A imprensa não está falando muito (será porque?), mas a costa da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, está diante do que pode ser o maior acidente ambiental da indústria petroleira do país. Um poço de exploração de petróleo operado pela multinacional Chevron-Texaco provocou um vazamento de petróleo bruto, num volume estimado entre 400 a 650 barris por dia. Cada barril equivale a, aproximadamente, 160 litros.

A empresa diz que o acidente se deve a uma falha geológica no fundo do mar – eles não fazem estudos de sondagens preliminares? – e que ele não seria de grande proporções, mas analistas dizem exatamente ao contrário. O óleo vazado até a segunda-feira 14/11 deve representar 1,6 milhões de litros e a mancha que já se formou teria área de, aproximadamente, 163 quilômetros quadrados (163 km² = 163 milhões de metros quadrados), área equivalente à metade da Baía de Guanabara.

Fenômeno natural

Tentando disfarçar a gravidade do problema, a reponsável pela Comunicação Social da Multinacional, Heloisa Marcondes, chegou ao rídiculo de afirmar que vazamentos de petróleo no leito do oceano são “normais” na Bacia de Campos. Tudo não passaria de um “um fenômeno natural” – informa a Agência Estado.

As duas fotos acima, publicadas pelo blog SkyTruth , especializado em interpretação de foto de satélites com fins ambientais, mantido pelo geógrafo John Amos, registram em dois momentos o que é identificado como sendo a mancha de óleo provocada pelo vazamento no poço da Chevron-Texaco e que está sendo mantido na sombra pela imprensa.

As fotos vieram a público pelo blog do deputado Brizola Neto que chegou até elas pela dica do leitor Henrique, que se mostrou mais eficiente que toda a imprensa brasileira reunida.

Ainda não vieram a público imagens do local. Será que ninguém tem uma máquina fotográfica, uma filmadora, um reles celular que tire fotos. Internet, então, nem pensar. As televisões têm helicópteros para cobrir a invasão teatralizada da Rocinha, mas não tem para fazer um sobrevôo no litoral fluminense. Será que vamos ter que esperar que coloquem uma mensagem na garrafa, para que a nossa imprensa publique algo além de notas oficiais?

O poço está situado no Campo de Frade, a 370 Kms da costa do Rio de Janeiro, em uma profundidade de 1,2 mil metros. O campo possui uma reserva estimada em 200 milhões a 300 milhões de barris de petróleo. A Chevron possui uma participação de 51,7% em Frade, a Petrobras tem 30% e o resto pertence ao consórcio japonês Frade Japão Petróleo. Segundo os press releases distribuídos pela multinacional, há 18 navios trabalhando no combate ao vazamento – oito da Chevron e outros dez cedidos por Petrobras, Statoil, BP, Repsol e Shell.

Para o parlamentar pedetista, “devem ser navios-fantasmas, como é a direção da Chevron. Não têm nome, não têm comandante, não tem tripulação, não têm coordenadores. Não há uma pessoazinha que seja, com nome e sobrenome, que diga: ‘olha, as coisas aqui estão assim ou assado’.”

Ainda não vieram a público imagens do local. Será que ninguém tem uma máquina fotográfica, uma filmadora, um reles celular que tire fotos. Internet, então, nem pensar. Será que vamos ter que esperar que coloquem uma mensagem na garrafa, para que a nossa imprensa publique algo além de notas oficiais?

A Agência Nacional do Petróleo já mandou fechar o poço, tapar a boca dele com concreto, mas há quem tema que a tarefa seja tão difícil de ser realizada, quanto o foi recentemente no Golfo do México. O plano prevê, na primeira etapa, o uso de lama pesada para “matar” o poço. Depois, o poço será cimentado para fechar o vazamento de forma definitiva.

Enquanto a norte-americana é responsável pelo o que deve via a ser o maior desastre ambiental da indústria petrolífera no Brasil, os Estados Unidos pressionam o Brasil para que flexibilize as exigências nas explorações de petróleo em território nacional, abrindo ainda mais as portas aos norte-americanos.

Luiz Nassif informa em seu blog que o governo americano está questionando as exigências de conteúdo local nos projetos de exploração de petróleo no Brasil. “Nós dissemos a autoridades brasileiras que exigências excessivas de conteúdo local podem impedir a exploração eficiente de petróleo e gás e eventualmente reduzir a capacidade para extração segura”, disse Roberta Jacobson, nova secretária-assistente de Estado para o hemisfério Ocidental, mais alto posto diplomático dos EUA para a região.

Nas licitações para exploração de petróleo e gás natural realizadas pela ANP, o porcentual exigido de conteúdo fornecido por empresas brasileiras chega a ultrapassar 65%. “Vou transmitir ao governo brasileiro nossa visão de que a participação de várias entidades, inclusive empresas americanas, será importante para o sucesso a longo prazo da indústria de petróleo e gás no Brasil”, afirmou Roberta ao senador republicano Richard Lugar.

Para quem não conhece a história das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, é bom lembrar que antes do governo Getúio Vargas decidir pelacriação da Petrobrás, Tio Sam mandou aqui seus técnicos e geólogos que atestaram categoricamente que no Brasil não existia petróleo.