
Três novas ferrovias privadas estão em fase de execução nas proximidades do Distrito Federal. Duas delas contornarão municípios goianos do Entorno Sul e Oeste, mas não adentrarão o território do DF. A terceira, que terá destino final no Espirito Santo deve ter seu ponto de partida na regional de Santa Maria, provavelmente no Porto Seco, pertinho da divisa com Valáraiso de Goias. Todas as ferrovias focarão apenas o transporte de cargas.
Por Chico Sant’Anna
Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem.
As linhas férreas estão chegando ao Planalto Central, pertinho de Brasília, mas quem quiser “oiá” o trem passando, como recomendou Raul Seixas, em Trem das 7, vai ter que ir até o Entorno. Três novas ferrovias estão surgindo, vão passar pertinho, mas pelo menos duas delas não vão entrar no Distrito Federal, a terceira entra, mas pouco. Só até a divisa do DF com Goiás. Todas as três se destinarão exclusivamente ao transporte de cargas.
Todas elas são de responsabilidade de um grupo econômico, denominado Petrocity, que deseja interligar a região produtora de grãos do Centro-Oeste ao norte capixaba, para ali ser exportada. O grupo econômico se vale do novo marco ferroviário, pelo qual a iniciativa privada define um trajeto desejado para uma nova ferrovia e pede a autorização ao governo para executá-lo.

Ramal Corumbá de Goiás – Anápolis
A autorização de ferrovia mais recente é a que interligará Corumbá de Goiás – distante 124 km de Brasília – a Anápolis, cruzando o município de Abadiânia.
Ainda sem um nome definido, o trecho é tecnicamente classificado como Ramal Ferroviário, seus 68 km servirão para transportar, a partir de julho de 2028, grãos, rochas ornamentais, minerais e carga em geral que possa ser acondicionada em contêineres.
A iniciativa consolida ainda mais a cidade de Anápolis como um hub ferroviário de produtos e mercadorias, interligando o Norte e o Sul do país. É naquela cidade que a Norte-Sul chega do Pará. As estimativas é que serão investidos R$ 423 milhões no Ramal.

EF Planalto Central
Uma segunda ferrovia, a EF 355, projetada pelo mesmo grupo, vai interligar o Norte de Goiás ao Noroeste de Minas. Ela é focada no transporte de soja, milho, cana-de-açúcar, café, cobre, níquel, nióbio, ouro, rochas ornamentais e carne. Denominada Estrada de Ferro Planalto Central, em 530 km, ela conectará Unaí, em Minas Gerais, a Campos Verdes, em Goiás.
Seu trajeto evita Brasília. Poderia passar nas proximidades do PADF, que tem perfil agropecuário. Mas ela contorna o território do Distrito Federal, passando pelos municípios de Cristalina, Novo Gama, Luziânia, Santo Antônio do Descoberto, Alexânia e Corumbá, onde se interligará ao Ramal Ferroviário Corumbá-Anápolis.
De Unai, ela se conectará a outra ferrovia, com destino final no porto de São Mateus, no Espirito Santo.

Brasília-Espirito Santo
A ideia do grupo é criar uma ampla malha ferroviária. Em pontos estratégicos seriam criadas estações de transferência de mercadorias. É o caso de Unaí, que será dotado de equipamento para transferir vagões a outra ferrovia que tem por destino final o Centro Portuário de São Mateus, no Espirito Santo. Dessa forma, produtos da região do Cerrado poderão ser exportados mais facilmente.
Essa outra ferrovia já conta com projeto do mesmo grupo. Trata-se da EF 030. Denominada Estrada de Ferro Juscelino Kubitschek, essa sim sairá de Brasília, mas da beiradinha, provavelmente do Porto Seco, em Santa Maria – divisa com Valparaiso de Goiás -, e após percorrer 1.300 km, chegará ao litoral do Norte capixaba.
ela poderia entrar mais no território candango. Chegando aos Setores de Inflamáveis e de Indústria e Abastecimento. A criação de um hub com o Aeroporto Internacional de Brasília também potencializaria os dois modais.
Esse novo trajeto vai rivalizar diretamente com a Ferrovia Centro-Atlântica, que reúne antigas estruturas da RFFSA, privatizada no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Atualmente, o DF está conectado com São Paulo por meio da FCA, operada por um grupo de empresas, que tem a Vale do Rio Doce como acionista. Os trens que chegam a Brasília trazem essencialmente areia e combustíveis e daqui levam cereais produzidos na região.
Toda essa malha ferroviária, mais o porto no Espirito Santo deve custar R$ 30 bilhões a Petrocity, provenientes da iniciativa privada e gerar mais de cinco mil empregos diretos e indiretos. A expectativa é que, uma vez em operação, ela venha gerar mais oportunidades econômicas numa vasta região que vai desde o Norte-Noroeste do Espírito Santo, passando pelo Sul da Bahia, Vale do Aço, Norte Mineiro, Estado de Goiás e Distrito Federal.
É pena que toda essa malha não cruze efetivamente o terriório do Distrito Federal, nem inclua o transporte de passageiros. Possibilitando o transporte de pessoas e produtos, o projeto certamente traria uma maior integração e desenvolvimento mais harmonioso, em especial aos municípios que formam a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride).
Esse é o momento oportuno para que as autoridades do Distrito Federal tomem a iniciativa de sensibilizar os empresários de forma a fazer com que essas ferrovias adentrem efetivamente o Distrito Federal. O pessoal do GDF não pode ficar parado, vendo o trem passar.