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Os projetos arquitetônicos de habitação popular em Brasília e Brasil afora, financiados com dinheiro público, são pariformes. Caixotes de concreto: três ou quatro andares, perfilados lado a lado, como uma parada militar. Iniciativas como o Paranoá Parque (foto) caracterizam-se pela falta de criatividade arquitetônica e urbanística e não contribuem para uma melhor convivência social dos novos moradores.
Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entra nela não
Porque na casa não tinha chão
A Casa, de Vinicius de Moraes
Por Chico Sant’Anna
Conta a lenda que Vinicius de Moraes se inspirou em uma residência de Punta del Leste, no Uruguai, a Casapeublo, para compor A Casa. Fosse ela inspirada em projetos habitacionais populares, como os erguidos no Riacho Fundo 2 ou no Paranoá Parque, a falta de criatividade arquitetônica e a monotonia estética certamente teriam que rimar entre si.
Em recente lançamento de moradias do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), o presidente Lula pediu que as habitações populares passassem a contar com varandas. Mas poderia exigir mais. A demanda por varandas é mais do que um acessório estético. Ela serve para a refrigeração natural do ambiente, explicam os técnicos. Outros complementos poderiam trazer mais conforto e serem mais aconchegantes.
Os projetos em Brasília e Brasil afora, financiados com dinheiro público, são pariformes. Caixotes de concreto: três ou quatro andares, perfilados lado a lado, como uma parada militar. Desprezam a experiência de ventilação natural, com o uso de cobogós.
A pintura monocromática, cor de poeira, e a distribuição espacial dos prédios que não forma ambientes fomentadores da convivência dos moradores, ignoram a concepção das superquadras do Plano Piloto, por exemplo.
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Tudo isso causa um choque visual para quem chega nessas comunidades. Dá a sensação de que quem tem menos renda não precisa de uma casa melhor idealizada. Enquanto isso, projetos bem mais criativos, selecionados pelo GDF, dormitam nas gavetas da Codhab.
Este ano, a previsão é de que sejam entregues 3.282 unidades habitacionais no DF, distribuídas por Sol Nascente, Itapoã, Sobradinho, Samambaia e Riacho Fundo II. Um investimento de R$ 550 milhões, parte bancada pelo governo federal, que separou R$ 106 bilhões para o MCMV.
“Coreia”
Moradia popular e criatividade arquitetônica parecem ser antagômicas na visão de empreiteiros e governantes. No início de Brasília, quando se revelou a necessidade de fornecer morada aos trabalhadores de menor renda, criou-se as quadras 400 – até então não previstas no projeto de Lúcio Costa.
Diferentemente das demais superquadras, ali os blocos teriam três pavimentos, sem pilotis, sem elevador ou garagem. A ideia era baratear. Os primeiros blocos, projetados por Oscar Niemeyer, foram chamados de prédios JK.
“Não demorou, JK passou a significar ‘janela e kitnet’, de tão apertados que eram”, relata o professor de História da Arquitetura da UnB, José Carlos Coutinho. Também ganharam a denominação pejorativa de Coreia, pois “ficavam no fim do mundo, eram periféricos”, diz o acadêmico.
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Casa popular precisa ser feia?
Será que casa popular precisa ser feia e desconfortável? Os prédios não podem ser mais harmoniosos, aconchegantes, guardar uma certa identidade individual? Algo que dê orgulho e prazer ao morador.
Uma rápida passagem pelas revistas especializadas ArchDaily e Archello revela projetos criativos em diversos outros países, inclusive com matéria-prima mais adequada aos tempos de aquecimento global.
Para fomentar a convivência, os imóveis são posicionados de forma a criar uma espécie de praça ou parque entre eles. Há equipamentos como toldos, quebra-sol, parapeitos, telhados com beira larga, que propiciam conforto ambiental e quebram a padronização estética.
Em todos os países, a busca por redução de custos é a mesma da existente no Brasil. Mas, nem por isso projetaram caixotes de concreto.
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Não necessariamente
Procuramos as autoridades para responder a pergunta acima. A secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação repassou a responsabilidade para a Codhab. Esta, por sua vez, disse que os projetos são das próprias construtoras.
Mas o Poder Público não poderia criar critérios? Doutor em Desenvolvimento Sustentável, o arquiteto Sérgio Jatobá lembra que “habitação popular não, necessariamente, precisar ter uma arquitetura de má qualidade para ser economicamente viável.
