, à noite. Na ocasião, ele havia dito que precisava reconfirmar os compromissos de autonomia do senador no desenrolar de uma eventual candidatura. O partido entendeu que essa condicionante era um novo recuo de Reguffe para confirmar a candidatura. O presidente regional da sigla, Manoel Arruda, afirmou que o senador “não tem mais comprometimento” com a campanha e que o partido irá apoiar Ibaneis Rocha (MDB).
Reguffe terá agora quatro anos para reconstruir sua trajetória – isso se não tiver se aposentado de vez. Precisa para isso amadurecer politicamente, se despir de preconceitos. Escolher um lado e construir a sustentabilidade de um projeto.
Por Chico Sant’Anna
O senador Reguffe (União Brasil) poderia ter sido o grande divisor de águas nas eleições de 2018. Na metade de seu mandato no Senado Federal, Reguffe despontava em todas as pesquisas eleitorais como o candidato com maior popularidade. Tinha a capacidade de liderar uma frente de centro-esquerda. Do alto de seus 826.576 votos, em 2014, ele se escondeu nas eleições de 2018. Não se candidatou, nem apoiou ninguém. Errou! Agora, sua candidatura esteve sob risco de não acontecer em decorrência de uma manobra de Ibaneis Rocha (MDB) e Jair Bolsonaro. Tudo indicava, até pelas pavras do próprio Reguffe, que nesse ano de 2022 ele também estaria fora do pleito. Situação fruto de outro erro dele e de uma rasteira do seu partido, União Brasil.
A justificativa oficial, em 2018, foi de que havia prometido concluir o mandato senatorial até o fim. Nos bastidores, analistas tinham outra leitura: medo de disputar uma eleição mais complexa e medo maior ainda de se eleger e não corresponder ao cargo. Para as eleições de 2022, as expectativas eram que ele finalmente se colocaria na disputa. Hesitou, hesitou…, se filiou ao Podemos, depois mudou pro União Brasil e, agora, se vê como vítima do que seria uma armadilha.

A imprensa noticiou que o União Brasil no Distrito Federal decidiu apoiar Jair Bolsonaro, para as eleições presidenciais, e Ibaneis Rocha, no DF. Era mais do que esperado, já que o presidente regional do UB, Marcelo Arruda, é um apadrinhado do ministro da Justiça, Anderson Torres, ex-secretário de Segurança da gestão Ibaneis no GDF. Só mesmo em um conto de fadas, o União Brasil faria escolha política diferente dessa que vem a público. (Teve, contudo, que se render a pressão de candidatos a outras vagas que ameaçavam desisistir do pleito desse ano).
Em vídeo, Reguffe disse que o União Brasil não cumpriu com o que prometera e lhe retirou a legenda pra ser candidato ao GDF e se alinhar ao principal opositor: Ibaneis Rocha (MDB).
Assista aqui ao vídeo em que Reguffe se diz traído pelo União Brasil
Reguffe era – e ainda é – um estranho no ninho no União Brasil, assim como o fora no Podemos. Desde de que deixou o PDT, em 2016, Reguffe procurava um partido pra chamar de seu, onde poderia ter o controle, a última palavra. Santa ingenuidade. Reguffe queria cair de paraquedas num partido e, como costuma dizer Romário, seu colega de Senado; sentar logo na janelinha. Reguffe nunca buscou, pelos partidos em que andou, construir uma sustentação orgânica própria, ter apoiadores filiados à agremiação que pudessem lhe dar sustentação. O sonho de consumo de Reguffe é que a lei eleitoral viesse a permitir candidaturas avulsas, desvinculadas de partidos.

