Os movimentos ambientalistas também querem debater a possibilidade da área ser transformada em uma unidades de conservação. “Ao longo de décadas Brasília viu as suas águas serem sufocadas e cobertas de cimento e aço. A criação de bairros mal planejados acumula um legado de inundações e escassez de água, uma estranha combinação de tragédias provocadas pela ação desordenada de interesses econômicos que desprezam o equilíbrio ambiental” – registra a convocatória da audiência.

Por Chico Sant’Anna

A Serrinha do Paranoá virou assunto federal. Segunda-feira, 29/8, a Câmara dos Deputados sedia uma Audiência Pública no Congresso Nacional, promovida pela Comissão de Legislação Participativa, para debater a situação fundiária daquela área, que fica no Lago Norte. Em pauta, três temas:  a sensibilidade ambiental da Serrinha, os projetos imbobiliarios e de mobilidade propostos pelo GDF, e seus impactos na região e a Regularização das áreas rurais e urbanas já ocupadas.

Os movimentos ambientalistas também querem debater a possibilidade da área ser transformada em uma unidades de conservação. “Ao longo de décadas Brasília viu as suas águas serem sufocadas e cobertas de cimento e aço. A criação de bairros mal planejados acumula um legado de inundações e escassez de água, uma estranha combinação de tragédias provocadas pela ação desordenada de interesses econômicos que desprezam o equilíbrio ambiental” – registra a convocatória da audiência.

O Plano Piloto - ao fundo na foto - é um dos beneficiários da água proveniente da Serrinha que é captada pela Caesb no Lago Paranoá.

Fonte hídrica estratégica

Segundo o ex-administrador do Lago Norte, Marcos Woortmann, Brasília já depende das águas emandas da Serrinha, cujos córregos desembocam no Lago Paranoá. Ele lembra que o Paranoá passou a ser fonte de abastecimento de água quando a cidade enfrentou grave crise hídrica entre 2016 e 2018. “São dos nove córregos da Serrinha que provêm cerca de 40% da água limpa que chega ao Lago Paranoá” – pontua ele.

“Em Brasília ainda há resistência! Na região da Serrinha do Paranoá, onde o Estado é omisso, é a comunidade quem preserva e cuida da natureza. São mais de 100 nascentes mapeadas pela comunidade, revelando uma notória sensibilidade ambiental da região, inclusive confirmada pelo Zoneamento Ecológico e Econômico, de 2019. E é nessa área, fonte de água, equilíbrio climático, produção agrícola orgânica e contato com a natureza para os moradores de Brasília, que se pretende implantar empreendimentos que irão impactar e transformar radicalmente a região. Além disso, se anunciam sérios riscos relacionados à perda de Cerrado nativo, erosão e contaminação do solo, e, principalmente, impactos irreversíveis às áreas de recarga de aquífero.

A audiência é uma iniciativa da deputada Érika Kokay (PT). Simultaneamente, ongs e movimentos ambientalistas estão recolhendo assinaturas para um abaixo assinado na internet. Para assinar, basta clicar aqui.

A Serrinha do Paranoá é um imenso cinturão verde que abriga cerca de 100 nascentes já catalogadas. A cobiça governamental e da especulação imobiliária na área é grande. Foto da Serrinha do Paranoá, vista da Torre Digital.

O texto de apresentação do abaixo assinado, intitulado Manifesto pela preservação da Serrinha do Paranoá e pelo futuro de Brasília, salienta que preservar o Cerrado, proteger as nascentes e evitar a erosão do solo são necessidades urgentes!

A Serrinha, produtora de água para todos, precisa ser protegida! Brasília não pode testemunhar nenhum novo projeto imobiliário que represente a devastação do Cerrado e o fim de mais de 100 nascentes e inúmeros cursos d’água essenciais ao abastecimento de água de toda a população brasiliense.

Brasília precisa das águas da Serrinha e não de novos empreendimentos imobiliários cimentando nascentes. Preservar a Serrinha do Paranoá é garantir o futuro de Brasília!” – diz o manifesto.