
O que tem se visto nessa campanha, pela maioria dos candidatos, é a prática do chutômetro. Nenhum deles se apresenta com um estudo musculoso, com soluções permanentes. Pelo andar do trânsito, o brasiliense verá no próximo governo apenas mais viadutos em suas cidades e suas bucólicas Estradas Parques virarão autoestradas, como a EPTG e a do Aeroporto, com seis faixas de rolamento. A interbairros, que passará na porta de entrada dos apartamentos do Park Sul, é outra ameaça. Tecnologias limpas, transporte elétrico…, esquece, nem foram tratadas pelos candidatos. A máxima que o brasiliense é dotado de cabeça, tronco e rodas tende a durar mais um mandato.
Por Chico Sant’Anna
Nas eleições de 2018, quando sucedeu José Roberto Arruda, após impugnação pela Lei da Ficha Suja, Joffran Frejat (PL) lançou a proposta de ônibus a R$ 1,00. Quase conseguiu vencer Rodrigo Rollemberg (PSB). Agora, quem se vale de um estratagema parecido é Paulo Octávio (PSD). Ele capturou a bandeira de organizações de esquerda e promete implantar a Tarifa Zero. Seria a primeira capital no Brasil a fazê-lo, disse ele no debate da TV Globo. O custo? R$ 2,5 bilhões ao ano. Um pouco mais do que o dobro do que o GDF já paga as empresas de ônibus.
Com ou sem Tarifa Zero, o tema mobilidade urbana atravessou à eleição e tende a engarrafar mais uma vez o Distrito Federal. Há décadas, não vemos uma solução eficaz para o transporte de passageiros em Brasília. Como disse Leila do Vôlei (PDT), no mesmo debate, antes de se falar em tarifa zero, tem que focar a melhoria e a ampliação do transporte. Na proposta dela, tudo passa pela implantação do VLT do Aeroporto a Asa Norte, indo pela W.3 e retornando pela L.2; do monotrilho para Sobradinho e Planaltina e da ampliação do metrô, com a esperada conclusão da linha básica até o Setor O, da Ceilândia, Expansão de Samambaia e Asa Norte. Propostas interessantes, mas que além de dinheiro, dependem de vontade política e disposição de enfrentar os cartéis dos ônibus a das concessionárias de automóvel.
Ibaneis Rocha (MDB) não tocou no tema do VLT, nem mesmo na polêmica quarta ponte sobre o Lago. Além de mais viadutos, só promete implantar o BRT para a saída Norte do DF e ampliar o metrô até o Setor O da Ceilândia, Expansão de Samambaia. Esse trecho, inclusive, a exemplo do VLT, contava com recursos federais, desde 2009. O próprio Arruda, de quem Paulo Octávio foi vice governador, desperdiçou a oportunidade de implantar esse modal. Não vale a desculpa de que foi cassado, pois a verba havia sido disponibilizada no início de seu governo e, quando saiu, faltava pouco tempo pra terminar seu mandato. Todos os demais governadores que lhe sucederam pecaram em não concluir esses trechos.
Ibaneis insiste no BRT. Pensado no governo Arruda, que reformou a EPTG, mas não comprou os ônibus, e implantado na saída Sul, por Agnelo, o sistema pode até ter organizado melhor o trânsito, com as vias exclusivas, mas nem de longe resolveu o problema de mobilidade. A melhor prova são os engarrafamentos na Epia-Sul, que começam as cinco da manhã e, na volta, às quatro da tarde. Se os governantes não se conscientizarem de que ônibus, mesmo os articulados, não resolvem o problema e que só mesmo um transporte massivo sobre trilhos irá desafogar a Capital Federal, teremos mais um mandato de engarrafamentos.
Armadilha
O atual governo pensa em entregar à iniciativa privada a gestão do metrô e a implantação e gestão do VLT. O edital do metrô, sob análise do Tribunal de Contas do DF, além dos indícios de superfaturamento já constatados pelos técnicos, não prevê que a empresa vencedora construa um centímetro sequer de novas linhas. É apenas a terceirização da gestão a um custo estimado, em setembro de 2019, de R$ 13 bilhões, ao longo de 30 anos.
O mais grave na privatização do metrô e do VLT é que, até agora, despontam como as potenciais futuras gestoras duas empresas que já controlam grande parte do transporte de passageiros. São elas Pioneira e Piracicabana, do Grupo Comporte – holding dos negócios do Clã Nenê Constantino. Se tiverem êxito e mantidos os contratos que Pioneira e Piracicabana já possuem no DF, o grupo será responsável em Brasília por transportar cerca de 600 a 700 mil passageiros/dia, em diferentes modais.
Chutômetro
O que tem se visto nessa campanha, pela maioria dos candidatos, é a prática do chutômetro. Nenhum deles se apresenta com um estudo musculoso, com soluções permanentes. Ibaneis aposta no BRT, pois sabe, como também sabia Agnelo, que até o final de seu governo os sistema poderá estar chegando a Planaltina e Sobradinho. Para o Entorno, Sul ou Norte, nem pensar. A solução mais barata, já testada no Ceará, que é implantar o Trem Regional desde Luziânia até o Plano Piloto, sobre a antiga linha da RFFSA, de tão prometida e descartada no passado nem mais é mencionada.
Pelo andar do trânsito, o brasiliense verá no próximo governo apenas mais viadutos em suas cidades e suas bucólicas Estradas Parques virarão autoestradas, como a EPTG e a do Aeroporto, com seis faixas de rolamento. A interbairros, que passará na porta de entrada dos apartamentos do Park Sul, é outra ameaça. Moradores do Sudoeste já anteveem o fluxo interminável de carros pela EPIG e por dentro do parque da cidade, que deveria ser um pulmão. Tecnologias limpas, transporte elétrico…, esquece, nem foram tratadas pelos candidatos. A máxima que o brasiliense é dotado de cabeça, tronco e rodas tende a durar mais um mandato.
Chico:
É por essas obras que o governador passou a ser apelidado de Inganeis Viadutos da Rocha, infelizmente, com possibilidade de ser eleito.
Sempre fui contrário à reeleição e o FHC que a instituiu arrependeu-se, mas agora Inez é morta.
Abraço
Aldo
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Várias já são as cidades pelo mundo que adotaram o transporte público gratuito. Grátis para o público. Financiado por impostos. Quanto custaria ao Estado no Brasil oferecer transporte público gratuito? Muito? Sim, mas não mais que uma pequena fração da agiotagem (é agiotagem, sim) que o país paga à banca, aos bancos. A IMORAL e ILEGAL dívida pública.
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Tema importante, Chico. Infelizmente, parece que teremos mais 4 anos de muitos túnei$ e viaduto$. Escrevi no blog Brasília para Pessoas texto sobre o rodoviarismo. Chega de tantas pistas e viadutos. Segue o link:
https://brasiliaparapessoas.wordpress.com/2022/09/29/chega-de-rodoviarismo-por-favor/
Chega de Rodoviarismo, por favor!
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