A denominação Gripen é uma referência ao Grifo, animal da mitologia grega, que possui cabeça de águia e corpo de leão. Na antiga Pérsia, os Grifos eram tidos como detentores da capacidade de serem os mediadores entre o céu e a terra e guardiães e protetores contra a calúnia, o mau-olhado e a feitiçaria.

Por Chico Sant’Anna

O Ninho das Águias de Prata se prepara para receber novos moradores. Adquiridos no Governo de Dilma Roussef, os primeiros quatro caças Grippen F-39E passam a voar de forma operacional, dia 19/12, a partir da Base Aérea de Anápolis. A missão: patrulhar os céus do Brasil. Ao pousarem no Planalto Central, os caças suecos dão fim a quase meio século de reinado dos francês Mirage, avião de interceptação, que voa a Mach 2.2, duas vezes a velocidade do som, na defesa do espaço aéreo brasileiro. Foram encomendados 36 à Suécia, a um preço de R$ 4,5 bilhões, incluindo a transferência de tecnologia para o Brasil. A FAB quer ampliar mais aeronaves, mas as prioridades financeiras do novo governo é que darão o ritmo da modernização da esquadrilha.

A Base Aérea de Anápolis, que abriga o 1º Grupo de Defesa Aérea, entrou em operação em 1972, como parte do esforço para implantar um sistema de defesa aérea no país. Os primeiros jatos foram os Mirage III, semelhantes aos utilizados, em 1967, na Guerra dos 8 dias, entre Israel e um grupo de países árabes. Posteriormente, em 2005, foram comprados Mirages 2.000, de segunda mão da Arábia Saudita, e reformados para atuarem no Brasil. Os Mirages eram considerados caças de excelência. Além do Brasil, onde deixaram de operar em dezembro de 2000, países como França, Espanha, Suíça e Israel utizaram-no.

Anápolis foi escolhida por ter a capacidade de colocar os Mirages em segundos sobre o céu de Brasília ou, se necessário, chegar aos rincões da Amazônia, à fronteira Oeste, ou ainda ao Paraná.

Posicionamento estratégico

Com dimensões continentais e orçamento militar historicamente limitado, o posicionamento das bases militares da Aeronáutica escolheu estrategicamente cidades como de Canoas, no Rio Grande do Sul; Santa Cruz, no Rio de Janeiro; e Manaus – já desativado – onde operam veteranos caças F.5 Tiger, usados na Guerra do Vietnam (o Brasil ainda possui umas 50 aeronaves).

No Nordeste, a FAB utilizou durante anos o caça xavante, projeto italiano construído no Brasil, e atualmente os caça-bombardeiro subsônicos AMX, os abelhas, também numa parceria ítalo-brasileira.

Anápolis foi escolhida por ter a capacidade de colocar os Mirages em segundos sobre o céu de Brasília ou, se necessário, chegar aos rincões da Amazônia, à fronteira Oeste, ou ainda ao Paraná. A autonomia de voo era de 1.650 km. Durante 24 horas por dia, todos os dias da semana, um piloto de Mirage sempre esteve de prontidão ao lado de um caça armado pronto para decolar de Anápolis. O Mirage tinha autonomia de voo de duas horas. Ele não foi feito para perseguição – tarefa atribuída as F.5 – ou seja, com um alvo especifico, ele poderia se deslocar até uma hora de voo, mas depois retornar à base. A versão brasileira contava com dois canhões de 30 mm, mísseis ar-ar de curto alcance, mísseis ar-ar de médio alcance, além de variados tipos de bombas.

Toda essa tarefa começa a ser transferida progressivamente aos Grippens, na medida em que forem chegando. Eles também irão substituir os F.5.

Mais modernos e com autonomia de voo de 3.250 km, inauguram, assim, uma nova era da viação militar no Brasil. Os Grippens de Anápolis são considerados os aviões de guerra mais modernos em operação na América Latina.

Ao todo, tem capacidade para portar 5,3 toneladas de armamentos. Seu abastecimento e recarga de munições é feito em solo, em apenas 10 minutos.

Armamento

Podem ser armados com nove mísseis. Ao todo, tem capacidade para portar 5,3 toneladas de armamentos. Seu abastecimento e recarga de munições é feito em solo, em apenas 10 minutos. Eles terão como foco principal interceptar aeronaves intrusas no espaço aéreo do Planalto Central.

Híbrido de água com leão, na antiga Pérsia, os Grifos eram tidos como detentores da capacidade de serem os mediadores entre o céu e a terra e guardiães e protetores contra a calúnia, o mau-olhado e a feitiçaria. Foto de Chico Sant’Anna.

Mediadoderes entre o céu e a terra

O nome dos caças é uma referência ao Grifo, animal da mitologia grega, que possui cabeça de águia e corpo de leão.

Na antiga Pérsia, os Grifos eram tidos como detentores da capacidade de serem os mediadores entre o céu e a terra e guardiães e protetores contra a calúnia, o mau-olhado e a feitiçaria.

A literatura não diz qual era o som emitido pelos Grifos, mas o Grippen, por ser um avião supersônico, ao ultrapassar a velocidade do som, provoca estrondos e se estiver em baixa altura, pode provocar tremores nas paredes, portas e janelas.

Desacostumado, desde sua aposentadoria, a ouvir os estrondos das águias de prata pelos céus de Brasília, o brasiliense terá, agora, que voltar a se acostumar com os novos ruídos e não imaginar que é bomba explodindo.