Por Chico Sant’Anna

Considerado a joia da coroa, ao lado da Caesb, o BRB está à venda. Pelo menos, uma fatia bem gorda dele. Depois de privatizar a Ceb, ampliar o campo de ação do IGES-DF na gestão da Saúde e colocar à venda a Estação Rodoviária, a bola da vez no programa privatista do governo Ibaneis Rocha é o Banco Regional de Brasília. Sem fazer alardes, o processo já está em curso. O banco tornou público que pretende captar R$ 1 bilhão para reforçar seu caixa. Em dezembro do ano passado, chegou a estudar a hipótese de captar o dobro: R$ 2 bilhões.

Para isso, coloca à venda o equivalente a 32,60% das ações. Serão emitidas até 17,5 milhões de ações ordinárias – as que tem direito a voto – e até 100,84 milhões de ações preferenciais para subscrição exclusivamente privada. O Governo do Distrito Federal e o Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal (Iprev-DF), que são hoje os maiores acionistas do BRB com direito a voto, 71,92% e 16,52%, respectivamente; verão sua fatia de controle ser reduzida. Estima-se que a fatia do GDF cairá para 60%.

Liquidação

O preço de cada ação a ser vendida foi fixado em R$ 8,50. Ex-presidente do sindicato dos Bancários do DF, a deputada federal Erika Kokai (PT) estranha esse valor e diz que ele está muito abaixo da cotação de mercado. De fato, o site Ivalor cotava a ação preferencial, em 20/05, em R$ 16,94; e o Infomoney, em R$ 22,32. Já as ordinárias variavam entre R$ 13,00, segundo o Ivalor; e R$ 14,01, pelo Statusinvest. Os atuais acionistas privados do BRB, que controlam cerca de 3,15%, terão prioridade para adquirir novas ações de forma a permitir que a participação proporcional de cada um não seja reduzida. O chamado direito de preferência deve ser exercido até 18 de junho. O mesmo procedimento não será disponibilizado a atores governamentais que já são acionistas. Ou seja, o BRB quer capital exclusivamente da iniciativa privada.

“Para onde vai esse dinheiro todo? Quais serão as carteiras, quais negócios serão contemplados?” – indaga Erika Kokai (PT-DF), vice-líder do governo.

Ao todo, poderão ser emitidas até 118.343.196 novas ações. A venda só será considerada efetiva se pelo menos for comercializado o equivalente a R$ 50 milhões em papéis. Todo recurso aportado na operação entrará para o caixa do BRB. Essa é outra preocupação de Kokai: a falta de clareza sobre o destino, o uso que esse montante de R$ 1 bilhão terá. “Quais serão as carteiras, quais negócios serão contemplados?” – indaga a parlamentar, vice-líder do governo. À coluna, o BRB informou que o capital privado adicional será utilizado para impulsionar a expansão do BRB, em especial, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. “Fortalecendo a presença do Banco em mercados-chave e aumentando a acessibilidade dos serviços financeiros nessas áreas. Além disso, os recursos serão aplicados no crescimento das carteiras de crédito comercial, imobiliário, rural e de financiamento à infraestrutura” – informou o Banco a essa coluna.

Com 7,8 milhões de clientes, O Banco de Brasília foi classificado, em 2018, como a 34ª instituição bancária do país, segundo o site especializado em análise bancária Econoinfo. Sua atuação é focada no DF e Entorno, mas possui agências no Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Bahia e Paraíba.

Igualmente publicado na coluna Brasília, por Chico Sant’Anna, do semanário Brasília Capital.

Desejo antigo

Essa não é a primeira vez que o governo Ibaneis busca vender parte do BRB (vide matérias nos links acima). Em setembro de 2019, o presidente do banco, Paulo Henrique Costa, disse que buscava vender 27% das ações da instituição financeira. Em dezembro de 2020, o Conselho de Administração do Banco autorizou os estudos para implementar o “follow-on” – oferta de ações visando levantar capital adicional. O BRB afirmou que essa iniciativa está dentro dos limites previstos no Estatuto Social do Banco, que obriga o GDF a deter 51% do controle acionário. Analistas de mercados não acreditam que um grande grupo financeiro venha adquirir sozinho essa fatia de quase a terça parte do capital. A leitura é que um grupo financeiro só faria esse aporte se viesse a ter poderes para definir os rumos do BRB.

Kokai está preocupada com a gestão do Banco do Brasília, diz que ele vem vendendo carteiras de crédito consideradas boas e ficando com as que apresentam maior inadimplência. “Outro ponto que suscita indagações é o do custo benefício com a tão propalada parceria com o Flamengo”. Em dezembro passado, ela procurou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Externamos as preocupações derivadas de querelas intensas na imprensa, pedidos de informação ao banco pela própria CVM e questões oriundas de dentro da corporação. Sem falar das seguidas retificações de balanços contábeis-financeiros, retificações estas não usuais ao sistema bancário. Também houve atraso na publicação de balanços” – afirmou.