Por Chico Sant’Anna

Desde a campanha eleitoral de 2010, quem ouvisse as promessas do atual governador Agnelo Queiroz só poderia pensar que ele seria um milagreiro, pois prometia arrumar a saúde em 90 dias, reduzir a violência urbana, botar a casa em ordem, deixar tudo tinindo em curtíssimo espaço de tempo.

Agnelo conseguiu fazer o Balão do Aeroporto evaporar e no lugar dele surgir uma trincheira para que as delegações da Fifa não enfretem trânsito. Foto: Chico Sant’Anna

Agora, descobre-se que o governador está mais para mágico do que operador de milagres. Mágico daqueles que fazem desaparecer ou transformar os objetos. Agnelo com um passe de mágica conseguiu fazer desaparecer o Balão do Aeroporto, fez evaporar o VLT e tornou invisíveis as linhas 2 e 3 do metrô do Distrito Federal.

No caso mais recente, parece que é o suado imposto recolhido pelos contribuintes – que por sinal estão pagando este mês elevados IPTUs e IPVAs – que se evapora no ar. Com origens no marxismo, ele deve acreditar na máxima de Karl Marx, de que tudo que é sólido se desmancha no ar.

O desmanche a que nos referimos é o uso de recursos destinados à Saúde, Segurança e Educação públicas para cobrir despesas e mais despesas das Copas do Mundo e das Confederações para agradar a FIFA. É bom ter sempre em mente, que na Capital da República haverá um único jogo pela Copa das Confederações.

Ao longo de toda a administração Agnelo/Filippeli, as licitações promovidas pelo GDF foram alvos de críticas do Tribunal de Contas do DF. Em muitas delas foram identificados indícios de superfaturamento e editais tiveram que ser refeitos. Isso ocorreu na aquisição das placas de sinalização do estádio, no telão do placar e em tantas outras coisas, que o cidadão comum até se perde.

Tantas foram as irregularidades apontadas pelos auditores do TCDF, que o GDF fez uma mágica internacional. Firmou um convênio com um organismo das Nações Unidas, responsável por estimular políticas de desenvolvimento, o Pnud, e o transformou numa espécie de “laranja” para que este comprasse uma série de serviços e equipamentos necessários à abertura da Copa. Em se tratando de um organismo internacional, com imunidade semelhante a de uma representação diplomática, as aquisições via Pnud ficariam longe das fiscalizações do tribunal de contas.

A mais nova mágica da administração de Mister M, digo, Mister Agnelo, é fazer com que um produto que custa em média, menos do que R$ 20,00 tenha seu preço aumentado para R$ 314,00. Isso mesmo, segundo a rádio CBN e o portal R7, uma capa chuva laminada e forrada com PVC no tamanho G pode ser comprada no varejo de São Paulo por R$ 15. Se o tamanho for GG, sai por R$ 17. Aqui em Brasília, mesmo em se tratando de uma hiper compra de 17 mil capas de chuvas – que normalmente faria o valor cair ainda mais -, o preço, por um toque de mágica, subiu para R$ 314,00. Preço final da bagatela: R$ 5,350 milhões.

Detalhe: o GDF, segundo a rádio CBN, pretende investir em capas de chuvas cinco vezes mais do que o total previsto para a compra de armamento para a Polícia Civil, estimado em pouco mais de R$ 1 milhão.

O valor destas capas, que se não forem de mágicas, devem ser iguais ao do Batman ou do Super-homem, permite comprar 25, dos 36 ônibus Marcopolo, que o GDF precisa comprar para a Polícia Militar atuar na Copa.

Coletes

Além das capas de chuva, o GDF pretende gastar R$ 4,426 milhões na aquisição de coletes refletivos. Considerando um colete para cada PM da cidade, teríamos um valor médio de R$ 260,00.Na internet os preços variam, dependendo do modelo, de R$ 19,00 a R$ 99,00, cada colete.

A verba para estas compras é toda proveniente do Fundo Constitucional do Distrito Federal, verba repassada pela União para cobrir as despesas com Educação, Saúde e Segurança públicas, em especial os salários dos servidores destas mesmas áreas. Em outras palavras, nas mágicas orçamentárias, o GDF está pegando recursos destinados a melhoria de setores sensíveis da Capital Federal e aplicando-o para atender às exigências da FIFA.

É de se ressaltar, ainda, que o GDF está contratando via Pnud – aquela licitação que não passa pelo crivo do TCDF – serviços de segurança privada e de brigadistas contra incêndio. Será que as empresas fornecedoras de tais serviços não possuem os uniformes – e as capas – adequados à tarefa?

Seca

É necessário destacar que as capas estão sendo adquiridas para proteger nossos agentes públicos num período de seca. A Copa do Mundo será realizada entre os dias 12 de junho e 13 de julho. A Copa das Confederações terá um único jogo em Brasília, também no período da seca, dia 15 de junho.

Como já dito, as despesas são cinco vezes maiores do que o empregado na compra de armamento para a Polícia Civil. Só as capas, representam quase 10% de todos os gastos em segurança pública para as duas Copas, orçado em cerca de R$ 60 milhões.

Com tantos treinamentos dos nossos agentes de segurança no exterior, é possível que o brasiliense não esteja devidamente informado e que haja algum tipo de luta marcial secreta, que use a capa de chuva, em período de seca, como instrumento de combate ao terrorismo ou aos hooligans, a violenta torcida inglesa. Quem sabe, elas não podem ser usadas também como camisa de força. Neste caso para acalmar o contribuinte enlouquecido com tanto desmandos com as verbas de seus impostos.

Ou será, então, que a mágica do GDF será fazer chover na seca? Mas para isso, a turma do GDF vai ter que aprender a dança da chuva. Do contrário, é melhor Agnelo torcer que as capas da PM sejam igual a do Hary Potter e seja capaz de torná-lo invisível perante o público.