Que sigam vencendo as forças que lutam por justiça social, pela reafirmação dos direitos à saúde, educação, emprego, renda, pelo acesso aos benefícios gerados pela tecnociência, pela construção de uma nação unida em sua diversidade, radicalmente democrática livre e soberana, que ofereça os meios que facilitam a cada um de seus filhos e filhas os meios para que encontrem felicidade. Foto de Chico Sant’Anna

Por Fátima Sousa*

2023 já chegou cheio de esperanças. Esperanças de que possamos dar passos fortes e decididos na direção de um Estado mais democrático e mais acolhedor, de uma gestão mais responsável, de uma política mais justa. Afinal, o que o povo brasileiro venceu nestas últimas eleições foi uma governança de trevas, uma espécie de perversão ideológica, sustentada no ódio e na violência, que costumamos chamar de fascismo.

Assim esperamos que, mesmo com as imperfeições e erros da política e dos políticos, nesse próximo período correspondente a essa nova volta completa que o mundo terá que dar em torno do sol, sigam vencendo as forças que lutam por justiça social, pela reafirmação dos direitos à saúde, educação, emprego, renda, pelo acesso aos benefícios gerados pela tecnociência, pela construção de uma nação unida em sua diversidade, radicalmente democrática livre e soberana, que ofereça os meios que facilitam a cada um de seus filhos e filhas os meios para que encontrem felicidade. Pois é isso, que ao fim de tudo, nós, os seres humanos, esperamos: ser felizes.

Importante também é lembrarmos que esses desejos não podem perder-se no turbilhão de sofrimentos e dores provocados pelo quadro sombrio do extermínio dos jovens negros na periferia da cidade e dos povos originários na periferia do campo; as humilhações diárias vividas pelas mulheres negras; o crescimento do feminicídio e dos homicídios homofóbicos; a destruição de nossos ecossistemas, o aumento exponencial da fome, o mais indigno dos sofrimentos humanos. Por isso, não adianta apenas desejar um ano mais feliz, é preciso ajudar a construí-lo. E ajudamos, cada vez que não silenciamos diante da corrupção, da opressão, da injustiça, cada vez que temos disposição para participar das movimentações civis em direção à defesa da democracia e dos direitos sociais e ambientais, cada vez que transferimos para nossos ofícios, para nossos afazeres diários os valores que sustentam a democracia, os direitos humanos e a proteção ambiental. Assim, não só as leis da atração entre os corpos celestes definirão o que será o ano de 2023. Afinal, a história não é feita de um ano novo após o outro, a história é feita por aquilo que, como povo, nós fazemos a cada novo ano.

* Enfermeira sanitarista, professora associada do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Doutora honoris causa pela Universidade Federal da Paraíba e pós-doutora pela Université du Québec à Montréal.