Luiz Eduardo Sarmento, presidente da seção brasiliense do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-DF) explica que quando uma construtora apresenta um projeto à Codhab, o que é avaliado são os dados referentes a acabamento, esquadrias, revestimentos, etc.
“Não há uma análise global do projeto arquitetônico, e sim pontuação por elementos construtivos. Temos uma máxima na gestão pública: quem projetou não deve construir. Esta é uma forma de permitir independência de projeto, já que quem vai construir vai utilizar soluções que são mais vantajosas financeiramente, e não que garantam qualidade arquitetônica”, explica.
Ele recorda que, de 2015 a 2019, a Codhab realizou treze concursos públicos para projetos arquitetônicos habitacionais de interesse social, como o da Quadras 500 Sol Nascente – Trecho 1.
“Um projeto de muita qualidade, inclusive urbana. Conta com um calçadão conectando todos os blocos do conjunto, privilegiando os pedestres e os espaços verdes e arborizados de convívio”.
Dessa época, há, segundo Sarmento, projetos prontos, esquecidos nas gavetas oficiais. E cita o Setor Habitacional Pôr-do-Sol, na Ceilândia. Uma expansão que, praticamente, equivale a um bairro inteiro, composto por edifícios de quatro e três andares, casas sobrepostas e casas térreas, numa configuração que cria espaço de lazer.
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“Com o mesmo custo é possível fugir da homogeneidade tediosa dos conjuntos padrões do MCMV. É possível que sejam mais harmoniosos, com caráter, identidade, assim como implantados de forma mais aconchegante, com arborização, conectados às áreas verdes e arborizadas. Tudo isso sem maiores custos, apenas investindo na escolha do melhor projeto”.
Sarmento informa que a página no site da Codhab que abrigava esses projetos selecionados já nem mais existe. Indagada pela coluna do motivo de os projetos não serem utilizados, a Codhab não respondeu.
Querido Chico, penso que esse princípio de que a baixa renda recebe algo qualquer só pra dizer que lhe foi concedido alguma coisa, vale para a saúde, o transporte público, o ensino público, segurança pública e por aí vai. Ainda é uma visão de um estado que pertence a alguém que concede um benefício mais ou menos a quem não pode pagar – por isso o apelido de corte que a turma da esplanada recebe aqui no DF. Um estado que ainda não sabe que é de todos, ainda acha que tem dono.
Ótimo texto!
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Perfeito!
Bem assim…
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Criatividade, mas de qualidade duvidosa. Podia ser pior, mas podia ser melhor. A grande questão da HABITAÇÃO POPULAR é ter virado um mega-negócio para a indústria da construção civil, que “resolveu o problema” de custos, e que lucra imensamente com as verbas destinadas ao setor. Tanto a Construção civil quanto os governos municipais / estaduais / federal não aceitam sequer a cogitação de ALTERNATIVAS. Parece impossível sair desse JOGO DE CAIXINHAS OU GAIOLAS sem equipamentos públicos de qualidade. é o habitat humano deteriorado pelas políticas públicas. Pior: jamais chamarão para posições de governo quem realmente tem propostas alternativas. JAMAIS.
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Estética nunca foi preocupação dos órgãos públicos pricipalmente aqui no DF. Viadutos horriveis, trincheiras com acabamento em concreto projetado, grama rala e com terra aparente…e por aí vai. Aqui vale o seguinte: “taí a obra e dê graças a Deus…”. Triste e medíocre mentalidade.
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Vou mais longe: além de falta de estética, falta manutenção !
E aí estradas desmoronam com a chuva, cabeças de ponte são arrastadas pelas águas, infiltrações de apartamentos são uma constante novela.
Por isso, ferrovias não são construídas, porque devem ser bem feitas e compactadas continuamente, fugindo ao espectro do dia a dia de obras realizadas pelo Brasi nos últimos anos.
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Excelente crítica!
O modelo pode ser aperfeiçoado, introduzindo-se conceitos das Super Quadras, com áreas verdes, espaços para esporte e lazer, e uma área destinada ao comércio local.As moradias, populares ou não, demandam investimentos de longo prazo de trabalhadores, que anseiam por dignidade e qualidade de vida.
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Cadê a criatividade? Criatividade é somente para as construtura ganharem cada vez mais milhões de reais.
O povo que se lasque, que viva em ‘caixotes’. O importante é apenas a grana que cada vez mais torna empresários bilionários.
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