Ninho de víboras
Além de nunca ter construído uma sustentação partidária própria, Reguffe buscou nos últimos anos se aproximar e até se filiar a partidos que são verdadeiros ninhos de víboras. Dirigidos por políticos – quase todos do Centrão – pragmáticos que sempre buscam seguir a Lei de Gerson: tem que levar vantagem. É curioso que são agremiações que praticam exatamente aquilo que Reguffe busca repelir em seus mandatos, qual seja, a improbidade política.
Foi assim no Podemos. Reguffe que ficou anos sem partido, imaginava ter entrado num partido que não teria candidato a presidente. A estrutura local no DF era insipida. Assim, poderia atrair votos da esquerda e de bolsonaristas. Logo foi surpreendido com a chegada de Sérgio Moro. Com o ex-juiz na condição de presidenciável, Reguffe não atrairia mais os votos bolsonaristas e nem dos simpatizantes de Lula.
Se apressou e foi para o União Brasil – União Brasil, lembremos, que é a fusão dos Democratas com o PSL, duas legendas que tem na fisiologia suas marcas registradas. À altura, o UB cogitava lançar o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a presidente. Um nome que não lhe atrapalharia. Mas, novamente, foi surpreendido com a chegada de Moro ao UB. Já não havia mais tempo para mudar de partido. Reguffe se alegrou quando o partido também deu uma rasteira em Moro e lhe tirou a legenda presidencial. Só não esperava que esse rabo-de-arraia, sobrasse para ele, também.
DNA
Nos tempos da ditadura militar, existiam apenas dois partidos: a Arena e o MDB. A Arena era um partido de extrema direita, que dava sustentação aos militares. De lá pra cá, diversos foram os filhotes que dela nasceram. Uma investigação no DNA do Podemos, do União Brasil, do PP, PL e tantos outros do Centrão, vai encontrar o gene reacionário da Arena.
Reguffe embarcou nessa jornada como a fábula da rã e do escorpião. Impossibilitado de atravessar o riacho, o escorpião pede uma carona à rã e promete não picá-la. Ingenua, a rã coloca o escorpião no dorso e ao chegar à outra margem do rio, percebe o ferrão da picada. O escorpião não poderia fugir a sua natureza de ser. Assim são os políticos do Centrão. Não conseguem fugir a essência da forma de ser. Ingênuo é quem ainda acredita neles.
Embora não seja um político de esquerda, os votos de Reguffe quando deputado federal e, agora, senador, na maioria das vezes foi na mesma linha da esquerda. O perfil de seus votos indica uma identidade maior com o campo progressista do que com a direita. Votou contra, por exemplo, à MP da Grilagem, que facilitava a ocupação irregular de terras na Amazônia, inclusive em reservas ambientais. Reguffe é o autor da lei, vetada pelo presidente Bolsonaro, que assegurava aos doentes portadores de plano de saúde, a cobertura do tratamento quimioterápico domiciliar. Também foi de sua lavra a extensão do desconto no imposto de renda da contribuição patronal da previdência de empregados domésticos.

Viúvas sem herança
O máximo que Reguffe conseguiu chegar à esquerda foi no PDT, onde se elegeu senador em 2014. Em 2018, foi instado até pelo Psol a liderar uma frente progressista para disputar o GDF. Recusou. Agora, se diz traído por aqueles que notoriamente tem em seus currículos a arte da traição. Santa ingenuidade, reforçamos.
Com a desistência da candidatura dele – a palavra final e oficial acontece na convenção acontece dia 6/8 -, ficariam para traz várias viúvas sem herança, que apostavam pegar carona em sua popularidade. Dentre elas, a distrital Julia Lucy que, inclusive, almejava ser candidata a vice; Paulo Roque (Novo), focado na vaga ao Senado, e Paula Belmonte (Cidadania), dentre outros.
Se não sair candidato, Reguffe terá quatro anos para reconstruir sua trajetória – isso se não tiver se aposentado de vez. Precisa, para isso, amadurecer politicamente, se despir de preconceitos. Escolher um lado e construir a sustentabilidade de um projeto. Caso desista da candidatura deverá tomar uma posição clara na atual eleição: pode ser a sua colega de Senado, Leila do Vôlei (PDT); Rafael Parente (PSB), Izalci Lucas (PSDB) e até mesmo, Leandro Grass (PV). Se não vier a ser candidato em 2022, poderá inclusive mudar de partido, de imediato.
Veja aqui o anúncio feito pelo União Brasil-DF após reunião com integrantes do partido
Lúcida análise. Reguffe mostra que ná política há espaço para “quem se movimenta MAL” e também para quem NÃO se movimenta. O problema é onde essa “rã” envenenada por suas decisões vai parar. Lamentável ver a população BOTAR FÉ em tanta falta de protagonismo.
CurtirCurtir
Que população ta botando fé, a população coloca fé é em bandido, e isso ta mais do que claro, tanto o DF quanto o resto do país ama um bandido de estimação isso sim. Aposto que você tem os seus né. Um povo que vota em Ibaneis, Paulo Octavio, Arruda, Lula e Bolsonaro, merece padecer no inferno.
CurtirCurtir